Aproveite a neve na Terra do Fogo
A cidade do fim do mundo fica numa ilha do sul da Argentina, no extremo da Terra do Fogo, na fronteira com o Chile, a mil quilômetros da Antártida e a 3.200 km ao sul de Buenos Aires. Quase polar, ela está cercada pelos Andes, que lá desabam no oceano formando fiordes como os da Noruega, picos de neves eternas como nos Alpes, glaciares, icebergs e ilhas habitadas por multidões de gaivotas, leões-marinhos e pingüins. Esse lugar, onde fica o Farol do Fim do Mundo, que inspirou o romance de Júlio Verne, chama-se Ushuaia e hoje tem um impressionante complexo de esqui, que rivaliza com Bariloche e Las Leñas, as estações tão conhecidas pelos brasileiros. Ali, há neve para esquiar até 15 de outubro por causa da proximidade do Pólo Sul. E a vantagem é que a cidade está em baixa estação, com preços até 40% mais em conta que no auge do inverno e temperaturas entre 1º C negativo e 3ºC (no inverno podem chegar a 20ºC negativos). Outro dote do complexo de esqui é a altitude, pois Ushuaia, cidade portuária no meio do Canal Beagle, na ponta da América do Sul, entre o Atlântico e o Pacífico, fica praticamente ao nível do mar, embora cercada de montanhas que atingem dois mil metros. Para chegar ao branco que cobre quase totalmente as montanhas, basta caminhar alguns metros fora da estrada, em direção aos vales e glaciares onde estão as estações. A mais famosa delas, Cerro Castor, fica a 26 quilômetros da cidade. De seu topo, o esquiador pode escolher entre 15 pistas com diferentes níveis de dificuldade. A paisagem é sempre fantástica, com a grande Cordilheira dos Andes finalmente "caindo" no mar num movimento abrupto de 90º na direção leste. Ushuaia, aliás, é a única cidade transandina da Argentina, pois todas as outras situam-se à direita dos Andes e essa fica à esquerda, depois deles. São os cumes dessas montanhas que formam os estreitos golfos e fiordes onde se refugiaram diversificadas formas de vida. Por causa das nevascas e do clima inóspito, que afastou os predadores humanos, a região abriga os únicos e últimos bosques antárticos do planeta, testemunhos de um mundo que esfriou, onde vivem animais como o guanaco, um tipo de lhama pequeno, e o zorro patagônico (uma espécie de raposa). Lá existem árvores como o calafate, de porte arbustivo, que agora começa a produzir suas belas flores amarelas. Outra árvore típica é a lenga, que forneceu a madeira com que os índios faziam suas fogueiras de dez mil anos para cá. Trem do Fim do Mundo - Além das estações de esqui, Ushuaia tem muitas outras atrações, como o passeio do Trem do Fim do Mundo, que aproveita uma ferrovia construída por presidiários para trazer lenha dos bosques gelados. Adaptado ao turismo, o trem que atravessa vales e picos faz algumas paradas, até mesmo na estação, onde existe um hospitaleiro café e um pequeno museu ferroviário. Os bosques de clima frio, agora transformados no Parque Nacional da Terra do Fogo, crescem lentamente e ainda não conseguiram se recompor dos cortes de árvores feitos pelos presidiários há quase um século. São também imperdíveis os passeios de carro seguidos de caminhadas pelas montanhas. Uma dica é o Lago Escondido, a cerca de 15 quilômetros da cidade, que está sendo totalmente coberto por turfa, um aglomerado de musgos que ali se acumula há milhares de anos e pode ser explorado comercialmente como substrato para orquídeas. Passeios de barco - O porto de Ushuaia também é o ponto de partida para emocionantes aventuras a bordo de veleiros, barcos maiores ou catamarãs panorâmicos com calefação, que percorrem as ilhas, baías e enseadas e chegam até os últimos refúgios da vida, antes da Antártida, mais ao sul. Partindo do porto, a porta de entrada da Antártida, podem ser agendadas excursões que duram de algumas horas a vários dias, descortinando o continente. Um mundo que começa pelo arquipélago da Terra do Fogo e pelo rendilhado de ilhas nas costas chilenas. O passeio nos catamarãs leva até um labirinto de ilhas entre o Atlântico e o Pacífico, navegando um pouco acima do Cabo Horn, pelo Canal Beagle, que homenageia o navio no qual viajou o cientista Charles Darwin, autor da teoria da evolução. Naquele mar frio e inóspito, sujeito a repentinas rajadas de vento gelado, é emocionante ver como a vida se refugiou nas ilhas. Algumas são habitadas só por leões-marinhos, que podem ser vistos bem de perto. Outras são moradia de aves como os cormorones, um tipo de gaivota. Navegando entre as ilhas subantárticas também é possível avistar dezenas de espécies de baleias que vivem ou passam por lá nas suas migrações. Imagens inesquecíveis de um mundo de fronteira, onde a vida se adaptou a condições inóspitas. VEJA TAMBÉM: » Cerro Castor oferece banho de esqui » Capital da "Sibéria argentina" tem noite agitada e museus » Consulte o Guia
Jornal da Tarde
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