Influência européia destruiu as tradições nativas
A população de fueguinos era estimada em cerca de 10 mil homens quando chegaram os primeiros europeus e estava reduzida a pouco mais de 350 pessoas no começo deste século, número que tem diminuído a cada ano e refere-se a índios aculturados, pois vivem como caseiros em estâncias rurais espalhadas pelo sul da Argentina e do Chile. Embora não tenha havido um confronto direto com os yamana pela posse do território, o desequilíbrio na competição por alimentos e as doenças transmitidas pelos homens brancos foram fatais, pois o sarampo e a gripe provocavam epidemias mortais entre as tribos. Em 1977, a pesquisadora Natalie Goodall, que vive em Ushuaia e escreveu o melhor livro sobre a geografia e a história da Terra do Fogo, fez um levantamento dos últimos sobreviventes fueguinos, com nome e endereço de 18 descedentes de onas e haush e 14 yahgans e alacalufes. "Tratamos de cuidar para que espécies vegetais e animais não desapareçam, mas ninguém conseguirá salvar essas tribos da extinção porque elas já estão extintas na medida em que sua cultura praticamente desapareceu", diz a pesquisadora. Ela lamenta que a cultura fueguina tenha se extinguido, com sua ciência e sua arte, sem ter sido devidamente estudada. Os fueguinos dividiam tudo o que possuíam e tinham vida sexual livre, que escandalizava os primeiros missionários. A história de Ushuaia começa a esboçar-se justamente em 1869, com a chegada do missionário anglicano Stirling, cuja tarefa de evangelizar os aborígenes foi prosseguida anos mais tarde pelo reverendo Thomas Bridges. Foi o golpe de misericórdia nos índios, pois além de privá-los de alimentos os brancos passaram a contaminá-los com suas doenças por causa da maior proximidade. Alguns índios levados para a Europa foram trazidos de volta porque lá ficaram doentes. Colônia penal - Em 1882, o governo argentino decidiu construir uma colônia penal na extremidade sul do país para garantir a soberania sobre a área inóspita e remota. A Marinha estabeleceu um posto na região em 1884, fazendo surgir oficialmente a cidade, na época um pequeno vilarejo. Nesse mesmo ano foi instalado o presídio, numa ilha vizinha, que depois seria transferido para o prédio que atualmente é museu. Foram os presos condenados a trabalhos forçados nessa Sibéria argentina que construíram a cidade. Eles fizeram até uma pequena ferrovia (que hoje é trem turístico, o famoso Trem do Fim do Mundo) para extrair a dura madeira dos bosques. Em 1947, quando o presídio começou a ser desativado e o prédio foi comprado pela Marinha, a cidade tinha 2.182 habitantes. A estagnação continuaria até os anos 70, quando o governo argentino criou leis para atrair indústrias para a região, permitindo um fantástico aumento populacional - hoje a cidade tem cerca de 60 mil habitantes - e um incremento de ofertas de um confortável estilo de vida aos turistas, que se nota na diversificação dos serviços da cidade, capaz de atender bem os visitantes mais exigentes. Leia mais: » Ushuaia, a cidade do fim do mundo » Descubra o que fazer na terra do fim do mundo » Passeios de barco exibem a vida dos mares gelados » Cidade é um agitado centro turístico » Museu Marítimo ocupa área de antigo presídio » Esquiando pertinho do mar » Escolha sua estação de esqui » Terra do Fogo, mais de 12 mil anos de história
O Estado de S. Paulo
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