Carnaval da Bahia homenageia 50 anos dos blocos afro

O carnaval está chegando. E, na Bahia, os blocos afro serão homenageados neste ano de 2024, de acordo com o governo do estado.

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O anúncio sobre o carnaval foi feito pelo secretário estadual de Cultura, Bruno Monteiro, após reunião com representantes do segmento. A gestão baiana destacou diversas ações preparadas pela pasta para enaltecer o protagonismo dos blocos de matriz africana.

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Além disso, foram revisadas as ações realizadas desde o ano anterior, como a formação de um grupo de trabalho destinado à expansão do Carnaval Ouro Negro, com ideias futuras sendo apresentadas.

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Serão destinados cerca de R$ 15 milhões para o programa que concede apoio financeiro às entidades de matrizes africanas como blocos afro, afoxés, samba, reggae e blocos de índio, para a realização dos seus desfiles carnavalescos. O aporte deste ano é o maior já disponibilizado pelo edital.

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Concebido em 2008, o edital Ouro Negro concede apoio financeiro às entidades de matrizes africanas como blocos afro, afoxés, samba, reggae e blocos de índio para a realização dos seus desfiles carnavalescos.

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“Nós assumimos o compromisso no ano passado, o Ouro Negro já traz isso: ampliar o apoio para as lavagens, para as festas populares, para micareta de Feira de Santana, para os Carnavais do interior, mas nós estamos estudando também, a partir dos recursos da Lei Aldir Blanc, um apoio continuado a essas entidades. O nosso entendimento é que elas não fazem só Carnaval, elas fazem cultura e a cultura é o ano todo”, frisou Bruno Monteiro, Secretário de Cultura da Bahia.

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“Nós estamos fazendo, neste momento, um balanço do Carnaval do ano passado, com a ampliação do Ouro Negro, com a ampliação de projetos e, justamente, essa homenagem que ressalta o protagonismo que eles fazem, que eles têm nessa exaltação dessa energia ancestral, que é o Carnaval da Bahia”, explicou.

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Salvador é a capital do axé, ritmo da Bahia que caracteriza o Carnaval e foi introduzido, na década de 50, pela dupla de músicos Dodô e Osmar. Isso aconteceu a partir de uma mistura do frevo Pernambucano e da guitarra elétrica.

Foto: movimento Négritude

Os trios elétricos também são uma das principais marcas, eles percorrem os circuitos do carnaval levando renomados artistas nacionais. Juntamente com os "blocos" de carnaval, eles criam uma atmosfera festiva e proporcionam uma interação direta entre os artistas e os foliões.

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Primeiro bloco afro do Brasil, o Ilê Aiyê celebra meio século de existência neste ano. Fundado em novembro de 1974 ,por Antônio Carlos dos Santos Vovô, conhecido como o Vovô do Ilê, o bloco foi criado na mesma época do surgimento de vários movimentos que lutavam e incentivavam a valorização da cultura negra.

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Na época, surgiu o movimento Négritude, da prisão de Angela Davis (EUA). Além disso, teve a criação do Dia da África (ONU) e a independência de vários países africanos, como Cabo Verde, Angola e Moçambique, entre outros eventos.

Foto: Reprodução/@secultba

O bloco Ilê Ayê chegou com uma proposta até então inédita no país: formado exclusivamente por negros. Na ocasião, a ideia desagradou vários setores da sociedade, mas não houve desistência e o projeto seguiu em frente.

Foto: Divulgação/SecultBA

Sediado no terreiro Ilê Axé Jitolu, localizado na ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade em Salvador, o bloco ocupou uma periferia majoritariamente negra da capital baiana. Nesse local, o Ilê funcionou por aproximadamente 20 anos, onde foi estabelecido a diretoria, a secretaria, o salão de costura e a recepção de associados.

Foto: Divulgação/SecultBA

Em 1975, o bloco saiu às ruas da capital baiana pela primeira vez, com o Vovô do Ilê tocando timbal. Aliás, o nome que ele tinha pensado para o bloco era bem diferente. Inicialmente, ele queria que o bloco ganhasse o nome de “Povo Negro”. 

Foto: Instagram @vovodoile_oficial

No entanto, diante do racismo que havia na época, ele consultou Mãe Hilda, que desaconselhou o uso desse nome. Ela era tida como conselheira espiritual, e o nome vem do idioma iorubá, utilizado durante séculos em diversos países do continente africano, como Nigéria, Benim, Togo e Serra Leoa.

Foto: Instagram @vovodoile_oficial

Nesse idioma, a palavra Ilê significa casa, e Aiyê, significa terra. Por isso, a tradução do nome pode ser entendida como “nossa casa” ou “nossa Terra”, indicando a ligação do bloco com as heranças dos orixás e com os costumes sociais e culturais da mãe África.

Foto: Reprodução/Instagram

Em 1978, o artista Jota Cunha criou a identidade visual do bloco: uma máscara. A máscara africana com quatro búzios abertos na testa e que formam uma cruz foi batizada de perfil azeviche. A máscara, que pode receber outros nomes dependendo de cada etnia, é um objeto ritualístico importante em diversas culturas africanas, representando a natureza, a humanidade, a coletividade e a transcendência espiritual.

Foto: Flickr/ANTONIO SIMOES

Além da máscara em si, suas cores também carregam diversos significados. O azeviche, por exemplo, é um tipo de mineral negro que é associado ao barro preto das terras de Liberdade e, ao mesmo tempo, à pele negra.

Foto: Divulgação/SecultBA

Já os traços brancos representam a paz e o amarelo faz referência à beleza e riqueza cultural. O vermelho, por sua vez, lembra o sangue do povo negro que foi derramado durante as lutas por libertação.

Foto: Flickr/Sidney Rocharte

Dete Lima, estilista do Ilê Aiyê, desenvolveu os turbantes com amarração e as fantasias com tecidos estampados. Além disso, o Ilê também resgatou o uso de enfeites de palha, contas e búzios em suas roupas e adereços. Isso permitiu a formação de um visual rico de cores, texturas e sensações.

Foto: Alex Carvalho/Wikimédia Commons

A agremiação carioca União do Parque Acari, da série Ouro - segunda divisão do Carnaval Carioca, fará uma homenagem aos 50 anos do Bloco Ilê Aiyê, considerado o primeiro bloco afro do Brasil. A escola abre a sexta-feira de carnaval (9 de fevereiro) na Marquês de Sapucaí.

Foto: Divulgação/União do Parque Acari

Já o grupo Olodum foi fundado em 1979, no Centro Histórico de Salvador e celebra 40 anos de história, arte e cultura afro brasileira. Tombado pela ONU como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado da Bahia, o grupo tornou-se uma das mais importantes expressões da música mundial.

Foto: Instagram @olodum_oficial

No primeiro momento, o bloco afro foi criado como opção de lazer para os moradores de Maciel/Pelourinho. O intuito era garantir o direito de brincarem o carnaval de maneira organizada e mostrar a origem, história e cotidiano da população negra do centro de Salvador.

Foto: Instagram @olodum_oficial

Olodum é uma palavra de origem yorubá e, no ritual religioso do candomblé, significa “Deus dos Deuses” ou “Deus maior”. Olodumaré, portanto, não representa um orixá, mas sim o Deus criador do Universo.

Foto: Instagram @olodum_oficial

A sua sede, 'A casa do Olodum', é um espaço que visa combater a discriminação social e racial, estimular a auto-estima e o orgulho dos afro-brasileiros. Além disso, procura disseminar a cultura e assegurar os direitos civis e humanos das pessoas marginalizadas na Bahia e no Brasil.

Foto: Reprodução/Youtube Canal Rede Portal

As cores do Olodum formam a base do Pan-africanismo, Rastafarianismo e do Movimento Reggae. A cor verde representa as florestas equatoriais da África, enquanto o vermelho é o sangue da raça negra. O amarelo, por sua vez, remete ao ouro da África, o preto é o orgulho da população negra e o branco, a paz mundial.

Foto: Instagram @olodum_oficial

A ONG Olodum criou também, em 1983, o projeto Rufar dos Tambores cujo o objetivo era desenvolver iniciativas que promovessem cultura e educação para as crianças e adolescentes da comunidade do Pelourinho. O resultado dessa iniciativa foi a primeira Banda Mirim do Olodum.

Foto: Instagram @olodum_oficial

Itapuã, o bairro mais musical de Salvador, também é sede do Bloco Afro Malê Debalê. Entidade do movimento negro que resiste a mais de quatro décadas no cenário musical baiano. O bloco marcou os anos 80 e 90 pela afirmação da luta contra o racismo e pela ocupação de espaços pelo povo negro.

Foto: Instagram @maledebaleoficial

O Malê se consagra através de canções, danças e fantasias que levam para os circuitos do Carnaval de Salvador questionamentos e reflexões sobre a história e vida de seu povo. O bloco nasceu de jovens moradores de Itapuã, em consonância com outros que residiam em bairros como o Garcia e o Tororó.

Foto: Instagram @maledebaleoficial

Os jovens traziam a vivência de outras entidades culturais negras como o Melô do Banzo, Apaches do Tororó, Ilê Aiyê, Badauê e Diplomatas de Amaralina. A entidade se tornou promotora de valores e significativa para a cultura negra. Além de um espaço de afirmação positiva da história, do bairro de Itapuã, da Lagoa do Abaeté e de seus arredores.

Foto: Instagram @maledebaleoficial

O nome “Malê” é em homenagem aos negros muçulmanos que, em 1835, realizaram um importante feito na história do Brasil, intitulado de Revolta dos Malês. Já o nome “Debalê”, criado pelos fundadores do bloco, traduz, de acordo com o fundador Josélio de Araújo, uma conotação de “positividade”, felicidade, ou qualquer tradução de caráter afirmativo.

Foto: Instagram @maledebaleoficial

A Banda Didá faz parte da instituição cultural "Associação Educativa e Cultural Didá". É uma banda exclusivamente feminina de Salvador. Foi fundada em 13 de dezembro de 1993 pelo músico Neguinho do Samba (um dos fundadores do Olodum), com apoio inicial do cantor Paul Simon.

Foto: Flickr/ Marcelo Guedes

Além da banda, a Didá mantém ações sociais e educativas visando a igualdade entre homens e mulheres. Seu nome "didá" é uma palavra iorubá que significa “o poder da criação”. Apenas mulheres têm acesso à sede e trabalhos do grupo, com exceção para meninos até os dez anos de idade. A maioria de seus professores são também mulheres.

Foto: Flickr/Tatiana Azeviche

Desde então, a banda feminina Didá já tocou em El Salvador, Espanha, Estados Unidos, França, República Dominicanae Ucrânia. Além de, para quem não se lembra, no show de encerramento da Copa do Mundo de 2014, no Maracanã, com Carlinhos Brown.

Foto: Divulgação

Elas também desempenham um importante trabalho de assistência social em Salvador acolhendo crianças e mulheres por meio da dança, capoeira e percussão. Além de promoverem rodas de conversa e distribuição de alimentos para as famílias da região. A banda reconhece a força e o valor das mulheres pretas, que brigam por seus direitos diante de uma sociedade extremamente machista, racista e desigual.

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A banda Cortejo Afro nasceu às margens da Bacia do Cobre, no Parque São Bartolomeu, em Salvador, nos limites do Ilê Axé Oyá. A criação aconteceu em 2 de julho de 1998 e, desde então, o grupo desenvolve trabalhos ligados à estética e à cultura africana. Além disso, faz Seminários e Exposições; Cursos de formação profissional; Intercâmbios culturais e Feiras de incentivo ao empreendedorismo.

Foto: Divulgação

A vertente musical da Banda Cortejo Afro une dança, música e artes visuais em um mesmo espetáculo. Nas apresentações, o grupo ressalta a autenticidade das influências africanas em nossa música, promovendo experiências estéticas e releituras musicais inovadoras. Também busca transmitir alto astral através de suas roupas e coreografias ricas em movimentos ligados à cultura afro.

Foto: Divulgação

Sua origem aconteceu dentro dos limites de um terreiro de candomblé, o Ilê Axé Oyá. Tudo sob a inspiração e orientação espiritual da Yalorixá Anizia da Rocha Pitta, Mãe Santinha, o que atesta toda a sua identidade, autenticidade e força.

Foto: Divulgação

A banda e o bloco foram idealizados pelo artista plástico Alberto Pitta que, há mais de 40 anos, faz trabalhos ligados à estética e à cultura africana. A entidade, envolvida com esta proposta, desenvolve trabalhos sociais junto à sua comunidade durante o ano inteiro.

Foto: Flickr/INACIOTEIXEIRA

Nos preparativos para o Carnaval 2024, o Cortejo promete levar para o evento toda a sua sonoridade afro e inovadora, mostrando ao público a elegância e a força de sua batida percussiva. Em janeiro de 2024, o grupo tem feito ensaios de verão em Salvador e chamado a atenção no pré-carnaval.

Foto: Instagram @cortejoafro

Por fim, Filhos de Gandhy é um afoxé brasileiro fundado por estivadores portuários de Salvador no dia 18 de fevereiro de 1949. O grupo conta com aproximadamente 10 mil integrantes e é constituído exclusivamente por homens e inspirado nos princípios de não-violência e paz do ativista indiano Mahatma Gandhi.

Foto: Instagram @gandhyoficial

O bloco traz a tradição da religião de matriz africana ritmada pelo agogô nos seus cânticos de ijexá na língua iorubá. Utilizaram lençóis e toalhas brancas como fantasia, para simbolizar as vestes indianas. A vestimenta contém o turbante, um perfume de alfazema e colares azul e branco. Os colares são oferecidos para os admiradores como forma de desejar-lhes paz durante o carnaval e ao longo do ano.

Foto: Instagram @gandhyoficial

As cores dos colares fazem referência à Oxalá, que é o orixá maior. O branco e o azul intercalados são o fio-de-contas do Oxalá menino, o Oxaguiã. Elas correspondem: o branco a Oxalufã, seu pai, e o azul, a Ogum, de quem é inseparável. As contas são amuletos da sorte.

Foto: Instagram @gandhyoficial

O desfile começa com um padê para Exu, oferenda para abrir caminhos e garantir que tudo transcorra em harmonia. No percurso, os Filhos de Gandhy espalham pipoca e borrifam alfazema nas pessoas e ruas. A pipoca serve para sugar energias negativas e também é a “comida de santo do orixá Obaluaê”. Já a alfazema purifica o ambiente e atrai energias positivas. Tudo acontece ao som do ijexá, um toque de tambor de origem africana.

Foto: Instagram @gandhyoficial

A sede Associação Cultural, Recreativa e Carnavalesca Filhos de Gandhy está localizada no Pelourinho e sua administração funciona o ano inteiro, desde 1983. Um dos projetos de grande importância que foi fundado em 1996, o Gandhy Social, com foco educacional ligado a crianças de comunidades carentes. A sede se tornou um ponto de parada de turistas de todo o mundo que visitam o Centro Histórico de Salvador.

Foto: Instagram @gandhyoficial

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