Copacabana revela alma boliviana
A 3.825 metros acima do nÃvel do mar, as águas azuis unem-se ao céu sem nuvens em Copacabana. O sol é radiante, mas a temperatura média durante o dia fica em torno dos 16º C. Não há mulheres de biquÃni nem futebol de areia, apenas Ãndios e turistas, na maioria europeus. Esta Copacabana fica na BolÃvia, a 156 quilômetros de La Paz, e significa "mirador do lago azul". Às margens do Lago Titicaca, a cidade é uma penÃnsula que abrigou as civilizações pré-incaicas dos chiripas e tiwanacus, além dos incas, e guarda a Virgem da Candelária de Copacabana, a santa morena padroeira da BolÃvia. Uma enorme igreja branca do século 16, de arquitetura árabe, é a principal atração da cidade e surpreende os visitantes por seu tamanho e beleza. A última restauração foi em 1983, e, no interior, é possÃvel identificar quatro estilos: arábe, barroco mestiço, neoclássico e renascentista. O sincretismo religioso também é notável: ao lado de imagens católicas encontram-se desenhos de sóis e luas (divindades incas) e de folhas de coca. No altar principal fica a imagem, de traços indÃgenas, da Candelária, que hoje tem uma base de gesso e é banhada em pó de ouro de 24 quilates. A cada quatro meses os padres trocam a roupa da santa. Em 1580, o inca Francisco Tito Yupanque viu a imagem da Virgem no Titicaca e começou a esculpÃ-la em madeira. Três anos depois ele concluiu a figura em Potosà e a levou de volta para Copacabana. Muitos milagres começaram a ser atribuÃdos, principalmente curas. Na Semana Santa, a cidade, que tem cerca de 8 mil habitantes, chega a receber 30 mil peregrinos. A maioria sai de La Paz a pé e caminha quatro dias para homenagear a Virgem. Além da igreja há o Calvário, que fica no topo de uma das montanhas. A vista é deslumbrante, mas para se chegar lá é preciso subir a pé por uma hora. Muitos peregrinos fazem o percurso de joelhos. Foi para agradecer à padroeira por uma graça recebida que um português do Rio de Janeiro, por volta de 1600, construiu na cidade carioca a primeira capela para a Virgem da BolÃvia. A partir daà a imagem se tornou conhecida e o local acabou ganhando o nome de Copacabana, em 1749. Lendas Além da tradição católica, nas ruas estreitas da cidade boliviana é possÃvel encontrar barracas que vendem os conhecidos quecos – bonequinhos de gesso que representam o "deus da abundância" dos incas. Popularizado durante a colonização espanhola, a lenda conta que quem tiver um deles obtém fartura. Mitos e lendas, aliás, estão espalhados por toda a BolÃvia, principalmente na região do Titicaca. No lago, os nativos acreditam que esteja submersa a cidade perdida de Atlântida, comparando a região ao cenário descrito por Platão. Em 1967, o pesquisador Jacques Cousteau fez uma expedição para tentar encontrar sinais da civilização, mas só achou por lá rãs gigantes, de 50 centÃmetros, hoje vendidas nos restaurantes do paÃs. Na fronteira da BolÃvia com o Peru o Titicaca tem 8,3 mil quilômetros quadrados – é o maior lago da América do Sul –, 178 km de comprimento, 69 km de largura e 272 metros de profundidade máxima. Durante todo o dia, barcos com turistas cruzam as águas para levá-los aos templos da região. Na Ilha do Sol, os moradores acreditam que é dali que os mortos passam para a outra vida. Também lá, os filhos do Sol – fundadores do império inca – teriam aparecido e definido os três princÃpios da raça: não roubar, não mentir e não ser preguiçoso. A ilha também abriga a Fonte da Eterna Juventude. De acordo com a crença, quem bebe da água envelhece sem rugas e sem cabelos brancos. Virgens do Sol Em frente da Ilha do Sol fica a Ilha da Lua, que abriga ruÃnas pré-incaicas e incas. No topo da ilha está o Templo das Virgens do Sol. Lá, as virgens ficavam enclausuradas até o casamento. O pretendente fazia uma espécie de estágio antes do matrimônio e, se não gostasse, podia devolver a moça. Geralmente, as rejeitadas acabavam malvistas pelo povoado e não saÃam mais do templo. Aos estrangeiros todas essas histórias soam estranhas, mas os bolivianos são assim. Cultuam deuses, fazem oferendas e mantêm tradições. A apenas três horas de vôo de São Paulo, pessoas de olhos puxados e pele queimada pelo sol das altitudes vivem uma cultura desconhecida pela maioria dos turistas, até por brasileiros. VEJA TAMBÉM: » Ascensão e queda de Potosà » Cochabamba tem vocação para o prazer » As muitas histórias de La Paz » GUIA
Agência Estado
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