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Homem beta é o macho do século XXI

11 ago 2009 - 08h33
(atualizado às 08h39)
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O empresário paulista Armando Lebeis, 47 anos, acorda cedo para acompanhar o café da manhã dos três filhos, levá-los à escola e só depois vai para o trabalho. Como a mulher trabalha na área de eventos e precisa se ausentar à noite e, às vezes, nos fins de semana, quem fica com os filhos é Armando, que até já ganhou presente de Dia das Mães da própria mulher. Ele também leva os filhos à aula de tênis, ao analista, ao pediatra e dificilmente falta às reuniões da escola.

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Os maridos dividem - e com prazer - as tarefas com as mulheres
Os maridos dividem - e com prazer - as tarefas com as mulheres
Foto: Getty Images


Muitos podem olhar Armando e pensar: "Já não se fazem mais homens como antigamente". Ainda bem! Porque eles estão mostrando um lado até então encoberto pela herança machista. Hoje é comum ver maridos que dividem as tarefas de casa, discutem a relação e cuidam dos filhos enquanto a mulher está no trabalho. Trata-se do homem beta, um termo emprestado da biologia, que significa o oposto do macho alfa, o líder de um grupo de animais. Enquanto o alfa é agressivo, exibe força e coragem, garante a caça e conquista as melhores fêmeas do bando, o beta é mais cooperativo e não faz questão de participar das disputas masculinas.

Armando personifica o homem beta que têm feito mais sucesso entre as mulheres. "Hoje em dia, tanto o homem quanto a mulher trabalham e dividem as contas para manter o padrão de vida. Não existe o provedor da casa", afirma Armando.

Essa nova postura do homem vai ao encontro do atual momento feminino."Desde que a mulher se libertou sexualmente com a pílula anticoncepcional e ganhou espaço no mercado de trabalho, as relações mudaram. Para acompanhar a nova mulher, o homem também precisa mudar", analisa a psicóloga Maria Helena Alcântara Lisboa, vice-presidente do Projeto Mulheres Inteligentes, do Rio de Janeiro. O que aconteceu, segundo ela, é que a mulher tomou algumas atividades antes exclusivamente masculinas e, agora, os homens começam a assumir tarefas femininas. "Um exemplo é o sucesso dos chefs de cozinhas", diz.

Meio termo
O perfil do homem vem mudando nos últimos anos: é mais atencioso, carinhoso, participativo e demonstra os sentimentos. "A mulher acha esse tipo de homem atraente porque desperta o interesse em ter alguém ao lado com quem possa contar", acredita Maria Helena.

O terapeuta especializado em relacionamento Sergio Savian, de São Paulo, no entanto, diz que não é verdade afirmar que a mulher só quer homem beta."¿Ela precisa mais de um provedor, mas às vezes quer um homem protetor, que tenha atitude e iniciativa." Segundo ele, estamos no meio de um caminho. "O homem está mudando e tentando se autoconhecer. Prova disso é que minha clientela no consultório mudou nos últimos anos, com maior procura masculina", afirma.

Para ele, só é necessário ter cuidado para não pode haver inversão de papéis, com o homem de avental cuidando das crianças sem batalhar o seu espaço. O equilíbrio entre beta e alfa é fundamental. "O homem precisa ter 'pegada', que é atitude forte e suave ao mesmo tempo, imprescindível para a conquista. A mulher gosta disso", explica Savian. Além disso, ele é movido a testosterona, hormônio masculino, responsável pelas características de disputa, conquista, agressividade.

Machismo
Por mais evoluída a sociedade, o ranço do machismo ainda persiste em algumas cabeças. Por isso, os homens beta podem enfrentar preconceitos de pessoas que tiveram uma educação baseada nesse tipo de comportamento. Normal, afinal estamos num momento de transição e pode haver a mesma estranheza ocorrida com as mulheres emancipadas dos anos 1960.

"Encontro sempre com uma amiga no supermercado e ela fica espantada porque estou fazendo compras sozinho. Conta para o marido dela, e ele brinca dizendo que eu não posso mais fazer isso, pois sua mulher quer o mesmo", conta Armando. "Os jovens curtem muito a parceria, o compartilhar dos casais modernos. Até os mais velhos podem mudar, como o meu marido, que agora até vai ao supermercado", conta Maria Helena.

Sem problemas de disputas com a mulher, Armando diz que tem flexibilidade de horário por ser empresário, por isso pode dar uma força na hora de cuidar dos filhos. "Além de tudo, é uma delícia. No caminho da escola, por exemplo, converso, brinco. É uma maravilha", conta.

Se antes a masculinidade era construída em cima do machismo, com ideais do tipo "não posso chorar para não ser mulherzinha", hoje o machismo está sendo questionado, como comprova o aumento dos movimentos gays e a crise dos homens. Os papéis eram muito definidos e se esperava um comportamento óbvio de cada um. "A mulher se libertou, agora é a vez de os homens aprenderem a olhar para si e ser autênticos, sem a obrigação de responder as expectativas femininas", diz Savian. Afinal ser homem é tomar posse de seu poder pessoal.

Fonte: Especial para Terra
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