Já estamos no Zimbábue. Problemas na fronteira. Atraso, tensão, múltiplas tentativas de recuperar o material para a expedição.
Curiosamente neste país, como em muitos outros do continente africano, quanto pior a gente fale o inglês mais fácil é ser entendido. Os problemas que vem surgindo na fronteira nos obrigaram a mudar os planos. A chegada ontem ao aeroporto das Cataratas Vitória foi caótica.
Logo ao chegar tivemos que tratar do visto. Uma sala com paredes vazias e móveis velhos, duas mesas e umas quantas cadeiras, se transformou em, mais do que numa fronteira, uma grande muralha para recuperar nosso material de trabalho. Com o visto não houve nenhum problema, US$ 30 por cabeça e pronto. Da bagagem despachada faltava uma caixa com material
imprescindível para cumprimor a missão: cabos e baterias de câmeras fotográficas e de vídeo.
Depois de conseguir nos entender com os agentes de imigração (com os quais, curiosamente, quanto pior se fale o inglês melhor é), tivemos que esperar e esperar. A "big and yellow case is lost", isso era a única coisa que estava clara. As comprovações de bagagem nos mantiveram um bom tempo ocupados com pacotes e tíquetes. Mas isso não foi tudo. Os agentes, que não sorriram nem por um momento, olhavam para a relação de bagagem que nós lhes apresentamos como se jamais tivessem visto algo parecido na vida.
O equipamento não podia ser retirado sem passar por um controle que, inexplicavelmente, não podia ser feito naquele momento. Tínhamos que esperar até hoje, sexta-feira. Toda a bagagem, a de mão e a despachada, ficou em quarto pequeno, mas pelo menos muito bem chaveada. Preocupados e com a sensação ruim de não ter junto conosco as câmaras que durante a viagem tínhamos levado grudadas ao corpo, saímos do pequeno aeroporto.
Rudi, um rapaz sul-africano branco, mas com os pés pretos de tanto andar descalço, nos acolheu no caminhão-ônibus que se transformará em nossa casa durante os próximos quatorze dias. Nos encaminhamos a um dos campings nos arredores das cataratas.
No trajeto tentamos esquecer os problemas com o equipamento, pelo menos até o dia seguinte. Ao chegarmos, montamos o acampamento e devoramos um prato de espaguete. E ao cair da noite, às 6 horas, o céu estrelado surpreendeu a todos, até mesmo aos mais experientes. Nos afastamos das luzes e com a ajuda de Luis, o fotógrafo de céu da Shelios, identificamos, entre a infinidade de estrelas de todas as magnitudes, cúmulos, constelações e nebulosas que só podem ser vistas no hemisfério sul.
A vista é impressionante, e a essa formidável paisagem não faltava uma trilha sonora: o rugir das Cataratas Vitória.
Na sexta-feira, voltamos ao aeroporto e depois de quase mais de oito horas recuperamos nosso material de trabalho.
A paisagem na África é bem diferente, a luz e os cheiros também. Esperamos poder visitar as cataratas hoje mesmo e com certeza vamos contar para vocês.
Sofía Aymat
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