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Campanha apresenta ranking socioambiental de marcas alimentícias

20 out 2013 - 07h29
(atualizado às 07h29)
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Dez empresas multinacionais detêm grande fatia do mercado mundial de alimentação. Apesar de seu faturamento volumoso, elas nem sempre adotam práticas socioambientais corretas. Para expor essas fragilidades, a Oxfam, organização internacional presente em mais de 90 países, criou a campanha Por Trás das Marcas.

A ideia é mostrar quais são as empresas responsáveis por cada uma das principais marcas de alimentos, como elas tratam seus produtores, quais medidas de sustentabilidade adotam e que nível de transparência apresentam. Assim, o site da campanha divulga um ranking, atualizado periodicamente, que avalia cada companhia em sete categorias diferentes.

Itens avaliados

Elas são: terra, que verifica se as áreas de produção dos fornecedores estão livres de apropriações de terra; gênero, que analisa se as mulheres recebem um tratamento igualitário e justo; agricultores, que avalia o compromisso das empresas para que os agricultores familiares e de pequena escala não passem fome; trabalhadores, que considera o que as empresas dizem fazer para assegurar os direitos trabalhistas nas suas cadeias de suprimento; clima, que estima o quanto as empresas se comprometem para que sejam reduzidas as emissões de gases de efeito estufa nos produtores primários; transparência, que mede a divulgação das práticas de lobby e contribuições financeiras aos governos; e água, que mede o compromisso em diminuir o uso de água e a manutenção dos mananciais.

Os alvos da campanha são Coca-Cola, Unilever, Associated British Foods (ABF), General Mills, Kellogg's, PepsiCo, Danone, Mars, Mondeléz e Nestlé. As empresas recebem uma nota para cada uma das categorias – que têm peso igual – e a soma dos resultados determina as posições da lista e o conceito (péssimo, muito ruim, ruim, razoável ou bom). Além da nota, o ranking exibe um texto justificando a avaliação em cada um dos itens. Os dados colhidos para a criação do ranking são informações públicas, divulgadas pelas próprias empresas.

O objetivo da campanha é informar aos consumidores sobre as cadeias de fornecimento dessas grandes empresas e a sua responsabilidade em cada uma delas. "É a estratégia da Oxfam para influenciar as práticas e políticas do setor privado alimentício. São 10 empresas que monopolizam a produção de alimentos no mundo, e movimentam recursos enormes", conta Veronica Barbosa, coordenadora de Mídia e Comunicação da Oxfam no Brasil.

Segundo ela, a Por Trás das Marcas é fruto da Campanha Cresça, que existe em 40 países. "A campanha é para que o sistema de alimentação e produção seja menos dominado pela influência do capital e pelo agronegócio, que tem seu papel, mas também tem um efeito nefasto na agricultura e segurança alimentar", afirma.

Um exemplo de hábito que atende a essas exigências é o consumo de alimentos sazonais na sua época de colheita no Brasil. Dessa forma, evita-se que esses mesmos alimentos venham de milhares de quilômetros de distância, o que contribuiria para a emissão de carbono na atmosfera. Esse fator compõe o caráter holístico da campanha, como destaca Veronica, afinal ela trata de aspectos sociais, econômicos e ambientais.

Desde o início do projeto, as grandes empresas já foram avisadas sobre a criação do ranking. "Esperávamos que reagissem desde o início. Recebemos informações das empresas o tempo inteiro, mas achamos que não reagiram com a rapidez e energia que gostaríamos", diz Veronica. A interlocução entre a Oxfam e as empresas é uma das três frentes de atuação para propiciar mudanças. As outras duas são a sensibilização do consumidor e a divulgação das informações pela mídia – ainda superficial, na avaliação de Veronica.

Empresas

A Coca-Cola, a Unilever, a Danone e a PepsiCo, empresas consultadas pelo Terra, reforçaram seu compromisso com a sustentabilidade, com a transparência das ações em seu sistema de produção e com o objetivo de melhorar sua posição em questões socioambientais avaliadas por campanhas como a Por Trás das Marcas.

"Como parte do compromisso de transparência da Coca-Cola Company na adoção de práticas sustentáveis e responsáveis, estamos trabalhando com a Oxfam para enfrentar os desafios globais de forma colaborativa", informa a empresa em comunicado à imprensa. "Como líder global de bebidas, a Coca-Cola Company está comprometida em fornecer práticas que promovam a agricultura sustentável e apoiem o nosso compromisso para a construção de comunidades mais sustentáveis. Nosso Guia de Princípios de Agricultura Sustentável reconhece e assegura os direitos das comunidades e povos locais para garantir o acesso à terra e aos recursos naturais, e respeita os Direitos Humanos e do Trabalho".

"Como parte de seu Plano de Sustentabilidade, a Unilever se comprometeu a obter 100% de suas matérias-primas agrícolas de fontes sustentáveis até o ano 2020", anuncia a empresa. "Progredimos bastante nessa área - aumentando a porcentagem de matérias-primas obtidas de fontes sustentáveis de 14%, em 2010, para 24%, em 2011, e para 36%, em 2012". A Unilever também informa que participa da Bonsucro, uma iniciativa sem fins lucrativos que busca a redução de impactos ambientais e sociais da produção de cana-de-açúcar, e que, compartilhando da visão da Oxfam sobre os direitos da posse de terras, estuda a melhor forma de implementar as Diretrizes do Comitê Mundial de Segurança Alimentar nessa área.

A PepsiCo esclarece que "possui um Código de Conduta Global para fornecedores. O documento tem como objetivo garantir que nossas operações estejam alinhadas às práticas que respeitam as relações de trabalho, saúde e segurança, gestão ambiental e integridade nos negócios. Esse código vem sendo incorporado no processo de contratação dos fornecedores e já foi traduzido para mais de 25 idiomas. Para aprimorar ainda mais o documento, a PepsiCo está lançando processos cada vez mais rigorosos para responsabilidade, comprometimento, avaliação e mitigação de riscos. (...) continuamos empenhados em trabalhar com parceiros e organizações externas, como a Oxfam".

Já o Grupo Danone diz que "respeita a abordagem adotada pelo relatório da Oxfam, mas ressalta que emprega uma abordagem diferente, cujas prioridades são definidas de acordo com a capacidade de ter um impacto positivo e valer-se de sua experiência consolidada para o tema. Vale ressaltar que, ano após ano, as conquistas da Empresa no âmbito da sustentabilidade são reconhecidas pelas principais agências de rating do mundo, incluindo uma classificação de 97/100 do Carbon Disclosure Project, 83/100 do Dow Jones Sustainability Index (DJSI), o melhor da categoria para gestão de fornecedores".

Açúcar

No Brasil, as atenções da campanha voltam-se principalmente às empresas Coca-Cola, PepsiCo e ABF (que gere a Ovomaltine, entre outras marcas). Elas são as maiores consumidoras de açúcar no mundo, enquanto o Brasil configura-se como o maior produtor. "O que acontece é que hoje as condições de trabalho mais degradantes estão associadas à produção de cana-de-açúcar. E nesse setor, há também apropriações injustas de terras", acusa Veronica.

De acordo com o estudo de caso feito pela Oxfam, a produção de açúcar no Brasil dobrou entre 2000 e 2010, em razão do aumento do seu preço internacional e da demanda interna de etanol. Nessa mesma década, as terras ocupadas com plantações de cana em Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Mato Grosso subiram de 4,2 para aproximadamente 7,6 milhões de hectares.

Para atender a essa demanda, segundo o estudo de caso, a área para cultivo de cana-de-açúcar tem se expandido com extrema rapidez, o que acarreta efeitos como a derrubada de mata nativa e conflitos entre comunidades e empresas produtoras de commodities. Essa situação motivou a criação de um abaixo assinado destinado às três empresas, contra a apropriação injusta de terras.

Segundo o relatório O Gosto Amargo do Açúcar, produzido pela Campanha Cresça, o consumo mundial de açúcar e adoçantes mais do que dobrou entre 1961 e 2009. Até 2020, a estimativa é que a demanda cresça 25%.

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