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Risco de catástrofe climática é alto, mas ainda dá para salvar o planeta; painel da ONU cita medidas

Parte das mudanças climáticas futuras é inevitável ou irreversível, mas pode ser limitada por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais de gases estufa, diz IPCC

20 mar 2023 - 10h11
(atualizado às 14h28)
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Nós ainda temos opções viáveis e eficazes para reduzir as emissões de gases do efeito estufa e fazermos as adaptações necessárias às mudanças climáticas causadas pelo homem, diz o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira, 20. Último documento do tipo previsto para esta década aponta que essas medidas estão disponíveis e agir de forma urgente pode garantir um planeta habitável no futuro.

Algumas das mudanças climáticas futuras são inevitáveis ou irreversíveis, mas podem ser limitadas por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais. O relatório aponta a necessidade de mudanças na forma de produção de alimentos, eletricidade, transportes, indústria, construções e uso do solo, além de indicar medidas como a ampliação do acesso a energia e tecnologias limpas.

A eletrificação das fontes de emissão de carbono - no transporte público, por exemplo -, resultará na melhora da saúde das populações. Os benefícios econômicos para as pessoas apenas com melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos - ou possivelmente ainda maiores - do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.

A queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e uso irracional da terra levaram ao aquecimento global de 1,1°C acima dos níveis pré-níveis industriais. Isso resultou em eventos climáticos extremos mais frequentes e mais intensos - como a tragédia do litoral norte de São Paulo - o que põe cada vez mais pessoas em perigo em todas as regiões do mundo. Uma população de até 3,6 bilhões vive em locais e condições de vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas, aponta o IPCC.

"A justiça climática é crucial porque aqueles que menos contribuíram para a mudança climática estão sendo afetados desproporcionalmente", disse Aditi Mukherji, um dos 93 autores deste Relatório Síntese, o capítulo final da sexta avaliação do Painel.

O aumento da temperatura global - que leva a ondas de calor e chuvas mais intensas e outros extremos climáticos - eleva também a insegurança alimentar e riscos à saúde humana e aos ecossistemas. O IPCC aponta que quando esses riscos se combinam com outros eventos como pandemias ou conflitos, tornam-se ainda mais difíceis de administrar em efeito cascata.

Há uma janela de oportunidade que está se fechando rapidamente. Priorizar processos de equidade, justiça climática, justiça social, inclusão e transição justa pode permitir a adaptação e ações de mitigação ambiciosas e o desenvolvimento resiliente ao clima.

O documento do IPCC chama atenção para o fato que uma ação climática eficaz é possibilitada pelo compromisso político, governança multinível alinhada, estruturas institucionais, leis, políticas e estratégias e maior acesso a financiamento e tecnologia. Segundo o relatório, há capital global suficiente para fechar as lacunas de investimento, mas também há barreiras para redirecionar o capital para a ação climática.

Aprimorar sistemas de inovação tecnológica é fundamental para acelerar a adoção generalizada de tecnologias e práticas. As escolhas e ações implementadas nesta década, afirma o relatório, terão impactos agora e por milhares de anos.

Lentidão na tomada de decisões cobrará seu preço

Para Alexandre Prado, especialista de Conservação em Mudanças Climáticas do WWFBrasil, o novo relatório é uma mensagem direta e inequívoca. "Os impactos climáticos apontados hoje são piores do que os previstos no último relatório de síntese do IPCC de 2014. Os estudos mostram que os atuais 1,1°C de aquecimento do planeta já causaram mudanças perigosas na natureza e no bem-estar das pessoas em todo o mundo e, por isso, precisamos de medidas imediatas para barrar os impactos da crise climática. O IPCC dá, novamente, um recado contundente às lideranças de todo mundo: a natureza é inegociável e a mudança precisa ser feita agora", diz.

"Embora o tom deste relatório não surpreenda ninguém que esteja familiarizado com os três anteriores, o alerta é coerente: está ocorrendo um progresso lento, mas ele ainda representa apenas uma gota no oceano, em comparação com o tamanho da emergência", afirma o CEO da The Nature Conservancy, Jennifer Morris.

Coordenador do Programa Política e Economia Ambiental do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces), Guarany Osório afirma que o relatório síntese do IPCC resume algumas mensagens gerais importantes dos últimos relatórios de avaliações e especiais. "(O relatório) Destaca que estamos diante de uma janela de oportunidade que se fechará rapidamente para caminharmos para um futuro sustentável. Por isso, as decisões tomadas e ações implementadas nesta década terão impactos por muitas décadas para frente. Para tanto, são necessárias transições rápidas e de longo alcance em todos os setores e sistemas econômicos e sociais", diz.

Osório lembra que o Brasil está exposto a vários riscos climáticos e vem sofrendo seus impactos, como o ocorrido na tragédia do litoral norte de São Paulo. "Se não estivermos preparados para adaptação à mudança do clima, o país continuará negligenciando os riscos de novas tragédias e de grandes perdas econômicas futuras, ficando ainda mais exposto aos impactos que afetam especialmente aos mais vulneráveis", afirma. "Quanto mais lentidão em decisões para mitigar as causas da mudança do clima e falhas em adaptação, mais trágico e caro a conta ficará no futuro."

Soluções possíveis

  • Eletrificação do transporte, principalmente o público
  • Cobrar impostos sobre as emissões de carbono
  • Desenvolver mais tecnologias de tirar carbono da atmosfera
  • Aprimorar e investir nas alternativas de geração de energia limpa e renovável, como a solar e a eólica
  • Melhorar os sistemas de financiamento de medidas para a transição energética e adaptação às mudanças climáticas (e cortar ou reduzir drasticamente o dinheiro de iniciativas poluidoras)

2025 é o limite para interromper alta de emissões

Em relatório divulgado em maio de 2022, o IPCC mostrou que 2025 é o limite para que a média anual global das emissões de gases estufa atinja seu ponto de inflexão e passe a cair. Segundo os cientistas do grupo, medidas como incentivar energias renováveis, novas tecnologias e preservar florestas para retirar da atmosfera o carbono resultante da queima de combustíveis fósseis serão cruciais.

Para se ter ideia do tamanho do desafio: de 2010 a 2019, a média anual de emissões atingiu seus níveis mais altos da história. Manter a mesma rota coloca a meta de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC fora de alcance. Ficar dentro da meta significa que nos próximos três anos as emissões precisam passar a cair de forma sustentada e chegar a 2030 com uma redução de 43% em relação a 2019.

Mesmo se a meta considerada for limitar o aumento a 2ºC, 2025 continua sendo a data-limite, com redução de um quarto do volume de emissões ante os patamares de 2019.

Eventos climáticos extremos, como o temporal recorde que matou 234 pessoas em Petrópolis em fevereiro de 2022, serão cada vez mais comuns.
Eventos climáticos extremos, como o temporal recorde que matou 234 pessoas em Petrópolis em fevereiro de 2022, serão cada vez mais comuns.
Foto: Wilton Junior/Estadão / Estadão

Ao mesmo tempo, as emissões de metano também precisam ser reduzidas em cerca de um terço. Ainda que essa receita seja seguida, é quase certo, diz o IPCC, que o limite de temperatura (1,5ºC) será ultrapassado temporariamente, retornando a nível mais baixo até o fim do século.

Apesar dos recordes de emissões da década passada, o ritmo de crescimento foi mais baixo em relação às décadas anteriores. E, segundo o relatório do IPCC, há evidências crescentes de ações climáticas que já surtem efeitos positivos.

Desde 2010, houve reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar e eólica energia e baterias, por exemplo. Um número crescente de políticas públicas e legislações mais refinadas melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmate e acelerou a implantação de energia renovável.

Estadão
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