Diário

Na despensa do Greenpeace tem chocolate, cerveja e até carne!

Terça-feira, 09 de janeiro de 2001.

Paulo Gleich - Repórter Terra

A primeira noite a bordo foi muito melhor do que eu esperava. O balanço do barco, em vez de causar tontura ou náuseas, me embalou em um sono profundo, que não foi interrompido nem quando o navio baixou a âncora. Só para o conhecimento dos leigos em navegação, como eu: segundo a tripulação, o momento no qual a âncora é baixada ou subida é extremamente barulhento, e se ouve em todo o navio. Infelizmente, não estava acordado àquela hora para comprovar.

Outra surpresa que tive foram as atividades noturnas. Imaginei que os ativistas, que à tarde estavam animados, andando de um lado para o outro do barco, fariam festa ou pelo menos ficariam acordados por horas, aproveitando a noite agradável no deck do navio ou assistindo a um filme na sala (lounge). Em vez disso, depois de umas 20h a maioria desapareceu. E olha que eu procurei! Fiz a volta por todo o barco várias vezes e só de vez em quando encontrava um que outro (que também se dizia curioso sobre o paradeiro dos demais).

Uma das coisas que mais me impressionou até o momento é a qualidade de vida aqui dentro. Imaginei que os ativistas vivessem de forma espartana, comendo apenas alimentos saudáveis e, é claro, livres de agrotóxicos e transgênicos. Mas não: se come bastante e de tudo: carne, massas instantâneas, geléias, chocolates e outras guloseimas, sem contar os refrigerantes e cervejas. Além da abundância de comida (sempre tem alguém beliscando alguma coisa no mess room), há várias opções para as horas de lazer, como vídeos, livros, CDs e até uma piscina (na verdade, uma tina onde cabem umas quatro pessoas).

Já conversei com vários tripulantes, sempre em um tom informal e amigável, como um convidado qualquer o faria. A maioria tem sido bastante receptiva e tem conversado comigo, mas alguns ainda hesitam em me aceitar na família do navio. Creio que para alguns a palavra "repórter" ainda significa algo como inquisidor, que arranca toda a informação possível para depois expô-la ao público.