'Temos de discutir como petróleo pode financiar transição energética', diz presidente da Petrobras
Jean Paul Prates defende que possível suspensão da exploração é decisão de Estado; Ibama já negou pedido de perfuração próximo à foz do Rio Amazonas
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, afirmou nesta terça-feira, em Belém, que os recursos gerados pela exploração de petróleo podem ajudar a financiar a transição energética. Prates foi questionado sobre a possibilidade de exploração de petróleo próximo à foz do Rio Amazonas após o lançamento da Declaração de Belém, documento firmado pelos oito países da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) durante a Cúpula da Amazônia.
O documento da OTCA não inclui restrição à exploração do combustível fóssil na floresta. O tema foi alvo de controvérsia entre Brasil e Colômbia durante as negociações. O país vizinho defende o fim da extração do recurso no bioma.
Em maio, o Ibama negou pedido da Petrobras para perfurar a Margem Equatorial, que vai do Rio Grande do Norte ao Amapá, a cerca de 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas, em busca de petróleo. Questionado se a ausência do tema na declaração era uma vitória para o Brasil, Jean Paul Prates disse que é preciso discutir a questão.
"Esta decisão sobre petróleo, sobre suspender a exploração, são decisões de Estado, do Estado brasileiro. E, se forem tomadas, terão de ser cumpridas. Acho que ainda é cedo para tratar do assunto tão drástico. A transição energética por si mesma é uma transição, não é uma ruptura, não acontece de um dia para o outro. O que nós temos de fazer é discutir como o uso do petróleo, que ainda vai durar por algumas décadas, pode ajudar a financiar a transição energética", disse.
Prates argumentou que a Petrobras nunca registrou incidentes na região amazônica e que o dinheiro gerado pela atividade tem financiado Estados da área. "A Petrobras produz petróleo na região amazônica com muita responsabilidade, sem nenhum incidente, há décadas. Muita responsabilidade, com tecnologia de ponta, com a máxima mitigação de efeitos, com mínimo de devastação, com mínimo de prejuízo para a natureza e sustentabilidade e com muitos programas sociais importantes, e deixando royalties e participações governamentais importantes no Estado do Amazonas e outros estados amazônicos", disse.
O presidente Lula recebeu quatro chefes de Estado em Belém nesta terça-feira para alinhar os últimos detalhes da declaração. Durante discurso na abertura do evento, o presidente colombiano Gustavo Petro classificou como "negacionismo" a posição de governos de insistir na exploração do combustível fóssil, em um claro recado a Lula.
A exploração de petróleo na Amazônia é um dos temas dominantes da Cúpula da Amazônia. Enquanto a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, defendeu a redução de emissões por combustíveis fósseis e afirmou que somente acabar com o desmatamento não resolve o problema do planeta, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendeu que a Petrobras possa investigar se há petróleo na Margem Equatorial.
"Faz todo o sentido se debater a necessidade de nós sabermos e conhecermos as nossas potencialidades energéticas tanto em solo quanto em mar", disse Silveira. "Na verdade não se discute a exploração de petróleo no Amazonas, o que se discute é um pedido de pesquisa."
Para o ministro, esse tipo de discussão é importante para a transição energética. "O que se discute no Brasil hoje é a pesquisa de uma extensa área, na minha visão talvez a última fronteira de petróleo e gás antes da consolidação que todos almejamos e trabalhamos para que aconteça que é a consolidação da transição energética."