Coração magnético do País recupera-se do susto
Wilson Pedrosa/AE
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Na década de 80, esotéricos adotaram a região da Chapada
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Uma boa notícia para os ecoturistas. O risco de epidemia de febre amarela, que assombrou a Chapada dos Veadeiros no começo do ano, foi controlado pela Secretaria de Vigilância Sanitária por meio de forte campanha de vacinação na região e em Estados vizinhos, onde o perigo de contaminação era iminente. O alívio vem em boa hora. É entre abril e setembro, período de seca na região, que um passeio pela Chapada - por suas cachoeiras, rios, lagos e canyons - é mais convidativo. A primeira imagem de quem chega ao local é a vegetação do cerrado, formada por árvores retorcidas e mato rasteiro. Depois de alguns minutos de caminhada, porém, uma bela paisagem revela-se, com campos floridos, paredões de rochas, grutas e cachoeiras. A Chapada dos Veadeiros é considerada o coração magnético do País. Está localizada no nordeste goiano, a 230 quilômetros de Brasília, entre os municípios de São João d'Aliança, Alto Paraíso de Goiás, Teresina de Goiás, Cavalcante e Colinas do Sul, que constituem um platô de quase 5 mil quilômetros quadrados. A Chapada está no ponto mais alto de Goiás, a cerca de 1.700 metros de altitude. De seus rios surgem mananciais que ajudam na formação da Bacia Hidrográfica do Tocantins. Na principal cidade da região, Alto Paraíso de Goiás, concentram-se diversas atrações naturais. Ali, despontam as principais cachoeiras, além dos rios Paranã e Preto. Cristais - Por estar localizada sobre grandes concentrações de cristal de quartzo, formado pelo encontro de duas placas tectônicas há mais de 1 bilhão de anos, Alto Paraíso atraiu, na década de 80, um grupo de 180 esotéricos do município de Visconde de Mauá, no Estado do Rio. Os cristais estão por toda a parte e em grandes concentrações próximo das cachoeiras do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Lá, há trilhas inteiras cobertas de cristais de quartzo rosa e branco. Foi graças aos forasteiros místicos, que acabaram se dedicando ao ecoturismo, que Alto Paraíso ganhou uma boa estrutura para receber visitantes. São quase 40 hotéis, pousadas e hotéis-fazendas. Há também mais de 20 restaurantes, incluindo uma ótima pizzaria. Os místicos, ligados à filosofia da Nova Era, estabeleceram-se na chapada, mudando o cotidiano dos nativos da região. Inovaram, construindo casas nos mais exóticos formatos. Elas logo se tornaram atração turística. É o caso da construção erguida em forma de gota, para que não houvesse ângulos em 90 graus. Outras tantas edificações, algumas em forma de pirâmide e com pinturas de estrelas, bruxas e símbolos místicos, podem ser encontradas com facilidade. "O misticismo projetou a cidade, mas nossos esforços estão concentrados no desenvolvimento do ecoturismo", explica o secretário de Turismo e Meio Ambiente de Alto Paraíso, Alan Gonçalves Barbosa. Do garimpo ao turismo - O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado em 1961, passou a ser uma das principais fontes de recursos econômicos do povoado em 1989, quando o local deixou de ser território de caça de veados e de garimpo de cristal. O interesse em promover o ecoturismo ajudou na revitalização da região, antes esquecida pelo governo e conhecida como o corredor da morte, por causa do alto índice de pobreza e subnutrição da população. "Longe do garimpo, que não nos dava qualquer perspectiva, a vida melhorou muito", diz Antônio Luís dos Santos, de 77 anos, o guia turístico mais velho da cidade. "O novo trabalho é mais prazeroso e temos mais qualidade de vida", arremata o colega Irani Avelino Nascimento, 42 anos, ex-garimpeiro. Ele já conseguiu montar um restaurante na vila São Jorge, próximo da entrada do parque nacional. Os ex-garimpeiros formaram a Associação de Condutores de Visitantes da Chapada dos Veadeiros (ACV-CV). Para se fazer qualquer passeio pela Chapada e por áreas particulares, é preciso estar acompanhado por um dos guias associados da ACV-CV. Nem os turistas habituados a fazer trekking conseguiriam percorrer os caminhos sinuosos da Chapada sem a ajuda desses profissionais, que ganham, em média, R$ 30,00 por dia de trabalho. Com a atividade de guia, os ex-garimpeiros passaram de agressores da natureza a seu aliado número 1. Eles protegem o meio ambiente evitando que turistas retirem os cristais da terra e das rochas e que joguem lixo nos locais de visitação. VEJA TAMBÉM » Chapada dos Veadeiros oferece vasta natureza » Fora do parque nacional também há várias atrações » Saiba como chegar à Chapada dos Veadeiros
O Estado de S. Paulo
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