Solly Boussidan/Especial para o Terra
Direto de Tbilisi
Diz a lenda que Tbilisi foi escolhida para ser a capital da Geórgia pelo Rei Vakhtang Gorgasali de Kartli, quando o rei estava caçando nos arredores da atual cidade, durante o século V, um faisão miraculosamente despencou em cima de uma das muitas piscinas naturais de águas termais da cidade e se transformou no jantar real daquele dia. Por mais encantadora – ou bizarra – que a história seja, a realidade é que há evidências de que Tbilisi existe há mais de 2400 anos. A cidade só não foi a capital da Geórgia durante os períodos de invasão persa, árabe e mongol, quando a vizinha Mtskheta tornou-se o centro político do país.
Tbilisi é sem dúvida a cidade mais descontraída e charmosa do Cáucaso. A cidade é rodeada por montanhas e um dos marcos mais visíveis é uma gigantesca torre de TV, que durante a noite é completamente iluminada e lembra uma gigantesca discoteca.
A primeira impressão é que as pequenas ruelas ladrilhadas do centro velho de Tbilisi estão caindo aos pedaços. As casas de mais de um século de madeira com grandes varandas de suporte metálico parecem que estão prestes a despencar. Mas esse é justamente o charme da cidade, que conserva sua arquitetura pré-soviética (os subúrbios residenciais são típicos blocos de concreto com pouca imaginação, ainda herança do regime de Moscou). Muitos desses casarões foram completamente reformados internamente e são extremamente confortáveis e modernos. Os georgianos, mesmo assim, adoram dizer que é impossível encontrar uma porta totalmente reta na cidade.
Tbilisi é cortada pelo rio Mtkvari e às suas margens é possível ver pontes antigas, arquitetura típica e algumas construções ultramodernas como a nova ponte de Tbilisi, completamente iluminada durante a noite, além de um dos prédios mais detestados pelos habitantes da cidade – a residência presidencial, que é uma cópia em miniatura do parlamento alemão e destoa do restante da cidade.
Além do rio, o turista tem alguns outros importantes pontos de referência na cidade. O primeiro e mais óbvio é a Praça da Liberdade (Moedani Tavisupleba), com uma gigantesca estátua de São Jorge em seu centro. A prefeitura e o principal escritório de informações turísticas do país ficam em um lindo prédio nesta praça, onde também se encontram hotéis, albergues e museus.
A elegante e moderna avenida Rustaveli incia-se na praça e conta com lojas de grife, agências de viagem, o parlamento nacional, igrejas e o prédio da Ópera. Foi nesta avenida que o exército vermelho da União Soviética massacrou manifestantes que exigiam mais democracia e independência.
Na direção contrária, também saindo da Tavisupleba, está a tortuosa Rua Ledselidze. Além de bons restaurantes, cafés e sorveterias, o visitante encontra adegas de vinho, lojas de artefatos religiosos e suvenires. Esta também é uma das ruas mais interessantes em termos religiosos – uma caminhada de poucos metros revela uma igreja franciscana e outra ortodoxa, um monastério georgiano, uma pequena sinagoga askenazita (dos judeus da Europa oriental), uma gigantesca sinagoga sefaradita (dos judeus de origem espanhola e do Oriente Médio) e a única mesquita em funcionamento na cidade.
A partir de uma viela da Ledselidze chega-se à boêmia Rua Shardenis, local de algumas lojas de roupa badaladas, bares über-fashion, cafés que atendem por nomes sugestivos como KGB, Literatura, África e Caixa-Forte (veja a seção serviços para mais detalhes), além de dezenas de estátuas de bronze, que fazem a festa dos fotógrafos de plantão.
Ao final da Ledselidze, chega-se a uma pracinha, a Gorgasalis Moedani, com vista panorâmica das montanhas e área antiga da cidade. Do outro lado do rio é possível avistar o ponto onde a cidade começou, com uma gigantesca estátua do místico Rei Vakhtang em um cavalo de frente a uma pitoresca igrejinha.
Na margem leste do rio, estão mais cafés, uma vista multicolorida dos casarões da cidade, a Fortaleza de Tbilisi e a gigantesca estátua da pátria Geórgia. Partindo daí é possível visitar o jardim botânico da cidade e uma das atrações mais recomendadas e típicas do país – os banhos sulfurosos. Há diversos deles em volta da pequena Rua Abano. O mais famoso de todos é o Orbeliani, com uma fachada em estilo persa de azulejos azuis. Datando do século XVII, ele certamente não é o mais luxuoso dos banhos públicos, mas é o mais tradicional. Os banhos são comunais com homens e mulheres separados, mas completamente nus. É possível, além da sauna e piscina, realizar massagens de espuma e esfoliação a preços simbólicos. Para quem quer mais privacidade há também cabines individuais. Entre os famosos que se banharam aqui estão o romancista francês Alexandre Dumas e o poeta russo Alexander Pushkin. A experiência é imperdível.