GURIGNARD
SEM RETOQUES
Através
das lentes de um fotógrafo amador
José
do Patrocínio Andrade era neto do Barão de Saramenha. Nasceu em
Mariana no ano de 1914. Durante 35 anos trabalhou no Tribunal
de Contas do Estado de Minas Gerais. Mas era a fotografia sua
devoção maior. Com uma Rolleicord formato 5 x 5 e uns poucos filtros
especiais, Juquinha, assim chamado carinhosamente por sua mulher
Clélia fotografava igrejas, paisagens, monumentos e prédios públicos,
a família, pessoas, personagens. Vida afora ia aprisionando instantes
de rara beleza que seus olhos sensíveis captavam, antes que se
desmanchassem no ar.
Ainda
que amador, mas com talento de gênio, Juquinha não pode ser considerado
fotógrafo menor. Sua obra evidencia o cuidado no enquadramento,
iluminação, abertura e velocidade. E cortes precisos de cada detalhe.
Mais do que disciplina e rigor no trato com a técnica, esse artista
anônimo por acaso servidor público era capaz de flagrar, no
cotidiano sem graça, coisas que não enxerga o olho comum: ângulos,
momentos, luz e sombra, no instante mesmo em que configuram cena
de acabada perfeição.
Examinar
o primoroso acervo de Juca Pato um outro apelido, este dado
pelos amigos é se deparar com um arquivo de alguém que construiu
e guardou seu trabalho com desvelo e requinte. Fotos conservadas
com esmero, tendo no verso o carimbo "José do Patrocínio Andrade
Fotógrafo Amador Belo Horizonte" . Algumas afixava em paspatur.
Pequenos envelopes de papel manteiga protegem os negativos. A
câmera continua no estojo original: marrom. Filtros embalados
em saquinhos de feltro, identificados por fora pela cor do bordado
em cada um, permanecessem perfeitos em seu invólucro.
Entre
os exatos 2.256 que o tempo preservou, um achado surpreendente:
Mestre Guignard, amigo especial de Juquinha, retratado em uns
poucos momentos de intimidade. E enquanto tomado pelo êxtase da
criação. O trabalho, realizado no período de 1949 a 1961, constitui
uma belíssima coleção, quase toda inédita e exclusiva. Fotos do
pintor, diferentes daquelas já de domínio público, registram sua
passagem por Belo Horizonte e Ouro Preto. Nelas, a revelação do
mestre com seus primeiros alunos, em meio a tantos de igual importância
no mundo das artes.
Ainda:
a antiga Escola Guignard, no Parque Municipal, quando do início
de sua construção, idealizada por Juscelino Kubitscheck. Admirador
e amigo fiel, Juca Pato fotografou Guignard até 1961, pouco antes
de sua morte, um no depois. Sua última foto do "Mestre-Artista
e Artista-Mestre", como definiu o filósofo Moacyr Laterza ao lado
de Rafael, filho do fotógrafo - capta o instante em que contemplava
do alto, Ouro Preto.
Talvez
possuído pela inspiração para outro quadro porque, obcecado, sempre,
em concretizar seu traço único e genial: Cubista como querem uns,
Modernista como sentenciam outros.
O
projeto "Guignard sem retoques - através das lentes de um fotógrafo
amador" é mais do que uma proposta para a divulgação de um
fotógrafo desconhecido. Por certo, traz à luz sua obra. Dever
de ofício tornar pública esta arte até então guardada a sete chaves.
Fotografias que tiveram sua origem em olhos privilegiados, argutos
e observadores. Olhos que o cotidiano, que tudo embaça, não conseguiu
encher de noite.
Impossível
para os pósteros, adivinhar que trabalhos o autor haveria de eleger
seus preferidos. Daí escolher poucos, entre milhares de fotos,
é ofício rebeldia. E, certamente, não expõe a beleza e a grandiosidade
que apenas a obra de José do Patrocínio Andrade, em seu conjunto,
revela.
"Guignard
sem retoques - através das lentes de um fotógrafo amador"
desnuda um paradoxo: brincadeira e possibilidade concreta. O amador
e sua Rolleicord registrando o profissional da tela, dos pincéis,
da paleta e da cor. Num certo sentido, irmãos. O olhar atento
de ambos perscrutava o mundo enxergando nele a perfeição da forma.
Igualados os dois pela obsessão divina de criar, deixaram para
as futuras gerações a prova de sua maestria e paixão.
Descrição
"Guignard
sem retoques através das lentes de um fotógrafo amador"
configura um livro, que apresenta parte obra da fotográfica de
José do Patrocínio Andrade, com destaque para uma série de fotos,
inéditas em sua maioria, de Alberto da Veiga Guignard.
Consta
do volume uma seleção de fotos que retratam pessoas, paisagens,
prédios públicos, igrejas, instantes. Comentam a produção de José
do Patrocínio Andrade fotógrafos profissionais cuja bagagem qualifica
uma leitura técnica e artística de inúmeros quesitos: enquadramento,
luz, sombra, corte e detalhes, a partir de paradigmas rigorosos.
Textos
sobre a vida e obra de Mestre Guignard ficam a cargo de artistas
plásticos, críticos, profissionais das artes plásticas e ex-alunos
do Mestre.
A
tiragem prevista de "Guignard sem retoques através das lentes
de um fotógrafo amador" é de 4.000 exemplares. A obra
tem, como alvo primeiro, o público diretamente relacionado às
artes plásticas e gráficas em geral. Seu destino são estudantes,
profissionais, professores, fotógrafos, colecionadores e amantes
das artes.
O
lançamento do livro é parte de um projeto maior que prevê a exposição
do acervo de José do Patrocínio Andrade, com realce para as fotografias
de Guignard reproduzidas no volume, bem como um coquetel oferecido
aos convidados.
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