A osteoporose, que significa osso poroso, é uma doença que provoca a perda de massa óssea e a desorganização da microarquitetura dos ossos, tornando-os frágeis e desgastados e, assim, mais suscetíveis a fraturas. Idosos de ambos os sexos estão no grupo de risco, mas as mulheres são as maiores vítimas no período pós-menopausa porque perdem densidade óssea mais rapidamente à medida que seus níveis de estrógeno caem nos anos seguintes à menopausa.
A percepção das mulheres e da população em geral sobre a doença foi avaliada em uma pesquisa inédita encomendada pela Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso) ao Ibope. O resultado demonstra muita falta de informação. No universo das mulheres com mais de 45 anos entrevistadas, só 22% citaram a doença como causa de fraturas. A desinformação mobiliza a iniciativa privada e o Governo em campanhas, como a www.sejafirmeforte.com.br promovida pela Abrasso e outras entidades do setor.
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O exame mais indicado atualmente é a densitometria óssea. Esta análise rápida e indolor – uma espécie de radiografia da coluna e do fêmur – consegue quantificar a perda de massa óssea. Até 10% de perda de massa óssea na comparação com um osso saudável, o resultado é considerado normal. Percentuais entre 10% e 25% de perda de massa óssea colocam o paciente na fase da osteopenia, estágio inicial da doença. Acima de 25% de perda de massa óssea é diagnosticada a osteoporose.
Na mesma pesquisa feita pelo Ibope, 60% das mulheres com mais de 45 anos disseram nunca ter feito um exame para detectar a doença.
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Uma em cada três mulheres com mais de 50 anos tem osteoporose. O dado faz parte de uma pesquisa da Fundação Internacional da Osteoporose (IOF, na sigla em inglês) elaborada com dados disponíveis em 14 países da América Latina.
No Brasil, o estudo calcula em 3 milhões as mulheres acima dos 50 anos que vivem com fraturas vertebrais, a maioria sequer possui o diagnóstico de osteoporose. O relatório aponta que nas próximas décadas haverá uma explosão de fraturas por fragilidade em consequência dessa doença. Atualmente, em torno de 20% da população brasileira tem 50 anos ou mais e 4,3% está acima de 70 anos.
Cristina Hoffmann, coordenadora da Área Técnica de Saúde do Idoso, do Ministério da Saúde, estima em 10 milhões as pessoas com osteoporose no país. O mais preocupante, entretanto, é que somente uma em cada três com osteoporose é diagnosticada e, dessas, apenas uma em cada cinco recebe algum tipo de tratamento.
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Duas são as formas de osteoporose: a fisiológica ou primária e a secundária, geralmente desenvolvida em consequência de outras doenças.
A primária é causada pelo próprio processo natural de envelhecimento. No caso das mulheres, ocorre em decorrência da menopausa. A osteoporose pós-menopausa está associada à diminuição da produção de estrógeno pelo corpo. Esse tipo de osteoporose é a de maior incidência.
A primária ocorre principalmente por alterações hormonais, mas pode estar associada ao sedentarismo, tabagismo, etilismo, histórico familiar e dieta inadequada. A soma de diversos fatores faz com que o indivíduo desenvolva a doença.
Já a forma secundária pode se desenvolver por doenças que diminuem a massa óssea: doenças do sistema endócrino, genéticas, inflamatórias crônicas intestinais, renais, difusas do tecido conectivo e hematológicas (do sangue). Pode ser ainda devido à síndrome da má absorção, baixa ingestão de cálcio, distúrbios alimentares, câncer ou por cirurgias gástricas e do sistema digestivo.
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Até os 30 anos, o organismo sozinho consegue manter o equilíbrio entre os processos de destruição (reabsorção) e formação. O osso velho é destruído por células chamadas osteoclastos e restituído por células reconstrutoras: os osteoblastos.
A partir daí, a perda óssea aumenta gradativamente como parte do processo natural de envelhecimento, mas o processo de formação não consegue acompanhar. Por isso, é preciso fornecer cálcio ao organismo. Quem pratica atividade física regularmente tem ossos saudáveis e mais fortes porque os exercícios ajudam na recomposição óssea.
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A osteoporose é consequência do envelhecimento e afeta principalmente as mulheres nos anos seguintes à menopausa, quando o corpo perde a densidade óssea com a queda dos níveis de estrógeno. Diversas doenças que causam a perda de massa óssea são capazes de contribuir para o desenvolvimento, assim como a falta de exercício físico, o fumo, o consumo de bebida alcoólica, a má alimentação e o histórico familiar.
A doença é causada pelo desequilíbrio entre as células que produzem a substância óssea e as células que destroem a substância óssea, afetando o ciclo normal de renovação. A perda de substância óssea torna-se tão acentuada que mesmo as atividades cotidianas de esforço mínimo podem provocar fraturas.
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Elas são maioria no grupo de risco da osteoporose. Estudos apontam que no Brasil cerca de 30% das mulheres têm a doença no período pós-menopausa. Nesse período da vida, os níveis de estrógenos – hormônio produzido no ovário e responsável pela fixação do cálcio – caem muito e essa baixa hormonal contribui para a evolução da doença.
Diante desse cenário, os médicos recomendam às mulheres a partir dos 45 anos fazerem exames de densitometria óssea para avaliar a saúde óssea.
Apesar da alta incidência após a menopausa, o desconhecimento entre as mulheres preocupa, como mostra a pesquisa do Ibope encomendada pela Abrasso. A menopausa é mencionada apenas como quinto fator que pode desenvolver a doença, por 11% das mulheres com mais de 45 anos. Nesta faixa etária, 20% não sabem o que leva a desenvolver a doença.
Confira a tabela: O que leva a desenvolver a osteoporose
Fonte: Ibope
Além dos idosos acima dos 70 anos, as pessoas com baixo peso, de raça branca e com histórico de doença na família são mais suscetíveis a desenvolver o problema. Fumo, ingestão de bebida alcoólica, falta de atividade física, dieta pobre em cálcio e pouca exposição à luz solar contribuem para o maior risco.
“A combinação de fumo, álcool e sedentarismo aumenta o risco de fratura. Pior do que fumar para desenvolver a osteoporose, só se a mãe do paciente também teve a doença”, afirma o médico Bruno Muzzi Camargos, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso).
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O uso contínuo de alguns medicamentos pode agravar ou acelerar a perda de massa óssea, levando ao desenvolvimento da osteoporose. Entre estes estão a heparina, corticosteróides, retinóides, extratos tireoideanos, lítio, cádmio, metotrexate, hidantoinatos e gardenal. Nesses casos, o próprio médico que prescreve essa medicação deve entrar com tratamento para contornar a perda de massa óssea.
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Comum em adultos mais velhos e idosos, a osteoporose pode afetar também crianças e adultos jovens em situações adversas, com portadores de doenças crônicas ou aqueles submetidos a tratamentos prolongados durante a fase de crescimento.
A osteoporose juvenil pode ser consequência de uma série de doenças que causam perda de massa óssea, sejam elas genéticas ou não. O estilo de vida também pode desencadear o problema, como a inatividade excessiva, a desnutrição e o excesso de exercício físico que pode levar à amenorreia, como é chamada a ausência regular de menstruação. Durante os 12 meses do ano, é considerado normal a mulher ter até três ciclos com atrasos, superior a isso é bom procurar o médico.
Em crianças, a osteoporose pode causar dor nas costas, nos quadris e nos pés e às vezes até dificuldade para caminhar. Dor no joelho, tornozelo e fraturas das extremidades inferiores são possíveis. Mas assim como nos idosos, o diagnóstico na infância normalmente é feito apenas quando a criança tem um osso fraturado.
Em qualquer de suas formas, a osteoporose se desenvolve sem apresentar sintomas por longos períodos. As primeiras manifestações clínicas costumam ocorrer quando a perda de massa óssea já superou níveis de 30%, 40%, normalmente quando uma queda boba se traduz em fratura. A ausência de sintomas torna fundamental a prevenção e o tratamento precoce.
Levando em conta que o número de mulheres em risco de desenvolver osteoporose após a menopausa aumenta à medida que a população vai envelhecendo, é fundamental identificar com antecedência quais as que se encontram em risco de sofrer fraturas. Das entrevistas com mais de 45 anos pelo Ibope, 13% confirmaram ter sofrido fraturas após os 40 anos. Após esse incidente, 36% delas disseram que a qualidade de vida piorou um pouco e 26% piorou muito.
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Na maior parte dos casos, as fraturas em pessoas com ossos enfraquecidos ocorrem após uma simples queda ou uma batida durante uma atividade cotidiana.
Depois da fratura acaba vindo o diagnóstico da osteoporose e o paciente é obrigado a conviver com a dor crônica, a incapacidade e a piora da qualidade de vida. No caso das fraturas de quadril, o paciente quase sempre precisa de hospitalização e cirurgias de grande porte. Esses casos estão associados ao maior risco de morte.
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De acordo com a Fundação Internacional de Osteoporose, uma em cada três mulheres e um em cada cinco homens acima de 50 anos sofrerão uma fratura decorrente de osteoporose até o fim de sua vida. Em todo o mundo, estima-se que uma fratura causada pela osteoporose ocorra a cada três segundos, e uma fratura vertebral a cada 22 segundos.
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Dores nas costas normalmente são associadas a problemas posturais. Mas esse desconforto já pode ser um sinal do corpo de que o osso está microfraturado em consequência da osteoporose. Estudo divulgado pela Fundação Internacional de Osteoporose (IOF, na sigla em inglês) revela os preocupantes números de fratura de coluna. Atualmente 27,5% das mulheres e 31,8% dos homens com mais de 65 anos apresentam problemas nesta área do corpo, sinais que costumam aparecer na forma das populares corcundas. Em um universo de 21 milhões de brasileiras com mais de 50 anos, a estimativa é de que 3 milhões vivam com este tipo de fratura sem saber. As microfraturas causam dor, incapacidade de realizar atividades diárias e podem diminuir a altura do paciente em até seis centímetros.
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Diagnosticada a osteoporose, cabe ao médico avaliar os fatores de risco que possam levar a uma fratura. Além da densitometria óssea, os especialistas têm a disposição uma ferramenta desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde que ajuda calcular a probabilidade de uma pessoa sofrer uma fratura nos próximos dez anos.
Ela combina a densidade mineral a oito fatores e revela o risco absoluto de fraturas de fêmur, quadril, vértebras e pulso. Essa conta é importante porque ajuda a montar um tratamento que garanta melhoria na qualidade de vida dos pacientes.
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A osteopenia é o estágio intermediário de perda de massa óssea entre uma pessoa saudável e uma com osteoporose. Essa fase é a ideal para começar o tratamento. Mesmo assim, as pessoas com essa doença apresentam riscos aumentados de fraturas e devem ser acompanhadas por especialistas. Nem todas as pessoas diagnosticadas com osteopenia, entretanto, desenvolverão osteoporose.
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A osteoporose caracteriza-ser por ser uma doença multidisciplinar que pode ser tratada por inúmeros especialistas. Ginecologistas acompanham as transformações hormonais da mulher. Os reumatologistas por causa das doenças reumáticas que podem levar à osteoporose. Os endocrinologistas em consequência das doenças endócrinas. Os ortopedistas no caso das fraturas. Os geriatras por tratarem dos idosos. E os oncologistas por prescreverem medicamentos que afetam a massa óssea.
A pesquisa da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso) encomendada ao Ibope, no entanto, aponta que o clínico geral é o médico que primeiro toca no assunto com os pacientes.
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O osso é um tecido vivo em constante atividade. É formado por colágeno (proteína), cálcio e minerais. Cada osso é composto por uma camada externa de osso cortical e uma interna de trabecular, conhecido como esponjoso pela sua aparência. Depois dos 30 anos a capacidade de regeneração diminui. Esse processo atinge com maior frequência os ossos trabeculares aos corticais, por causa da sua composição esponjosa (como nas vértebras e nos punhos). Bem mais tarde, os ossos de composição mais cortical começam a fraturar (como o quadril). Presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso), Bruno Muzzi Camargos, detalha que 80% da massa óssea é herança genética, se parece com os dos antepassados. Apenas os 20% restantes são reflexos do ambiente em que cada indivíduo vive.
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A osteoporose pode aumentar a incidência de quedas na terceira idade. Os tombos e as consequências da doença para os idosos no Brasil têm assumido dimensão de epidemia, atesta o Ministério da Saúde. Os custos para o idoso que cai e acaba se fraturando são grandes e repercutem em toda a família.
Para o sistema de saúde, as despesas para atender esses pacientes são elevadas e crescentes. Em 2011, o Governo Federal gastou quase R$ 80 milhões com internações de idosos que sofreram fraturas.
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