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Jovem Kayan mostra seu longo colar |
Os turistas do dia se foram, fotos tiradas, lembrancinhas debaixo do braço, e a pequena vila de Nai Soi, perto da fronteira de Mianmar volta ao ritmo normal. Uma mulher balança um bebê na rede. Outra está deitada em uma cadeira, afinando um violão. Um grupo de meninas joga dados. Oito mulheres descalças participam de uma barulhenta partida de vôlei.Esta é uma das três vilas que foram especialmente criadas por operadores de turismo no noroeste da Tailândia para abrigar cerca de cem das chamadas "mulheres-girafa" de Mianmar, antigo Burma, com suas famílias. Quase todas as mulheres - mesmo as garotas, mesmo as jogadoras de vôlei - usam longos anéis de latão no pescoço.
As mulheres vêm usando os colares há muitas gerações, como marca de beleza e identidade da tribo. Mas, mesmo para elas - e seus maridos e irmãos - a vida lá é qualquer coisa, menos normal. Eles são membros da tribo Kayan da minoria Karenni e se refugiaram dos conflitos étnicos e da perseguição do governo em sua terra natal.
As pequenas vilas artificiais formam as fronteiras de seu mundo. Como outros refuagiados na Tailândia, eles não são livres para deixar o espaço a que estão confinados, plantar sua própria comida ou procurar empregos normais.
Cerca de outros 20 mil refugiados Karenni se expremem em áreas perto da fronteira, vivendo em situação miserável. As "mulheres-girafa" são exceções, com mais conforto em suas cabanas de palha, porque, como atrações turísticas, podem ganhar dinheiro de operadores.
Entre os refugiados, eles são privilegiados, recebendo um salário mensal, assim como os lucros de cartãos-postais e bugigangas que vendem para a multidão diária de turistas. Comparado às vidas agrárias que deixaram, é dinheiro fácil: maquiagem, faixas e brincadeiras com os vistantes estrangeiros. Para um forasteiro, as mulheres não têm queixas.
O que está em questão é a dignidade. Para algumas pessoas, as vilas são zoológicos humanos. Nada lá parece privado. Enquanto vivem sua vida - alimentando os filhos, lavando roupas no poço da vila - elas estão em exposição para quem aparecer.
"No começo, eu fiquei assustada", lembra Manang, de 46 anos, uma das primeiras "mulheres-girafas" a vir para a Tailândia, mais de uma década atrás. "Eu nunca tinha visto um ocidental antes". Mas para sua filha, Mada, de 20 anos, que cresceu lá, o turismo é um modo de vida. "Eu fico feliz quando os turistas vêm, porque nós ganhamos dinheiro", comemora.
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