Desperdício de alimentos agrava problema do lixo em grandes cidades
Enquanto a fome ainda afeta uma em cada oito pessoas no mundo, um terço do que se produz não chega à mesa e engrossa o volume de lixo orgânico ainda sem destinação adequada. Campanha da ONU quer mudar panorama
Todos os anos, 7 milhões de toneladas de frutas e quase 6 milhões de toneladas de hortaliças produzidas no Brasil se perdem no caminho entre o campo e o consumidor final. Os dados são do setor de Agroindústria de Alimentos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e refletem um problema de escala planetária.
No mundo, 1,3 milhão de toneladas de alimentos são perdidas ou desperdiçadas todos os anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (ONUAA). Ao mesmo tempo em que a comida que se perde faz falta no prato de muitos – uma em cada oito pessoas passa fome no planeta – o desperdício contribui para agravar um outro tipo de problema: a produção de lixo urbano.
Uma campanha do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) em parceria com a ONUAA quer promover uma mudança global de hábitos relacionados ao desperdício de alimentos. O assunto é o tema central das ações em torno do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quarta-feira. O programa “Pensar. Comer. Conservar.” sugere um planejamento melhor do consumo de comida e assegura que um terço de tudo o que se produz no mundo vai parar no lixo.
Os números brasileiros são, na verdade, apenas projeções da Embrapa. O químico Antonio Gomes Soares, doutor em Ciência dos Alimentos, conta que uma pesquisa feita entre 1997 e 2000 identificou os percentuais de perda na cadeia produtiva de frutas (30%) e hortaliças (35%), que geram estimativas sobre a produção atual no setor. Mas esses cálculos levam em conta apenas o que acontece antes de os alimentos chegarem ao consumidor final. Depois da compra no varejo, não existe qualquer projeção.
Faltam detalhes
Apesar da falta de números precisos, a experiência de quem trabalha com o outro lado do processo permite uma avaliação dos hábitos brasileiros. O vice-presidente da Associação Brasileira de Limpeza Pública (ABLP), João Gianesi, há 33 anos no mercado de resíduos urbanos, diz que existe uma presença alta de restos da preparação de alimentos e de perdas de alimentos já preparados na composição da parcela orgânica do lixo do país, embora não existam estudos que apontem com exatidão essas quantidades.
“A cultura brasileira não é dimensionada no efetivo consumo”, comenta, sugerindo que, no Brasil, compra-se mais do que se consome de fato.
A Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento em Resíduos da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza (Abrelpe), Adriana Ferreira, confirma que não se pode precisar o que compõe exatamente o lixo orgânico urbano no Brasil.
Além da falta de estudos, afirma, a diversidade cultural do país influencia na composição. O que ela assegura com certeza é o volume: 51,4% das 62 milhões de toneladas de lixo urbano produzidas anualmente no Brasil são resíduos orgânicos. Dados do vice-presidente da ABLP deixam clara a responsabilidade individual nessa cifra: “Em média, cada brasileiro produz por dia entre 750 gramas e um quilo de lixo doméstico.”
Até animais vivos em chaveiros: veja danos do homem ao meio ambiente
Mulher posa com tartarugas carregadas vivas em pequenos sacos plásticos que comprou em Pequim. Cada bolsa dessas, preenchida com oxigênio e um líquido nutritivo, pode manter o animal alimentado durante dois meses
Foto: Reuters
Na China, chaveiros com animais vivos são vendidos ao ar livre. Os chineses acreditam que esse tipo de acessório funciona como um "amuleto da sorte"
Foto: AP
Até tartarugas do Brasil são encontradas nos chaveiros. Cada bolsa dessas, preenchida com oxigênio e um líquido nutritivo, pode manter o animal alimentado durante dois meses
Foto: AP
Peixes, tartarugas e salamandras são dispostas para venda em distrito de compras na capital chinesa. Não há nenhuma lei que proíba a prática
Foto: AP
Grupos de ativistas tentam impedir a prática, que se utiliza de uma brecha na legislação - a lei abrange apenas animais selvagens nativos da China
Foto: Reprodução
No Canadá, a caça às focas é uma das práticas que mais sofrem protesto de ativistas
Foto: AFP
Uma das espécies mais ameaçadas de extinção no planeta, o tigre sofre com a caça e a perda de habitat. Estudo indica que mais de mil partes desses animais - cabeças, ossos, pele e outros - foram apreendidos na última década na Ásia. A maior rota de tráfico é entre a Índia e China (onde são vendidos como alimento e na medicina tradicional)
Foto: AP
A caça ocorre na primavera do hemisfério norte, quando os animais migram da Groenlândia para a costa do país para dar à luz. A foca harpa (Pagophilus groenlandicus), apesar de não sofrer risco iminente de extinção, está na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês)
Foto: AFP
Em 2010, o governo autorizou a caça de 380 mil focas. A União Europeia e os Estados Unidos proíbem a venda de produtos de foca, e a Rússia vetou a caça desses animais
Foto: AFP
Este tubarão-baleia de 6 metros e 3 toneladas foi vítima de pescadores na China
Foto: Reuters
O animal morreu ao ficar preso em uma rede de pesca
Foto: Reuters
Segundo a organização WWF, o tubarão-baleia é um animal gentil e que corre risco de extinção por causa da pesca comercial
Foto: Getty Images
Imagens divulgadas no dia 22 de fevereiro de 2012 mostram uma fazenda na China onde os ursos são mantidos em cativeiro para a retirada da bile
Foto: AFP
A bile do urso é muito usada pela milenar medicina chinesa para tratar problemas no fígado
Foto: AFP
Os ursos ficam presos em pequenas jaulas
Foto: AFP
A onça-parda Anhanguera foi atropelada na rodovia de mesmo nome em setembro de 2009
Foto: Divulgação
O animal se recuperou totalmente e, no início de 2011, passava por processo de readaptação à natureza
Foto: Divulgação
Não será possível soltar o animal nas proximidades do local onde foi capturado porque aquela área sofreu intensas modificações com a urbanização
Foto: Divulgação
A onça-parda (Puma concolor) é também chamada de puma e suçuarana, entre outros nomes
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O puma também aparece na Lista Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção da IUCN
Foto: Divulgação
Dois rinocerontes tiveram seus chifres removidos no Kragga Kama Game Park, em Port Elizabeth, na África do Sul
Foto: Barcroft Media / Getty Images
Apesar de parecer ruim, a medida foi necessária para salvar a vida dos rinocerontes
Foto: Barcroft Media / Getty Images
Os chifres foram removidos para impedir que os animais continuem sendo alvo de caçadores
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Os efeitos da remoção do chifre na vida dos rinocerontes são incertos, mas donos de reservas veem isso como a única forma de impedir a matança
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Pelo menos 71 rinocerontes já morreram por causa da caça ilegal na África do Sul só neste ano
Foto: Barcroft Media / Getty Images
Foi utilizada uma serra elétrica no procedimento de remoção dos chifres
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Em 2010, 333 rinocerontes foram mortos por caçadores ilegais
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O procedimento de remoção não causa dor aos animais, pois o corte é feito alto o suficiente para não prejudicar nenhum nervo
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Os rinocerontes recebem chips, que são colocados no topo do chifre cortado
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O chip permite que os proprietários da reserva possam encontrar os rinocerontes em seus 250 hectares de terra
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A equipe utilizou tranquilizantes para acalmar os rinocerontes, duas fêmea de 12 e 4 anos de idade
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Os chifres dos rinocerontes são vendidos no mercado negro e utilizados como ornamento para algumas culturas e para uso medicinal
Foto: Barcroft Media / Getty Images
Os rinocerontes habitam as savanas e florestas tropicais da África e Ásia
Foto: Barcroft Media / Getty Images
Filipinas - Um peixe morto é visto boiando nas águas da baía de Manila, em Taguig
Foto: Reuters
China - Um homem enche um recipiente com água de um canal poluído em Beijing
Foto: Reuters
Vietnã - Mulher remove lixo de um rio poluído em Hanói
Foto: Reuters
Iraque - Garotos se reúnem em uma ponte sob um canal poluído na cidade de Basra
Foto: AFP
China - Homem toma banho de Sol em praia poluída de Qingdao
Foto: AFP
Rio de Janeiro - Homem tenta pescar siris nas águas da baía da Guanabara
Foto: AFP
Golfo do México - Navios conduzem incêndios controlados em manchas de óleo, em 2010
Foto: AFP
Estados Unidos - Plantas ficam cobertas de óleo em pântano da Louisiana
Foto: AFP
Indonésia - Crianças brincam em rio em Jacarta
Foto: AP
África do Sul - Crianças jogam resíduos em canal da Cidade do Cabo
Foto: EFE
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Tratamento ineficaz
A representante da Abrelpe explica que, atualmente, 58% do lixo recolhido recebem uma finalização adequada. Ou seja, vai para aterros sanitários que cumprem a legislação. No entanto, outros 42% – o correspondente a 26 milhões de toneladas de lixo por ano – ainda são depositados em lixões, sem qualquer tipo de tratamento ou cuidado.
A engenheira química conta que ainda não há no país uma cultura efetiva de separação do lixo, e cabe aos municípios incentivarem essa prática. Ela lembra que a Política Nacional de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, prevê uma hierarquia para o tratamento do lixo– redução, reutilização, reciclagem e tratamento – e quem não se adequar pode sofrer sanções a partir de 2014.
“Com isso, apenas os rejeitos, aquilo que não pode ser mais usado para nada, seriam levados aos aterros”, esclarece Ferreira.
O cenário, no entanto, não parece propício para mudanças extremas a curto prazo. “O mínimo que as pessoas podem fazer é separar o lixo seco do orgânico”, sugere Gianesi, da ABLP.
Adriana Ferreira acrescenta que existem iniciativas positivas para reaproveitar o material reciclável, mas pouco se fala sobre o material orgânico, maior parte de todo o lixo: “Compostagem praticamente não existe e ainda não há tratamento térmico pra lixo urbano no Brasil.”
Planejamento como saída
Sem soluções imediatas para tudo que o brasileiro coloca na lixeira, Gianesi sugere mais cuidado na hora da compra. A Comissão Europeia também tem conselhos e elaborou uma cartilha para prevenir o desperdício de comida no velho mundo. Mas as dicas servem também para os brasileiros. Planejar as compras, organizar a geladeira, preferir alimentos a granel – vendidos na quantidade desejada, reutilização dos restos e compostagem das sobras estão entre as sugestões.
Diferenciar entre o limite de validade e a sugestão de uma data para consumo também pode trazer economias, ensina o documento. A cartilha aponta que o prazo determinado pelo fabricante precisa ser respeitado quando os alimentos são altamente perecíveis. Já no caso de produtos que duram mais tempo, muitos ainda podem ser consumidos mesmo depois da data sugerida, caso tenham sido armazenados adequadamente e ainda preservem as características de textura, cheiro, cor e sabor originais.
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