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Estudo revela redução do buraco na camada de ozônio. O que isso diz sobre o futuro do planeta?

De acordo com a ONU, a expectativa é de que a camada protetora da Terra recupere os níveis de 1980 até 2066 na Antártida, até 2045 sobre o Ártico e até 2040 no resto do mundo

9 jan 2023 - 18h03
(atualizado às 21h01)
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A camada de ozônio está a caminho de se recuperar dentro de quatro décadas graças a uma história de sucesso ambiental, responsável também por limitar o aquecimento global, disse a Organizações das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira, 9.

O Painel de Avaliação Científica do Protocolo de Montreal revelou que a reversão dos danos à camada protetora da Terra, na região da China, está progredindo bem, o que reflete a eficácia dos acordos globais para eliminar produtos químicos que são nocivos.

De acordo com os cientistas, emissões globais de CFC-11, um produto químico proibido usado como refrigerante e em espumas isolantes e que aumentaram por vários anos, têm diminuído desde 2018. CFC-11 e produtos químicos semelhantes, chamados coletivamente de clorofluorcarbonos, destroem o ozônio, que bloqueia a radiação ultravioleta do sol que pode causar câncer de pele e prejudicar as pessoas e outros seres vivos.

"A ação do ozônio estabelece um precedente para a ação climática", disse o professor Petteri Taalas, secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial. "Nosso sucesso na eliminação gradual de produtos químicos que comem o ozônio nos mostra o que pode e deve ser feito - com urgência - para fazer a transição para longe dos combustíveis fósseis, reduzir os gases de efeito estufa e, assim, limitar o aumento da temperatura."

Os cientistas disseram que, se as políticas atuais permanecerem em vigor, os níveis de ozônio entre as regiões polares devem atingir níveis anteriores a 1980 até 2040. Buracos de ozônio, ou regiões de maior esgotamento que aparecem regularmente perto do Polo Sul e, com menos frequência, perto do Polo Norte, também deve se recuperar até 2045 no Ártico, e cerca de 2066 na Antártica.

"As coisas continuam caminhando na direção certa", disse Stephen A. Montzka, químico pesquisador da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica e um dos autores do relatório. Montzka liderou um estudo de 2018 que alertou o mundo de que as emissões de CFC-11 vinham aumentando desde 2012 e que pareciam vir do leste da Ásia, sobretudo da China.

A avaliação é da última edição de um relatório que é publicado a cada quatro anos. O documento avalia o impacto do Protocolo de Montreal de 1987, que proibiu substâncias que danificam o escudo protetor da Terra, tornando-se, assim, um risco para os seres humanos e o meio ambiente.

O raro acordo universal, ratificado por 197 Estados e pela União Europeia (UE), eliminou gradualmente os gases, incluindo os clorofluorcarbonos (CFCs), que eram usados em produtos como condicionadores de ar, geladeiras e desodorantes, mas que decompunham o ozônio na atmosfera quando eram liberados, o que permitira mais danos causados pelos Raios Ultravioleta (UV-B). Uma atualização do acordo de 2016 também eliminou os hidrofluorcarbonos (HFCs, na sigla em inglês), que foram usados em seu lugar e não destroem diretamente o ozônio, mas têm um forte efeito nas mudanças climáticas.

Desde então, houve uma "notável recuperação" na camada superior da estratosfera, segundo o relatório. A eliminação de HFC também evitou um aquecimento estimado de 0,5°C até 2100.

Participação chinesa

As novas emissões ameaçaram minar o Protocolo de Montreal, tratado negociado na década de 1980 para eliminar gradualmente o uso de clorofluorcarbonos — destruidor do ozônio atmosférico — em favor de produtos químicos mais benignos. A produção ilegal de CFC-11 era considerada um crime ambiental. Montzka disse que as emissões perigosas, se continuassem, poderiam atrasar a recuperação da camada de ozônio em até uma década.

Mas estudos de acompanhamento mostraram que as emissões estavam diminuindo, um sinal de que o governo chinês estava reprimindo com sucesso a nova produção de CFC-11. O relatório aponta que as emissões perigosas provavelmente atrasaram a recuperação da camada de ozônio em um ano.

O CFC-11 chinês provavelmente foi usado na fabricação de espuma de isolamento. Durante a produção de espuma, parte do CFC-11 escapa para a atmosfera, onde pode ser detectado e medido, mas grande parte fica contida na espuma à medida que ela endurece.

Desta forma, disseram os pesquisadores, a produção desonesta chinesa contribuiu para os "bancos" de clorofluorcarbonos que foram produzidos em todo o mundo antes das proibições entrarem em vigor. Esse CFC-11 se encontra em espumas, equipamentos de refrigeração e sistemas de extinção de incêndio.

Esses produtos químicos ainda não estão na atmosfera, mas estão sendo liberados lentamente por meio da deterioração e destruição da espuma, vazamentos ou outros meios.

Montzka disse que o tamanho da contribuição chinesa aos bancos de clorofluorcarbonos não era conhecido. "Mas se os bancos foram construídos substancialmente, isso acrescentaria mais alguns anos ao atraso esperado na recuperação", disse ele.

Resfriar a atmosfera

A nova avaliação foi a primeira a considerar os efeitos no ozônio de um tipo potencial de intervenção climática, ou geoengenharia, destinada a resfriar a atmosfera. O método, chamado injeção estratosférica de aerossol, seria aplicado por aviões ou outros meios para distribuir aerossóis de enxofre na atmosfera, onde refletiriam alguns dos raios solares antes de atingirem a superfície.

A ideia atraiu forte oposição. Entre outras objeções, os oponentes dizem que intervir no clima dessa maneira pode ter consequências graves não intencionais, alterando potencialmente os padrões climáticos em todo o mundo, incluindo aprofundamento do buraco na camada de ozônio na Antártida, alerta o relatório divulgado nesta segunda.

Mas muitos cientistas e outros dizem que pelo menos a pesquisa é necessária, porque o aquecimento pode chegar a um ponto em que o mundo fica desesperado para tentar tal técnica de intervenção, talvez temporariamente para ganhar tempo antes que as reduções de gases de efeito estufa possam ter um efeito significativo.

Outros fatores, incluindo lançamento de foguetes e mais frequentes e intensos incêndios florestais impulsionados pelas mudanças climáticas, podem afetar essa recuperação da camada de ozônio - e mais pesquisas são necessárias para compreender as medidas desses impactos.

Muitas vezes considerado uma história de sucesso para negociações ambientais internacionais, o Protocolo de Montreal tem relevância para os esforços modernos para reduzir as emissões de carbono e mitigar as mudanças climáticas, disse a ONU.

"O impacto que o Protocolo de Montreal teve na mitigação das mudanças climáticas não pode ser exagerado", disse Meg Seki, secretária executiva do Secretariado do Ozônio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em um comunicado à imprensa./THE WASHINGTON POST e THE NEW YORK TIMES

Estadão
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