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Por que às vezes mandam
a gente passar gelo e às
vezes calor sobre locais
doloridos?

Quando a dor é produzida por contratura muscular,
o calor é indicado, porque relaxa e vasodilata o
músculo, desfazendo a contratura e, assim,
aliviando a dor. Nesses casos, é também possível
sentir alívio momentâneo com o gelo, porque ele
funciona como um anestésico local, mas, em um
segundo momento, haverá agravamento da dor,
pois o frio provocará aumento da contratura
muscular. O uso de gelo é indicado em batidas,
entorses e inflamações agudas porque, além de
anestésico local, o frio age como vasoconstritor,
diminuindo o inchaço e, consequentemente, a dor.

Em que casos a dor indica
perigo de morte imediata?

A dor aguda é um sinal de alarme, que indica que
algo em nosso corpo está errado. A gravidade será
avaliada não só pela intensidade da dor, mas,
principalmente, pelos sintomas e sinais que ocorrem
junto com o quadro de dor. A dor no peito de uma
angina ou infarto, em regra, será acompanhada de
sudorese, mal estar, náuseas e precedida muitas
vezes por um esforço físico.

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Se a dor de cabeça vem
de uma pancada, é
verdade que não podemos
dormir?

Manter uma pessoa que acabou de bater a cabeça
acordada é a forma de avaliar o estado de
consciência dela, explica João Rizzo, membro da
Clínica de Dor do Hospital Moinhos de Vento, de
Porto Alegre (RS). Dormir, em si, não causa danos.
Mas a pessoa tem de ficar em observação, já que
qualquer desmaio e perda de consciência são
indicativos de dano neurológico. E um desmaio pode
facilmente ser confundido com o sono. Se essa
confusão ocorre, sem a pessoa desmaiada receber a
atenção médica adequada, há chances de um
agravamento do estado.

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Qual a pior dor do
mundo?

Alguns médicos acreditam que a pior dor do mundo
seja a da neuralgia do trigêmeo, um nervo que sai da
base do cérebro e se divide em três partes no rosto,
atingindo pálpebras, lateral do nariz, bochechas,
maxilar e mandíbula. É uma doença de causa
desconhecida, e a dor é de extrema intensidade e
violência - como um choque ou uma agulhada -,
porém rápida, e pode levar a consequências graves
como a depressão. De acordo com Newton Barros,
coordenador da Comissão de Dor e de Medicina
Paliativa na Associação Médica Brasileira, há casos
de suicídio de pessoas portadoras desta doença,
principalmente porque ela é desencadeada por
atitudes cotidianas. “A pessoa fica atormentada
porque tem medo de que ela venha ao mastigar ou
escovar dentes. É uma espécie de descarga elétrica
que provoca muita dor”, explica Barros. Há, no
entanto, tratamento com medicamentos ou mesmo
cirúrgico eficientes contra a neuralgia do trigêmeo.
Segundo a Sociedade Brasileira para o Estudo da
Dor, a doença afeta quatro a cada 100 mil pessoas.

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Por que cortar as unhas e
o cabelo não dói?

Porque só dói o que tem terminação nervosa. Unhas e
cabelo são anexos sem inervação própria, como
explica João Rizzo, membro da Clínica de Dor do
Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre. Se
retirarmos a "capa" dos ossos, que se chama
periósteo e é uma fina membrana, veremos que o
osso também não é inervado. O que dói é esta capa.
O mesmo acontece com o cérebro. A inervação está
na capa que se chama meninge. Sem ela, não há dor.
Quando a cabeça dói, nunca é o cérebro. Pode estar
doendo o couro cabeludo, o periósteo do osso do
crânio ou então a meninge.

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Como funciona a
anestesia?

Anestesia, diferente da analgesia, é a interrupção das
sensações do indivíduo. A anestesia tira não só a
sensibilidade dolorosa como também a motricidade e,
dependendo do grau, a consciência. Localmente se
pode utilizar os chamados anestésicos locais, que
interrompem a condução dos nervos. Na anestesia
geral, é cortada a chegada dos estímulos ao cérebro,
praticamente induzindo um estado de coma transitório
em que a dor não pode ser percebida.

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Verdade que os ruivos
são menos sensíveis a
anestésicos?

Estudos comprovam que os ruivos são menos
sensíveis à dor e à anestesia subcutânea, bem como
ao frio. A característica estaria ligada ao gene
mutante MC1R, associado ao cabelo vermelho.
Devido a essa resistência à anestesia, muitos ruivos
sentem mais dores ao ir ao dentista. Por causa disso,
pesquisa publicada no jornal da Academia
Norte-Americana de Odontologia, da pesquisadora
Catherine Blinkey, apontou que os portadores do gene
mutante têm duas vezes mais propensão a evitar o
dentista.

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Mulheres grávidas podem
tomar analgésicos?

Médicos sempre alertam para as restrições, que são
muitas, quanto a qualquer medicação durante a
gravidez, em todas as fases, e também durante a
amamentação. Como regra geral, o ideal é evitar
qualquer medicamento nestes períodos, mas, se
necessário, jamais deve ser por automedicação.
Existem tabelas de segurança que o médico consulta
para a escolha do remédio ideal - analgésicos ou
qualquer outro - que dividem o risco de toxidade das
drogas para o feto durante a gravidez. As categorias
são A, B, C, D e X, sendo as drogas da A
consideradas seguras. De acordo com João Rizzo,
anestesiologista e membro da Clínica de Dor do
Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS),
entre os analgésicos mais utilizados, apenas o
paracetamol e a codeína pertencem a este grupo.

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Antes de tomar
analgésicos é preciso se
alimentar?

Isto não é regra. Existem alguns analgésicos que são
absorvidos de forma mais eficiente quando ingeridos
longe do horário das refeições e outros que devem
ser tomados com alimentos para evitar, por exemplo,
náuseas ou dores no estômago. Existem também os
que não sofrem interferência nenhuma, não
importando se ingeridos com ou sem alimento. Por
isso, a importância de paciente e médico levantarem
esta questão durante a consulta.

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Remédio contra a dor
pode ser consumido com
bebida alcoólica
normalmente?

Não. Toda bebida alcoólica é sedativa e depressora
do sistema nervoso central e, quando álcool e
analgésicos mais fortes são tomados juntos, a chance
de efeitos adversos - como sonolência, tonturas e
perda de coordenação motora - aumenta muito.
Anti-inflamatórios e álcool também irritam o estômago
e podem causar náuseas, vômitos e até gastrites
graves. Nem analgésicos comuns, como o
paracetamol, podem ser ingeridos com álcool, porque
a associação pode causar danos ao fígado. “O álcool
é uma droga que interagirá com as outras e, no caso
do analgésico, não corta o efeito. No fígado, quando
ocorre a interação do paracetamol com o álcool, eles
competem entre si pelo metabolismo e alguns
subprodutos aparecem, que são tóxicos para o órgão.
Quanto maior a dose, tanto de álcool quanto de
paracetamol, maior será o risco de dano hepático, que
pode chegar até a falência total do fígado, o que pode
levar a morte”, explica João Rizzo, da Clínica de Dor
do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS).

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É possível ter prazer com
a dor?

A dor por definição é uma sensação desagradável. O
prazer é algo extremamente subjetivo e ligado ao
momento e ao ambiente vivido. A mesma pessoa que
relata ter prazer em sentir dor em uma relação sexual
não sentirá prazer nem excitação ao martelar
eventualmente o dedo ou quebrar uma perna.

Muitas vezes, o prazer decorre do alívio de uma
tensão, que passa pela dor. É por exemplo o caso de
quem espreme um furúnculo, suportando a dor em
nome do prazer posterior, explica o psicanalista
Alexander Lowen, no livro Prazer: uma abordagem
criativa da vida. O masoquista sexual também
experimentaria uma liberação da tensão, após o
golpe.

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Falar palavrão alivia a
dor?

Não é necessariamente o palavrão, é a descarga
emocional que vem com ele. Nós reagimos com um
palavrão a uma situação de raiva, de dor, e a carga
emocional é enorme. Sabemos, desde criança, que
falar palavrão é feio e, além desta descarga
emocional, ao falar coisas feias ainda estamos
cometendo uma contravenção. “O que ocorre, na
realidade, é que assim modificamos o limiar de dor
por distração. Mudamos o foco da dor para a
descarga emocional e para a contravenção que
estamos cometendo. Nós mobilizamos as vias de
modulação da dor não apenas psicologicamente, mas
também quimicamente”, explica Lúcia Miranda
Monteiro dos Santos, chefe do Serviço de Tratamento
de Dor e Medicina Paliativa do Hospital de Clínicas de
Porto Alegre. Segundo a médica, isso já é mostrado
em pesquisas antigas que provaram que macacos, em
situações inflamatórias em mãos ou pés, suportavam
melhor a dor ao serem distraídos com banana e
outras atividades e, assim, conseguiam mexer melhor
seus membros do que aqueles que não recebiam os
estímulos de distração.

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Algumas pessoas são
mais suscetíveis à dor?

Como a dor é uma experiência física e emocional
desagradável e é um sinal que nos protege, o que
existe é diferença quanto à sensibilidade a dor, e não
ser mais ou menos suscetível. A forma como sentimos
a dor dependerá de experiências prévias dolorosas e,
diferente do que se imagina, quem sofre de dores
crônicas não se acostuma com a dor - pelo contrário.
O paciente fica hipersensibilizado e, muitas vezes,
estímulos táteis podem ser interpretados pelo cérebro
como estímulos dolorosos. Crianças que sofreram
abusos e maus tratos, por exemplo, também são mais
sensíveis. Há também, como explica o médico Newton
Barros, coordenador da Comissão de Dor e de
Medicina Paliativa na Associação Médica Brasileira,
uma questão cultural. Ele cita o exemplo da dor do
parto, tida no mundo ocidental como uma das piores.
“Na China, as meninas crescem ouvindo de suas
mães que o parto não dói. E elas seguem repassando
isso. Não sabemos se elas sentem ou não a dor,
provavelmente sim, mas o que vale é o que a pessoa
diz. Se ela diz que não sente, é porque não sente” diz
Barros.

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A dor depois de se
exercitar é indicativo de
que a atividade fez efeito?

Não. “O velho jargão ‘no pain, no gain’ (sem dor, sem
ganho) rima, mas não é verdadeiro. A dor
pós-exercício continua sendo um alerta de lesão e é
definidora de nossos limites”, afirma João Rizzo, da
Clínica de Dor do Hospital Moinhos de Vento, de
Porto Alegre (RS). Ou seja, se ultrapassarmos nossos
limites e exagerarmos nos exercícios, teremos dor.
Alongamento pode aliviar a dor pós-academia, mas,
se houver exagero, a dor virá por causa do ácido
lático, formado pela respiração anaeróbica dos
nossos músculos. Se o músculo fica contraído por
muito tempo ou sofre exaustão, comprometendo sua
oxigenação, ele passa a respirar com pouca oferta de
oxigênio e se adapta, mas o produto final é essa
substância chamada ácido lático, que produz a dor.

O que é a dor fantasma?

É quando uma pessoa tem alguma parte do corpo
amputada mas continua sentindo dores onde antes
tinha um membro. “É real a dor que um paciente sente
em um pé que já foi amputado. Ele foi amputado
fisicamente, mas o cérebro não percebe isto de
imediato e, como se estranhasse a falta de estímulos
vindos daquela parte do corpo, ele envia mensagens
de dor. Com o tempo, o cérebro tem que ser
reeducado e parar de identificar um membro que já
não está mais ali” explica João Rizzo, membro da
Clínica de Dor do Hospital Moinhos de Vento, de
Porto Alegre (RS).

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A morte dói?

A morte é o cessar de todas as sensações. Os
eventos que precedem a morte podem ser dolorosos,
dependendo da causa, mas o momento em si é
indolor, pela própria definição de morte, como
defendem os médicos. A morte só dói para os que a
assistem.

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É possível morrer de dor?

É possível morrer das consequências de uma dor não
tratada, explica Fabiola Peixoto Minson,
anestesiologista, diretora da Sociedade Brasileira
para o Estudo da Dor e coordenadora do centro de
tratamento de dor do Hospital Albert Einstein, em São
Paulo (SP). “Como exemplo existem as dores agudas
que levam à elevação da pressão, aumento de
batimentos cardíacos e o aumento da chance de
infarto e AVC, caso não sejam controladas. Há
também as dores crônicas que podem levar um
paciente à depressão severa com todas as suas
consequências, que podem evoluir até a morte”,
explica.

O que é insensibilidade
congênita à dor?

É uma síndrome genética extremamente rara.
Pessoas que são portadoras desta doença
apresentam agenesia - ausência - de terminações
nervosas e não sentem nenhum tipo de dor. Precisam
estar sempre atentas pois podem se ferir e não sentir,
muitas vezes gravemente. A automutilação é uma
característica frequente e ocorre, na maioria das
vezes, na boca dos pacientes que mordem língua e
lábios sem sentir.

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Por que a dor de dente é
mais forte à noite?

Na verdade, não necessariamente dói mais à noite,
mas sim quando deitamos. E já que quase todas as
pessoas deitam-se à noite, associou-se este período
do dia com a intensidade da dor de dente. “A dor de
dente é, de uma forma geral, causada pela pulpite. É
a inflamação da polpa dentária, um tecido conjuntivo
especializado localizado no interior do órgão dentário
e revestido de tecidos mineralizados. Quando
deitamos, o fluxo sanguíneo na cabeça aumenta,
causando uma irrigação maior no dente e
consequentemente, aumento da sintomatologia
dolorosa” explica Adriana Corsetti, cirurgiã dentista
bucomaxilofacial.

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Por que a gente sente um
choque quando bate o
cotovelo?

Porque em nosso cotovelo, mais precisamente na
fossa epitróclea olecraneana, passa o nervo chamado
ulnar e, quando batemos esta região, devido à
superficialidade do nervo, sentimos a verdadeira dor
neuropática (de nervo), que neste caso é em "choque
elétrico", explica João Rizzo, da Clínica de Dor do
Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS).

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