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PARIS

A origem da civilização galo romana

Edu Garcia/AE - 22/11/99
Há vestígios galo-romanos
sob a praça de Notre-Dame
Nenhum livro, mesmo escolar, conseguiu difundir tanto o modo de vida dos gauleses como as histórias em quadrinhos de Asterix, Obelix e Ideafix. Idealizadas em 1959 pelos franceses René Goscinny e Albert Uderzo, as aventuras da irredutível dupla nunca tiveram a audácia ou a pretensão de serem 100% fiéis aos fatos históricos. Mesmo assim, até pesquisadores e críticos ferrenhos são unânimes num ponto: as HQs ajudaram a ilustrar os primórdios da civilização francesa, servindo, ao mesmo tempo, para combater a invasão massificada da cultura americana.

Quem acompanha os livrinhos de Asterix sabe que todos eles começam da mesma maneira: "Estamos no ano 50 a.C.. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos...

Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor..." Até aqui, tudo é verdade. Desde 59 a.C., o imperador Júlio César empenhava-se em conquistar a Gália, território hoje ocupado pela França, Bélgica, Suíça e partes da Alemanha e Itália. A batalha decisiva ocorreu sete anos depois, num enfrentamento que teve como cenário a cidade fortificada de Alésia, nas margens do Rio Sena. Após o embate, a resistência gaulesa ao invasor romano perdeu força, persistindo somente alguma oposição isolada, no melhor estilo empreendido na ficção por Asterix, Obelix e sua turma.

A conquista de César alterou profundamente o mapa geopolítico de Roma, mudando o eixo da civilização romana do mediterrâneo para a Europa ocidental. O desenvolvimento cultural dos povos que ali viviam também se alterou de forma sensível. Os gauleses eram os mais populosos e poderosos dentre as populações a que se convencionou chamar de celtas. Excelentes artesãos, ferreiros e armeiros, alguns deles estavam construindo prósperos núcleos urbanos, alfabetizando-se e organizando Estados bem estruturados.

Galo-romanos - A conquista romana, longe de destruir essa vitalidade cultural, adicionou os elementos civilizatórios da cultura do mundo romano à "bárbara" visão celta. Moldou os primitivos contornos daquela que seria uma das maiores e mais brilhantes civilizações européias, a galo-romana, que só teve fim com a derrocada do Império Romano, a partir do século 5º. Ainda assim, vestígios dela podem ser encontrados em algumas partes da França, principalmente próximo de Avignon e em Paris - chamada de Lutécia àquela época.

A cidade foi poupada até 52 a.C., quando passou a ser saqueada pelos enviados de César. Na ocasião, Lutécia resumia-se a uma pequena aldeia de pescadores da tribo dos parisii, concentrada na Île de la Cité. A presença dos romanos permitiu sua expansão em direção à margem esquerda do Rio Sena, a Rive Gauche. Escavações feitas a partir do século passado revelaram vestígios dos limites da cidade romana, que tinha como eixo central a atual Rue Saint Jacques, na região central da cidade. Era ela que marcava a direção das estradas que levavam a Roma. Sob a praça em frente da Notre-Dame, por exemplo, foram encontradas diversas ruínas galo-romanas.

A Lutécia romana foi extremamente planejada. Era dividida em blocos simétricos, harmoniosamente distribuídos em função das termas, das arenas e dos palácios de governo ou de culto. Próximo dos Bulevares Saint Michel e Saint Germain, por exemplo, ficavam o fórum e as habitações de pedras, distribuídas em pequenos blocos quadrados, com os quatro lados do mesmo comprimento. Embora tenham ficado marcadas no imaginário coletivo por meio das páginas de Asterix, as rústicas cabanas arredondadas, com teto de sapé, já eram coisa do passado.

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O Estado de S. Paulo

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