Diário

Treinamento em mar aberto e almoço... inglês!

Quarta-feira, 10 de janeiro de 2001.

Paulo Gleich - Repórter Terra

Hoje, a cozinheira, que é da Inglaterra, resolveu revelar suas origens e fez pratos tipicamente britânicos para o almoço: ovos, bacon frito, feijão e batatas tostadas. Houve caras feias no refeitório quando a comida foi servida, pois nem todo mundo ainda está acostumado ao balanço do navio e se sente seguro para comer algo desse calibre. A cozinheira, aliás, mais inglesa impossível: discreta e organizada, ela fica enfurnada na cozinha fazendo suas coisas e só fala algo quando é interpelada por alguém. Não duvido que ela tome o chá das cinco ali dentro, escondidinha, antes de terminar a janta, que é às seis.

E, entre as atividades do dia que consistiram no treinamento de novatos e a surpresa do almoço inglês fiz mais uma descoberta: adivinhem qual o adjetivo que atribuiram aos brasileiros no Greenpeace? Descobri, quando conversava com Simone, que os ativistas brazucas têm fama de serem preguiçosos. Ela me garantiu, entretanto, que está se esforçando para não fazer jus à fama. Aliás, considerando apenas os brasileiros que aqui estão no momento, esse adjetivo é uma grande injustiça, pois são todos muito dedicados nas suas tarefas a bordo.

A grande atividade de hoje foi o treinamento nos botes infláveis, do qual participaram todos os novos voluntários, inclusive a Simone. Orientados por Kevin, o chefe do convés, e por ativistas mais experientes, eles colocaram os botes na água com o navio em movimento, auxiliados por um guindaste e por cordas. Depois de cada um dos novatos participarem da operação de tirar e recolocar os botes no deck, começou a parte principal do treinamento: pilotar os botes.
A tarefa de cada um dos novatos ao pilotar era dar voltas do lado esquerdo do barco, tentando chegar o mais perto possível do casco para permitir o embarque de mais pessoas. Mesmo com a forte ondulação, o vento forte e o tempo fechado, todos conseguiram - após algumas tentativas - executar a tarefa. Durante o treinamento o navio andou em uma velocidade inferior à normal, pois no início um dos botes chegou a ficar uns 400 metros atrás de nós e não conseguia alcançar o Arctic Sunrise. Com isso, nossa chegada a Santos vai atrasar, e deve ser só na madrugada de sexta.

Pela tarde, o sol voltou a brilhar, o que parece ter melhorado o humor da tripulação, bem mais animado que na manhã fria e ventosa. Ainda para hoje, estão programadas três atividades. Primeiro, haverá um encontro com Matilda, a pessoa encarregada pelo lixo no navio, que vai relatar sobre os dias que passou na cadeia por ser presa em uma ação no Japão. Depois, acontece uma reunião para discutir as próximas ações e da qual não posso participar - todo o planejamento dessas ações é ultrasecreto. À noite, será exibido um vídeo sobre o barco na Amazônia. Depois conto pra vocês como terminou esta tarde!