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A guerra e a mente: o que acontece com quem vive o conflito

O que se passa na mente de quem vive uma guerra? A Guerra na Ucrânia completou recentemente um ano e meio. O conflito no leste europeu matou mais de 25 mil pessoas e causou uma devastação sem precedentes. Tanto financeiramente, com a destruição de cidades como Kiev, quanto psicologicamente, pelos traumas resultantes da violência, bombardeios, […]

9 out 2024 - 16h30
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O que se passa na mente de quem vive uma guerra?

A Guerra na Ucrânia completou recentemente um ano e meio. O conflito no leste europeu matou mais de 25 mil pessoas e causou uma devastação sem precedentes. Tanto financeiramente, com a destruição de cidades como Kiev, quanto psicologicamente, pelos traumas resultantes da violência, bombardeios, mortes e o próprio conflito.

Foto: Pixabay
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Foto: Revista Malu

Na Ucrânia, há relatos de famílias inteiras assassinadas em frente à própria casa e também de soldados - tanto Russos quanto Ucranianos - mortos em decomposição em diversos lugares do território. Mas, afinal, o que se passa na mente de quem protagoniza uma guerra ?

A guerra é uma banalização do mal

Segundo Maíra Pradelli, mestre em Antropologia Social, a filósofa Hannah Arendt tentou dar uma explicação para isto, ao estudar o julgamento de um soldado que cometeu crimes durante a Segunda Guerra Mundial.

"A filósofa Hannah Arendt escreveu o livro A Banalidade do Mal para entender a falta de remorso de Adolf Eichmann. Um funcionário nazista responsável pela deportação e morte de milhões de judeus durante o Holocausto. Eichmann se apresentou às autoridades como um simples burocrata que estava apenas cumprindo ordens. Para Arendt, Eichmann não era um monstro. Mas um homem comum que perdeu a capacidade de pensar por si mesmo em uma sociedade pautada por ideais extremistas e autoritários. Essa perda de capacidade de pensar por si mesmo é o que Hannah Arendt definiu como a 'banalidade do mal'.", conta Maíra.

A antropóloga ressalta que, segundo Hannah, pessoas comuns, e não monstros, são responsáveis pelo mal, pois apenas seguem ordens. "Ou que estão tão preocupadas em manter seu lugar na sociedade que não querem questionar o status quo. Ideologias extremistas, como o fascismo alemão, causaram esse comportamento. Ao ensinar as pessoas a obedecer cegamente às autoridades e a enxergar outros grupos étnicos e nacionais como inimigos."

Mal feito por pessoas comuns

Maíra diz que, em suma, o que a filósofa Hannah Arendt demonstrou é que as pessoas que fazem o mal costumam ser pessoas normais.

"A ideia de que o mal pode ser banal é perturbadora. Mas é importante lembrar que ela não é uma mera justificativa para o comportamento de outra pessoa. O que a autora pretende é explicitar que é um mal cometido por pessoas comuns. No entanto, a compreensão dessa expressão pode nos ajudar a pensar sobre os perigos do ódio, do preconceito e da obediência cega. Ao mesmo tempo em que podemos criar sociedades democráticas e com liberdade de expressão onde as pessoas se sintam seguras para questionar o status quo e pensar por s mesmas.", destaca.

Mal feito por pessoas nobres

Esta banalidade mencionada pela pesquisadora atinge a todos os tipos de seres humanos. Um exemplo foi o caso do Príncipe Harry, um dos herdeiros da Coroa Britânica. Que revelou recentemente que matou 25 pessoas durante sua participação na guerra no Afeganistão. A declaração motivou protestos e a indignação de instituições internacionais. 

"Acho que este caso é sobre a posição que o príncipe Harry se encontrava política e socialmente na monarquia britânica. Com um sentimento de dever e de ganhar uma guerra, sem questionar os pormenores do imperialismo britânico e a violência e desigualdade que se produz inevitavelmente em relação a outros lugares, geralmente não ocidentais".

Efeitos da guerra na saúde mental

Os traumas deixados por conflitos bélicos são inúmeros. Onda migratória, pobreza, desemprego, luto coletivo e individual, depressão e tantos outros. Entre os relatos de soldados, é comum que os especialistas diagnostiquem muitos com estresse pós-traumático.

Além disso, segundo a psicóloga Helena Gullo, "o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) pode ocorrer após uma pessoa vivenciar ou testemunhar um evento traumático. Como uma situação de violência, um acidente grave, abuso físico ou sexual, desastre natural ou guerra. O TEPT é caracterizado por uma série de sintomas físicos, psíquicos e emocionais que podem persistir por um período prolongado após o evento traumático." destaca.

Os sintomas do TEPT

Helena selecionou alguns sintomas para a Mente Afiada:

  • Lembranças, pesadelos, flashbacks;
  • Pensamentos ou sentimentos perturbadores relacionados ao evento;
  • Dificuldades de concentração, problemas de sono;
  • Irritabilidade, hipervigilância;
  • Respostas exageradas ao susto
  • Sintomas físicos, como dores de cabeça ou dores no corpo.

Esses sintomas podem ser graves o suficiente para interferir nas atividades diárias, no trabalho, nos relacionamentos e na qualidade de vida da pessoa.

A guerra no cinema

Um exemplo pode ser visto no cinema no filme Desejo e Reparação, adaptação do romance Reparação ( Companhia das Letras)  do escritor inglês Ian McEwan. Na obra, o personagem Robbie Turner (James McAvoy) tem crises de ansiedade e violência após ter lutado pela Inglaterra na Segunda Guerra Mundial.

Ainda de acordo com Helena, "o tratamento para o TEPT geralmente envolve psicoterapia. Em alguns casos, medicamentos como antidepressivos ou ansiolíticos podem ser prescritos para aliviar os sintomas."

O DSM-IV (Manual de Diagnóstico dos Distúrbios Mentais) e o CID-10 (Classificação Internacional das Doenças) estabeleceram os critérios para o diagnóstico do transtorno do estresse pós-traumático. "O primeiro requisito é identificar o evento traumático (agente estressor), que tenha representado ameaça à vida do portador do distúrbio ou de uma pessoa querida e perante o qual se sentiu impotente para esboçar qualquer reação. Os outros levam em conta os sintomas característicos do TEPT.", completa Gullo.

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