"Lixo nuclear é herança maldita para futuras gerações"

Cristina Bodas, direto de Angra dos Reis

O lixo atômico produzido por uma usina nuclear - como o plutônio - leva cerca de 24 mil anos para ter sua radioatividade reduzida apenas pela metade. "É uma herança maldita para futuras gerações", diz o professor Luiz Pinguelli Rosa, vice-diretor da Coope (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia) da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um especialista em energia nuclear.

Para se ter uma idéia, somente as usinas de Angra 1 e 2 produzem juntas, por ano, 47 toneladas de resíduo com alto índice de radioatividade - composto por água e demais materiais que entram em contato direto com o núcleo do reator, onde estão as pastilhas de urânio. Há ainda o lixo atômico considerado de baixa e média radioatividade, como equipamentos e roupas.

Ambos são estocados provisoriamente na própria usina. O de alta é armazenado em piscinas localizadas próximas ao reator, enquanto os demais resíduos são colocados em tambores - que hoje já somam 6.302. "Durante o tempo de vida da usina, temos condições de armazenar com segurança todos esses resíduos", garante o presidente interino da Eletronuclear, Evaldo Césari de Oliveira.

O armazenamento do lixo atômico na usina ainda é provisório porque não há uma política nacional sobre a destinação final desse material. Nem mesmo a Alemanha e os Estados Unidos, países dos quais o Brasil adquiriu a tecnologia nuclear, têm soluções definitivas para o lixo atômico. Está sendo analisado atualmente pelo Senado o Projeto de Lei aprovado no início de junho pela Câmara dos Deputados que determinaria locais definitivos para acomodação do lixo atômico, assim como o processo de fiscalização desses depósitos.

Segundo Evaldo, os resíduos de baixa e média radioatividade precisam ser armazenados por um período de cerca de 300 anos. "Já os de alta exigem uma tecnologia de isolamento que mantenha os resíduos seguros por milhares de anos, como depósitos profundos em montanhas de rochas", conta.

Para o coordenador da campanha de energia nuclear do Greenpeace no Brasil, Ruy de Góes, nenhuma forma de armazenamento garantiria segurança total para o meio ambiente e para as gerações futuras. "Seria preciso criar, por exemplo, símbolos que indicassem para uma próxima civilização que em determinada montanha estaria enterrado um material capaz de matá-la", afirma.

Confira em vídeo mais informações sobre soluções para o lixo atômico

Veja o mapa dos depósitos de lixo nuclear no mundo

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