Litoral brasileiro terá 'trânsito forte' de animais marinhos até outubro
Movimento sazonal de elefantes marinhos, baleias e pinguins poderá ser observado em praias do Sul, Sudeste e Nordeste do País
Pinguins machucados, baleias jubarte encalhadas, golfinhos e até um elefante marinho deram as caras pelo litoral fluminense nas últimas semanas, surpreendendo admiradores e dividindo o espaço das praias interditadas com surfistas e banhistas. O fenômeno, entretanto, não chega exatamente a ser novidade e deve se estender até pelo menos setembro deste ano, além de atingir também outros estados do Sul, Sudeste e Nordeste do País.
De acordo com a Guarda Municipal do Rio, pelo menos três pinguins já foram resgatados na orla da Zona Norte ao longo do último mês, nas praias da Barra da Tijuca e do Recreio. "Alguns anos têm mais aparecimentos, mas essa é uma dispersão natural nesse período, quando eles costumam nadar para áreas mais longe em busca de alimento e alguns acabam subindo mais, aparecendo no Espírito Santo ou na Bahia", afirma o professor José Lailson, do Laboratório de Mamíferos Aquáticos e Bioindicadores/Maqua-Uerj.
É entre a passagem do outono para o inverno que animais marítimos de áreas mais frias, como os pinguins que pertencem a colônias reprodutivas no sul do continente, rumam para o norte do planeta em busca de águas mais quentes e aparecem no litoral brasileiro. "Alguns deles acabam debilitados e, quando chegam às praias, estão normalmente com a saúde prejudicada. Esse caminho de dispersão é muito longo, estamos falando de animais que, às vezes, estão no meio da Patagônia, na Argentina", explica Lailson.
Ainda nesta segunda-feira, 13, um pinguim foi resgatado na Praia de Ipanema pela Patrulha Ambiental, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Ele acabou tendo que dividir a atenção com um elefante-marinho, que passou horas nadando entre os banhistas e surfistas do Arpoador.
Lailson observa que os mamíferos também "aproveitam essa época do ano para aparecer aqui, principalmente quando são animais jovens". Mas alerta que, apesar da sua aparente tranquilidade, é preciso ter cautela ao se aproximar do animal. "Eles são muito grandes, carnívoros e altamente territorialistas. Não foi o caso, mas eles normalmente chegam às praias ou rochedos para descansarem, então é importante não se aproximar deles nesse momento."
Baleias jubarte vêm ao Brasil para acasalar e parir
Apesar dos registros de pinguins e do elefante marinho em vida nas praias do Rio de Janeiro, muitos animais marinhos acabam morrendo na costa brasileira, seja por colidirem com embarcações, se envolverem em redes de pescaria ou encalharem no litoral. Ainda no último fim de semana, foram encontrados uma baleia jubarte, um golfinho e outros pinguins mortos nas praias de Búzios, na Região dos Lagos do estado.
"Nos últimos dois meses, tivemos encalhe de baleias jubartes, que estão em período migratório. Elas saem da região subantártica, vêm para a costa brasileira e se concentram principalmente na Região dos Abrolhos, entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo", explica Laércio. De acordo com o professor, a espécie é conhecida por vir ao litoral brasileiro para acasalar ou para, um ano após a fecundação, ter os bebês aqui.
"Nessa época, não temos só um maior avistamento desses animais, mas também há bastante interação [deles] com o homem. Elas estão passando pelo Sudeste, uma região com muita pesca e embarcações, então não é difícil que elas acabem interagindo com as atividades humanas", observa o professor.
Ele alerta que nenhum dos animais, nem o pinguim nem o elefante marinho, devem ser manuseados pelos seres humanos. "O ideal é deixar o animal isolado e observar de longe porque eles precisam desse momento de descanso. No caso das grandes baleias, elas encalham vivas e uma carcaça pode soltar gorduras e isso é ruim para a saúde pública."
Entre setembro e outubro, o professor explica, haverá o movimento contrário das baleias voltando, com um "trânsito forte" na região Sudeste, além de pinguins que podem aparecer no Rio Grande do Sul, Santa Catarina ou norte de São Paulo. Ainda assim, as praias vazias pelas pandemia do coronavírus não devem alterar muito o comportamento dos animais. "Eles não ligam muito pra gente, é uma questão sazonal."