Histórias e encantos da Veneza brasileira
Um dos primeiros europeus a se apaixonar pelo Recife foi Maurício de Nassau. Comandante das tropas holandesas e governador-geral da então Nova Holanda, ele desembarcou em terras pernambucanas em 1637 e não quis mais voltar. Governou por 24 anos até ser expulso pelos portugueses, e criou as pontes que fazem da cidade a Veneza brasileira. Numa curta caminhada podem-se observar construções de diferentes estilos arquitetônicos datadas dos séculos 17 e 18, algumas totalmente restauradas, resultado da mistura das várias influências sofridas nos períodos de dominação holandesa, francesa e portuguesa. Hoje, Recife é nacionalmente famosa também por seu Carnaval, em que predominam os ritmos locais como o frevo e o maracatu - diferente do resto do país que só toca música baiana e samba neste período. O instinto de preservação da cultura local é tanto que o governo criou um decreto proibindo os trios elétricos de tocarem os ritmos da terra de Caetano Veloso. No que se refere à arte, Recife tem nomes expressivos nacionalmente. Ariano Suassuna e João Cabral de Mello Neto na literatura; Brennand nas artes plásticas; Nelson Rodrigues na dramaturgia; e mais recentemente, na música, o criador do mangue beat, ritmo que mistura melodias locais com a música eletrônica: Chico Science. Sabores africanos - Terceiro maior pólo gastronômico do País, a culinária local tem forte influência africana. Experimente a macaxeira, a caranguejada e o sururu (sendo que este último, por ser muito forte, é indicado somente para iniciados na cozinha nordestina). A capital pernambucana tem sua economia baseada na indústria e no comércio. No entanto, é no turismo e nos serviços que está o seu forte. Como em qualquer grande cidade, a vida é agitada durante o dia e à noite. Na Praia de Boa Viagem, uma das mais famosas da região, pode-se sentar num dos inúmeros quiosques do calçadão para saborear frutos do mar, um suco de frutas típicas ou uma água-de-coco bem gelada. Um pouco mais à frente está a Praia do Pina, antiga colônia de pescadores e atualmente um pólo de restaurantes e barzinhos. O melhor do Recife é que a cidade preserva muito de sua história e cultura. Monumentos, como o Convento de Santo Antônio, de 1606, o Museu de Arte Sacra, anexo à Capela Dourada da Ordem Terceira - uma das mais expressivas representantes da arte barroca brasileira - e a Catedral de São Pedro dos Clérigos, que fica no Pátio de São Pedro, sítio histórico, com construções do período colonial que remete à época em que a cidade viveu seu apogeu. Ainda no Pátio de São Pedro há a Casa do Carnaval, que abriga em seu acervo um vasto material sobre a cultura carnavalesca e outras manifestações locais. Nos fins de semana podem ser vistas apresentações folclóricas. Casa de Cultura - Uma visita imperdível é a Casa de Cultura de Pernambuco, ex-presídio circular transformado em centro cultural em 1975. Suas 150 celas viraram simpáticas lojinhas que vendem trançados de palha, tapetes, rendas, bordados, cerâmica, couro, madeira e metais. O escritor Graciliano Ramos relata o tempo em que esteve preso ali em seu livro Memórias do Cárcere. No local, fica também o Museu do Frevo e a Fundação de Desenvolvimento da Cultura Negra. Outra parada obrigatória é o badalado bairro do Recife Antigo, onde ficam o Marco-Zero, o Porto do Recife e o Forte Brum (feito pelos holandeses e atualmente um museu militar) além das agitadas casas noturnas. Trilhos de bonde ainda passam sobre as ruas de paralelepípedos onde em outros tempos funcionou a zona de prostituição. Casarões coloridos e reformados transformaram-se em centros culturais, restaurantes e bares com mesinhas nas calçadas e música ao vivo. Há uma enorme variedade de sons e ritmos - do jazz ao tradicional forró, MPB e o mangue beat. Para conhecer todos os encantos da cidade, o ônibus é uma boa opção. Grupos de até quatro pessoas podem também dividir despesas de um táxi. Mas na maior parte do tempo é bom preparar-se para andar a pé mesmo. De preferência descalço, na beira da praia e de bem com a vida. Oh! linda... - Distante apenas seis quilômetros de Recife, Olinda abriga história e patrimônio. Um verdadeiro museu ao ar livre. Fundada em 1535 por Duarte Coelho, foi a primeira capital pernambucana e residência dos senhores de engenho e personalidades influentes. Mais tarde, perdeu para Recife o posto de capital, mas o encanto de suas ladeiras estreitas com construções em estilo barroco permanece vivo. E mais: a cidade recebeu da Unesco o título de Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade. Diz a lenda que seu nome vem de uma expressão citada por um fidalgo português quando chegou ao vilarejo e espantou-se com a beleza do lugar: "Oh!, linda situação para construir uma vila", teria dito. Diante de tão encantadora paisagem quem é capaz de desmenti-lo? Dentre as muitas igrejas, mosteiros e conventos do município, uma merece especial atenção a Igreja da Sé, construída em 1537. Ela oferece a mais bela vista da orla marítima entre Olinda e o Recife, um verdadeiro cartão-postal. Vale a pena também visitar a Igreja de São Bento de Nursia, fundada em 1582, que tem como curiosidade um cristo que fica nos fundos da nave de costas para o altar. Mas Olinda não é só igrejas. Em suas ruelas também há inúmeros ateliês, centros culturais, lojinhas e barraquinhas de rua onde é possível comprar toalhas de renda, comidas e bebidas típicas da região ou saborear, ali mesmo, queijo de coalho, tapioca e outras delícias da culinária local enquanto se aprecia o trabalho dos artesãos. VEJA TAMBÉM: » Natureza dá show em Porto de Galinhas » Faça as malas para Pernambuco
Jornal da Tarde
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