Diário

Voluntários treinam ações em botes

Quinta-feira, 11 de janeiro de 2001.

Paulo Gleich - Repórter Terra

No meu último dia a bordo do Arctic Sunrise, a rotina do dia anterior se repetiu (agora que passei quatro dias a bordo, já posso falar em rotina). À tarde, os voluntários voltaram a fazer o treinamento nos botes infláveis, desta vez com o mar mais agitado e com uma nova tarefa: treinar resgate de pessoas. Isso é feito com uma bóia que é lançada ao mar, e recolhida por um dos tripulantes com o bote em movimento. Os voluntários se mostraram bastante hábeis no exercício, pois nenhuma vez a "vítima" foi atropelada pelo bote.

No final da tarde, a maioria dos ativistas aproveitou para descansar. Alguns foram para a piscina, uma tina gigante onde cabem umas três ou quatro pessoas. No low deck, que é uma espécie de "salão" do navio, alguns jogaram basquete e futebol, enquanto outros aproveitavam para descansar e jogar conversa fora.

Por um lado, estar no meio do mar aberto, sem nenhuma viv'alma por perto além dos ativistas do Greenpeace, tem sido uma experiência fantástica. É uma comunidade fechada, com a qual você tem que aprender a conviver, queira ou não. Todos interdependem entre si, pois cada tarefa executada é para o bem comum: a limpeza, o trabalho na cozinha, a manutenção das máquinas, etc.

Por outro lado, estar praticamente isolado do resto do mundo é uma experiência estranha para quem está acostumado ao dia-a-dia da cidade, a acompanhar os acontecimentos no Brasil e no mundo - enfim, ao cotidiano da vida moderna. Nosso único contato com o mundo exterior é um boletim diário de uma agência de notícias, que envia os principais acontecimentos do dia anterior, e o contato por e-mail, que é checado duas vezes por dia.
Tenho ouvido cada vez mais protestos contra a comida da cozinheira, principalmente dos tripulantes latino-americanos, que não estão acostumados com os pratos pesados que ela prepara. Em uma sondagem entre os voluntários que já participaram de outras viagens do Greenpeace, descobri que os cozinheiros latino-americanos e italianos são os preferidos; já a comida dos norte-americanos não é tão apreciada, pelo menos no que diz respeito aos brasileiros a bordo.

Um fato curioso é que no último dia de navegação, quando todos deveriam estar habituados ao balanço do barco, muitas pessoas passaram mal. Em parte, crieio que isso aconteceu porque as ondas estão mais fortes, chegando muitas vezes a molhar o deck. Com isso, a equipe de voluntários ficou desfalcada, então resolvi me candidatar a fazer a vigília de hoje de noite. Vou aproveitar para aprender um pouco sobre a parte mais técnica da navegação pois, durante esse tempo, acompanharei o capitão na ponte de comando. Amanhã, em meu último diário de bordo, revelarei se fiz tudo certo.