As muitas histórias de La Paz
La Paz, a capital legislativa da Bolívia, parece ter parado no tempo. Apesar de alguns bairros ricos ostentarem arranha-céus modernos e avenidas largas, a maior parte da capital é formada de ruas estreitas e casas de tijolos. A 3.635 metros de altitude, tem 1 milhão de habitantes e foi fundada em 1548. Rica em história, abriga museus e igrejas de muitos séculos. As principais atrações estão no Centro. Em torno da Praça Murillo, por exemplo, fica o setor político, com o Palácio do Governo, o Congresso Nacional e a Catedral Metropolitana, esta de estilo neoclássico. Também na região central, a Calle Jaén é uma rua tipicamente colonial que mantém casas de estilo espanhol. Hoje, elas são museus, como o de Metais Preciosos, que reúne máscaras, jóias e objetos de ouro, prata e cerâmica feitos pelas antigas civilizações bolivianas, além de algumas múmias do povo tiwanacu. Já no lado noroeste da cidade ficam os mercados. Há poucos supermercados na Bolívia e toda a população faz compras em barracas nas calçadas. Vendem de tudo, de roupas a alimentos, passando por produtos de limpeza e higiene. As cholas, mulheres de pequenos chapéus redondos, mantos e várias camadas de saias que parecem um guarda-chuva, também marcam presença na área. Para turistas, dois mercados no Centro, um ao lado do outro, merecem ser conhecidos: o de artesanatos e o dos bruxos. No primeiro é possível encontrar malhas, xales, prataria e objetos rústicos a preços baixos. Mas é preciso pechinchar. Em todas as compras pode-se chegar a um abatimento de, no mínimo, 20% do valor inicial pedido pelo vendedor. Já no Mercado dos Bruxos, encontram-se objetos usados em rituais e oferendas, como o feto de lhama. A visita vale para matar a curiosidade diante de tanto exotismo. Bem perto dali, a Igreja São Francisco, de estilo barroco mestiço do século 16, é outra parada obrigatória. Ruínas de Tiwanacu A 72 quilômetros de La Paz encontra-se uma das maiores atrações da Bolívia: Tiwanacu. Capital arqueológica do país, as ruínas que começaram a ser escavadas em 1910 revelam os costumes dos povos indígenas que habitavam o continente antes dos colonizadores. Os tiwanacus, que viveram entre 400 a 900 d.C., foram uma das primeiras civilizações sul-americanas e deram origem ao império inca– o último antes da chegada dos espanhóis. Os historiadores acreditam que 100 mil pessoas fizeram parte da civilização. A palavra tiwanacu tem vários significados, sendo quatro os mais importantes: pedra fundamental, filhos do Sol, margem do Titicaca e cidade eterna. Nas ruínas, rochas como granito, arenito e quartzito foram trabalhadas, assim como o ouro e a prata. As pedras, de 150 a 200 quilos, foram trazidas, segundo geólogos, de uma região que ficava a 65 km do local. Diz a lenda que seres alienígenas teriam ajudado os tiwanacus a carregar as pedras e a construir os templos, já que não havia então recursos tecnológicos para o trabalho. Os desenhos pintados nas paredes das ruínas reforçam a crença: nas cenas que retratam o cotidiano da civilização aparecem imagens de extraterrestres, que morariam no povoado. Na área do sítio arqueológico há vários templos e até uma pirâmide: a de Akapana, com sete níveis, mais de 20 metros de altura e cerca de 800 metros de perímetro. Akapana ainda está sendo escavada por arqueólogos mexicanos, norte-americanos e bolivianos. No centro da construção foi encontrado um buraco, onde, se acredita, havia água que serviria para refletir as estrelas, objeto de estudos astronômicos dos indígenas. Outra curiosidade: como as pedras da pirâmide são magnéticas, as bússolas deixam de funcionar no local. Ao lado da pirâmide, o Templete de Kallasasaya, onde fica o Portal do Sol, o mais famoso templo dos tiwanacus. Por este portal, todo 21 de junho – início do inverno que também representava o Ano-Novo para os índios – um raio de sol passa e reflete em outro monumento, demonstrando o calendário tiwanacu e abençoando a população. Também nessa parte das ruínas está situado o Monolito Barbado, um totem de arenito vermelho. Ao redor, as paredes guardam 175 cabeças originais. Cada uma delas representa um grupo étnico que formava a civilização tiwanacu. Destaque para um monumento acústico: um buraco no muro de pedras que funciona como amplificador, sendo possível ouvir o que se fala a metros de distância. Outra ruína importante é a do Palácio dos Sarcófagos, onde foram encontrados crânios deformados por cirurgias, exemplos de pictografia e múmias. Os tiwanacus costumavam mumificar os mortos utilizando ervas, colocando-os em posição fetal. Acreditavam que, assim, estariam prontos para renascer. Bem ao lado, o Museu Regional de Tiwanacu abriga cerâmica, objetos de metal e vestimentas indígenas, além de crânios deformados. Para visitar o sítio arqueológico é preciso tomar algumas precauções, como levar um kit com água, óculos de sol, chapéu, protetor solar e luvas. Apesar do frio, os raios solares estão muito próximos e acabam queimando a pele. Não se pode esquecer também de usar sapatos e roupas confortáveis, pois a caminhada é longa. Outra recomendação é levar bolachas e frutas, porque não é aconselhável comer nas barracas próximas das ruínas. VEJA TAMBÉM: » Copacabana revela alma boliviana » Ascensão e queda de Potosí » Cochabamba tem vocação para o prazer » GUIA
Agência Estado
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