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COP-27: Como estão as negociações na metade da Conferência do Clima?

Cúpula das Nações Unidas chega em semana decisiva com dúvidas sobre relação EUA-China e dificuldades em destravar modelo de financiamento de adaptações ao aquecimento global

13 nov 2022 - 05h10
(atualizado às 10h10)
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Foto: Poder360

As negociações climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU) em Sharm el-Sheik, no Egito, estão na metade do caminho. Os negociadores trabalham para pressionar por um acordo substancial para combater as mudanças climáticas antes de os ministros chegarem, nesta semana.

Cientistas dizem que a quantidade de gases de efeito estufa despejados da atmosfera precisa ser reduzida pela metade até 2030 para cumprir as metas do acordo climático de Paris. O pacto de 2015 estabeleceu uma meta ideal de limitar o aumento da temperatura mundial a 1,5°C) até o fim do século, mas deixou para os países decidirem como querem fazer para alcançar essa meta.

Veja abaixo algumas das principais questões que serão discutidas na COP-27:

EUA e China?

O principal negociador dos EUA sugeriu uma reunião planejada para segunda-feira, 14 entre os presidentes Joe Biden, dos EUA e Xi Jinping, da China. A reunião do Grupo dos 20, em Bali, também poderá dar sinais importantes para as negociações sobre o clima à medida em que avançam para a reta final. Com os impactos das mudanças climáticas, já sentidos em todo o mundo, as pressões para que os países ricos mais poluentes gastem mais dinheiro para ajudar os países em desenvolvimento a gerar energia limpa e se adaptar às consequências do aquecimento global tem aumentado. Cada vez mais, os protestantes estão apelando para que haja uma indenização para que os países ricos paguem pelas perdas relacionadas ao aquecimento global. A China é de longe o país mais poluente do mundo atualmente, mas os EUA ganha como emissor de poluição histórico ao longo do tempo.

Embora todos os países sejam considerados iguais na reunião da ONU, na prática, pouco é feito sem a aprovação dos dois maiores emissores do mundo, China e Estados Unidos. Pequim cancelou diálogo formal sobre o clima após a visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados americana, a Taiwan. As relações esfriaram desde então. O enviado do clima dos EUA, John Kerry disse no sábado, que ele só havia realizado reuniões informais com seu colega chinês, Xie Zhenhua. "Acho que estamos ambos esperando para ver como as coisas vão com o G-20 e espero que possamos retornar", disse aos repórteres.

Exportadores de petróleo

Um grupo de países emergentes, exportadores de petróleo e gás, recuou contra manter o aquecimento global a menos de 1,5 graus Celsius. O Egito, que preside as conversações, convocou uma reunião de três horas no sábado, onde a questão foi levantada várias vezes. "1,5°C é uma questão substantiva", disse Wael Aboulmagd, negociador egípcio sênior, acrescentando que "não foi apenas a China" que levantou questões sobre a linguagem usada para se referir a meta. Ainda assim, ele tem esperança de encontrar uma maneira de garantir o "avanço máximo possível" na redução de emissões até o encerramento da reunião.

Como medir as promessas de cortar emissões?

Os negociadores estão tentando montar um programa de mitigação que capture as diferentes medidas com as quais os países se comprometeram a reduzir emissões, inclusive para setores específicos, como energia e transporte. Muitas dessas promessas não são formalmente parte do processo da ONU, o que significa que não podem ser facilmente escrutinados na reunião anual. Um projeto de acordo circulou sábado de manhã, onde tinham mais de 200 colchetes, o que significa que grandes seções ainda não estão resolvidas. Alguns países querem que o plano seja válido apenas por um ano, enquanto outros dizem que é necessário um roteiro de longo prazo.

Evitar combustíveis fósseis

A reunião do ano passado quase fracassou devido à exigência de um acordo final para que o carvão seja eliminado. No final, os países concordaram em várias brechas, e há preocupações entre ativistas climáticos de que os negociadores de nações dependentes de combustíveis fósseis tentem trazer de volta compromissos anteriores.

Dinheiro importa

Os países ricos não cumpriram a promessa de mobilizar US$ 100 bilhões por ano até 2020 no financiamento climático das nações pobres. Isso abriu brecha de desconfiança em novas promessas. Conforme as necessidades das nações mais pobres crescem, uma nova meta, ainda mais alta, precisa ser definida a partir de 2025. Aminath Shauna, ministra do Meio Ambiente das Maldivas, disse que sua ilha precisará de US$ 8 bilhões para adaptação da costa. E mesmo esse valor pode não ser suficiente, se o nível do mar subir muito. "É muito desanimador ver que pode ser tarde demais para as Maldivas, mas ainda precisamos resolver (a questão das finanças)", disse.

Compensações climáticas

O tema da compensação climática já foi considerado tabu, devido a preocupações de países ricos em desembolsarem grandes somas. Mas a intensa pressão dos países em desenvolvimento forçou a questão de ``perdas e danos'' pela primeira vez este ano na agenda formal das conversações. Se haverá acordo para promover mais trabalho técnico ou a criação de um fundo real ainda está por vir. Kerry disse que os EUA esperam conseguir um acordo ``antes de 2024?, mas sugeriu que isso pode não acontecer no Egito.

Ele deixou claro onde está a linha vermelha dos EUA para Washington: "Os Estados Unidos e muitos outros países não vão estabelecer uma estrutura legal que seja vinculada a compensação ou responsabilidade". Isso não significa que o dinheiro não fluirá, eventualmente. Mas pode ser rotulado como ajuda, vinculada a fundos existentes e exigir contribuições de todos os principais emissores para que seja aprovado.

Mais doadores

Uma maneira de arrecadar dinheiro adicional e resolver a espinhosa questão do pagamento do poluidor seriam os países que passaram por um boom econômico nas últimas três décadas colaborarem. O foco está principalmente na China, o maior emissor, mas outros países podem ser solicitados a abrir os cofres também.

Esperança até o fim

Jennifer Morgan, ex-chefe do Greenpeace que recentemente se tornou a enviada do clima da Alemanha, chamou as negociações deste ano de "desafiadoras". "Posso prometer que trabalharemos até o último segundo para garantir que possamos alcançar um resultado ambicioso e equitativo", disse ela. "Estamos alcançando as estrelas, mas mantendo os pés no chão".

Estadão
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