As redes sociais são inimigas do romance?

Entenda porque as interações digitais causam tantas discussões entre os casais e como o autoconhecimento pode ajudar

É comum vermos casais se desentenderem por culpa das redes sociais. Uma interação mal compreendida pode causar discussões por dias, semanas e até meses, fazendo com que muitas vezes os parceiros decidam se afastar de vez da internet. Mas por que essas plataformas têm tanta influência sobre as relações a ponto de causar problemas emocionais constantes?

Muita idealização

Maicon Paiva, Espiritualista e fundador do Espaço Recomeçar, atribui esse comportamento à forma idealizada com que as redes sociais pintam os relacionamentos - o que, na verdade, não passa de uma ilusão. "Essa situação gera frustração emocional entre os dois, por pensarem que precisam mudar o jeito de ser para se encaixar no papel social de parceiro 'ideal'. A reação à frustração faz com que outros problemas emocionais surjam, e apesar de cada pessoa lidar com isso de uma forma diferente, é normal sentir culpa e direcionar essa frustração também para o outro por não estar vivendo como a internet diz ser 'ideal'", explica.

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Gatilho comum entre os casais

Para entender melhor esse problema, uma pesquisa realizada pela Kaspersky, empresa de proteção digital, mostrou que 55% dos casais já brigaram por causa do uso excessivo de dispositivos eletrônicos pelo companheiro. A maior motivação é a desconfiança pelo conteúdo que a outra pessoa está consumindo, como se houvesse uma espécie de concorrência entre a relação e o uso das redes. "Algumas pessoas encaram o momento em que o parceiro está usando as redes sociais como uma competição contra o algoritmo, porque ficam se comparando com a imagem de outras pessoas que parecem 'perfeitas' nas fotos. Esse pensamento faz com que se sintam inadequadas, além do medo de perder o amor de suas vidas para outro alguém", esclarece Paiva.

Busca por ideais que não existem

Um estudo do Personality and Social Psychology Bulletin demonstra que casais que não expõem sua relação nas mídias sociais tendem a ser mais felizes. O excesso de postagens cria uma visão distorcida da perfeição, não apenas para os outros, mas também para o próprio casal.

As fotos sempre "perfeitas" podem criar um padrão irrealista, gerando descontentamento e conflitos. "As redes sociais tornaram a percepção dos outros mais importante do que a forma que enxergamos a nós mesmos, ou seja, a possibilidade de obter reações rápidas torna as redes sociais um meio para se conseguir validação instantânea para tudo", diz o profissional. "O olhar do outro nas plataformas julga muito, e para evitar o desconforto de lidar com a realidade, as pessoas buscam níveis de perfeição que são cada vez maiores, para serem elogiadas publicamente."

"A busca pela perfeição afeta o casal ao ponto em que os dois se desagradam, já que nada que fazem atinge as altas expectativas criadas pelo outro", aponta Paiva.

Abandonar as redes sociais dá certo?

Recentemente, o divórcio da cantora Preta Gil trouxe à tona a discussão sobre o uso das redes sociais. O fim do casamento aconteceu após ela descobrir uma traição do ex-marido Rodrigo Godoy com uma funcionária que trabalhava para o casal. Depois da separação, a artista anunciou que iria se afastar das redes sociais pois, segundo ela, estar em contato constante com esses aplicativos fez com que ela adoecesse emocionalmente, declarando que a "dor e decepção foram muito fortes".

E sim, tirar um tempo para buscar o autoconhecimento é fundamental, porque é através desse processo que podemos trabalhar a cura dessas inseguranças. "Precisamos cuidar primeiro de nós, para só depois resolver os problemas ao nosso redor e colocar a vida nos eixos. Da mesma forma que uma doença física faz com que fiquemos indispostos para lidar com problemas, no campo emocional e espiritual isso também acontece."

Porém, caso essa atitude de sair de vez das redes sociais não esteja aliada a outros cuidados, ela não é capaz de promover nenhuma melhora. "O afastamento total do causador do problema não é a solução de nada, nunca foi, para falar a verdade. Fazer isso só aumenta a chance de reincidência, e com as redes sociais, não é diferente", pontua. "O meu conselho é para que cada um mantenha a sua individualidade. Não precisa ficar postando toda a intimidade de vocês, tem momentos que são melhores se ficar apenas entre os dois", orienta.

"Por mais que se amem e queiram registar bons momentos juntos, a sua vida não é apenas com o parceiro. Antes dele chegar, você construiu uma história que continua existindo apesar do relacionamento, e não por causa dele", destaca.

Como a espiritualidade pode ajudar

A energia da situação tem influência sobre como nos sentimos e agimos, de acordo com Paiva. Sendo assim, o desequilíbrio pode fazer com que fiquemos vulneráveis energeticamente, e isso não é diferente quando pensamos no lado emocional - as pessoas ficam mais sensíveis a certas situações. "Por isso, cuidar do lado emocional e espiritual é necessário para ter plena consciência das situações e das possíveis resoluções dos problemas do mundo externo", indica o profissional.

Além disso, ignorar a interferência energética e espiritual em situações complicadas afasta as chances de resolução do problema. "O desequilíbrio energético entre o casal dificulta a conexão verdadeira, criando a sensação de que os dois não estão na mesma página. Mas por não considerarem esse aspecto, acabam procurando respostas em lugares errados."

Não existe solução imediata, é preciso lapidar

Resolver questões nos relacionamentos não é algo que acontece rapidamente nem com soluções simples. A vida a dois apresenta nuances que não podem ser abordadas com respostas imediatas. Portanto, não é aconselhável abandonar completamente as redes sociais em prol do relacionamento, mas sim estabelecer limites para o que pode ser compartilhado on-line. Os aplicativos em si não são o problema, mas sim o que eles representam.

Para manter a harmonia no relacionamento, é fundamental abordar as questões relacionadas às redes sociais sob essa perspectiva, que pode ser trabalhada de forma multidisciplinar. "A via espiritual oferece as respostas certas. Mas em alguns casos é necessário um guia para ajudar os dois a passarem pelas dificuldades com mais facilidade", finaliza Paiva.