Sonhos embalados pelo chuá das ondas
Quarta-feira, 10 de janeiro de 2001.
Paulo Gleich - Repórter Terra
A primeira noite em alto mar foi muito melhor do que jamais poderia
imaginar. Como ainda estava um pouco afetado pelo balanço do barco,
que aumentava cada vez mais, fui me deitar cedo. Aqui faço duas
ressalvas, antes de continuar: o Arctic Sunrise, por ser um navio quebra-
gelo, balança muito mais que outros navios, pois ele é plano na parte de
baixo, ou seja, não tem aquele formato clássico de casco de navio que é
como um "V". Além disso, deitar é uma das técnicas para diminuir os
efeitos do enjôo. Por isso, resolvi unir o útil ao agradável e me deitei mais
cedo.
Se para as demais atividades o balanço do barco não é lá muito
confortável, para dormir é uma bênção. Navegando sobre as ondas de
alto-mar, o navio entra em um ritmo que embala até o mais insone em
sono profundo. Para imaginar a sensação, pensem naquelas montanhas-
russas que têm água no final: o navio sobe até o topo da onda, aí desce
rápido e bate com o casco na onda, fazendo um "chuá!" que se ouve por
todo o navio. Pode não parecer, mas para dormir é realmente muito bom.
Já que fui dormir cedo, resolvi acordar para ver o nascer do sol. Não sei
se é pelo nome do navio, Arctic Sunrise (nascer do sol no Ártico), ou por
estarmos em alto-mar, mas assistir à chegada da primeira luz do dia é um
espetáculo imperdível. Enquanto de um lado do navio a lua ainda jogava
sua luz prateada no mar, do outro o sol anunciava sua chegada, pintando
as nuvens de um cor-de-rosa suave. Aos poucos, novos matizes iam
surgindo no céu e no mar, misturando cores e texturas e modificando
constantemente a cena, até que apareceu o sol, uma bola vermelha no
meio da cena.
O tempo está nublado e o mar, bastante agitado. Mesmo assim, daqui a
pouco, os ativistas vão se reunir no convés para colocar os botes
infláveis na água. No próximo diário, vou relatar como foi e se houve
alguma trapalhada no exercício.