Nathalia Perdomo/Direto do Rio de Janeiro
Atrás da Praia do Leme, a menos de 200 metros, há duas comunidades pacificadas com aproximadamente seis mil moradores. Subindo pela ladeira Ary Barroso, do lado esquerdo, a Babilônia; do lado direito, Chapéu-Mangueira.
No dia 20 de novembro, na base que divide os morros, havia agitação e música alta pelo Dia da Consciência Negra, celebrado com feijoada na quadra da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica). Na entrada, havia também uma movimentação de turistas, hóspedes de um albergue da Babilônia.
Antes da pacificação, o cenário era muito diferente. Claudio Batista, 34 anos, mora com a família na comunidade Chapéu-Mangueira desde que nasceu. Ele lembra a época em que ouvia tiros e via a guerra de perto. “Muita coisa mudou, principalmente para as crianças. Elas não veem mais o bandido com arma na rua. Antes, aquilo era uma referência, de certa forma, e muita gente almejava aquele falso poder”, comenta.
Cláudio é jogador profissional de beach soccer e dá aula para jovens da comunidade na Praia do Leme. O projeto é uma parceria do governo do estado e da prefeitura com o Junio Negão. Na quadra da Faetec, o mestre Marcelo Penca ensina jiu-jitsu também para crianças e adolescentes. Todos os programas sociais são gratuitos.
Hoje é possível andar tranquilamente pelas escadarias e ver o contraste ainda assustador entre o morro e o asfalto. Apesar das casas sem emboço, quem vê de baixo não imagina que, lá em cima, muitas famílias vivem em condição de pobreza absoluta.
A vista do barraco da dona Maria Regina é espetacular. As praias do Leme e de Copacabana conseguem esbanjar ainda mais beleza do alto. Mas, atravessando a porta, a realidade é desvelada. Ela mora sozinha em um barraco de pau-a-pique sem banheiro. Para substituir o vaso sanitário, Maria Regina usa um balde. Conhecendo sua história, é nítido perceber que a prefeitura do Rio e o governo do Estado ainda têm muito trabalho pela frente.
Favela para turista verA comunidade Chapéu-Mangueira está localizada na encosta do Morro da Babilônia, que pertence a uma Área de Proteção Ambiental. Lá de cima, a leste da comunidade, estão o Monumento Natural do Pão de Açúcar, o Morro do Urubu e do Leme e a Praia Vermelha. Aos pés da Babilônia, Urca e Botafogo se interligam.
A trilha para a Pedra do Urubu é uma das principais atrações turísticas, mas o ideal é fazer a caminhada ecológica com um morador que conheça a área. São cerca de dois quilômetros de subida, passando por várias espécies de plantas e animais silvestres. A média de tempo é de duas horas no trajeto de ida e volta. A Cooperativa de Trabalhadores em Reflorestamento da Babilônia promove subidas até a Pedra. Os próprios moradores têm explorado a região, que antes da instalação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) servia como esconderijo de traficantes, armas e drogas. Ao todo, a 4ª UPP da cidade conta com 99 policiais militares na área comandados pelo capitão Felipe Magalhães dos Reis. Ao todo, são 99 policiais militares, comandados pelo capitão Felipe Magalhães dos Reis.
Foto: Nathalia Perdomo/ Especial para Terra