Zarpamos!
Segunda-feira, 08 de janeiro de 2001.
Paulo Gleich - Repórter Terra
Às 14h30, o Arctic Sunrise deixou o porto de Porto Alegre,
onde ficou atracado por seis dias. Na despedida, acenos, abraços, beijos
e até lágrimas. Lembram-se da Simone, a voluntária que conheci no dia da
chegada do navio e que iria no barco até o Rio de Janeiro? Durante a
estada em Porto Alegre, ela conheceu Ricardo, um voluntário chileno que
estava a bordo, com quem teve um breve romance. Mas o destino
não foi muito generoso com os dois. Simone embarcou mas Ricardo
ficou em terra firme, o que causou uma despedida emocionada. Mas o choro
de Simone e Ricardo parece não ter comovido os demais ativistas,
que fizeram chacota do momento triste, com comentários como "Não
chora, hein, Ricardo!".
Me parece que a viagem de barco é a razão de ser dos ativistas. O lazer e a descontração reinam durante os percursos entre os pontos da Expedição das Américas. Claro que há trabalho a bordo: além da limpeza da cozinha, dos banheiros e do navio, as máquinas precisam ser operadas e a rota traçada e mantida. Mas, para boa parte das pessoas, a viagem é um cruzeiro, mesmo que o Arctic Sunrise seja mais humilde
que um transatlântico de luxo.
Ao chegar ao navio, tive de ouvir uma série de regras para a vida a
bordo, relativas a limpeza, reciclagem, silêncio e outras coisas. Tenho
vigiado cada passo meu aqui dentro, para não cometer nenhum pecado
contra o meio ambiente, como jogar uma lata no cesto de lixo errado ou
desperdiçar água e energia. No navio tem até uma pessoa encarregada só
de monitorar a distribuição e a reciclagem do lixo, o que exige atenção
redobrada na hora de jogar algo fora.
Fui apresentado a todos da tripulação e já tirei minhas primeiras
impressões do pessoal, mas vou deixar isso para o próximo diário. Por
ora, preciso terminar meu relato porque está na hora de lavar o convés.
Quando fui convidado para participar da limpeza, me senti como um
passageiro clandestino que é descoberto pela tripulação. Injustiça minha,
pois todos a bordo são muito simpáticos e fazem o máximo para me deixar
à vontade - desde que eu siga as regras.
Amanhã conto como foi a primeira noite a bordo (será que vou passar
mal?) e o que acontece por aqui à noite.
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