Conga, Kichute e 'sneakers': veja tênis que marcaram épocas
O tênis sempre foi o símbolo do conforto e, de alguns anos para cá, se tornou também sinônimo de estilo. Criado em meados do século 19, surgiu ao mesmo tempo em que o esporte se popularizava e, mesmo no mundo da moda, os dois assuntos ainda caminham juntos. “Esse tipo de calçado ganhou mais notoriedade na década de 1980, no mesmo momento em que começou a se valorizar muito o corpo e a prática de esportes”, explica a professora e consultora de moda Fernanda Junqueira.
Nessa época, tênis simples como Kichute, Bamba e Conga caíram na graça do público e só perderam força na década de 1990, quando o mercado foi invadido por inúmeros modelos com design moderno e tecnologia de ponta. “No entanto, essas marcas voltam com força agora, por conta da febre retrô”, diz a professora.
Bateu aquela onda de nostalgia? Então, aproveite, porque o Terra, com a ajuda de Fernanda, Isadora Lopes, Valquíria Silva e e Ana vaz, listou 12 modelos e marcas que fizeram história nas últimas décadas:
Conga: lançado em 1959 pela Alpargatas, o Conga teve seu auge entre os anos 1970 e 1980. Com design simples e cores variadas, o modelo era muito popular e acessível. “Por ser de baixo custo, o Conga acabou sendo adotado por várias escolas públicas como parte do uniforme”, explica a estilista e blogueira do My Dress Code, Isadora Lopes. “Na década de 1990, acabou extinto no mercado por conta da concorrência com os tênis tecnológicos”, ressalta Fernanda. Mas, em 2002, a marca foi relançada com um apelo retrô, a fim de atingir um público mais ligado em moda.
Bamba: o Bamba era produzido no Brasil e estourou nos anos 1970 e 1980. “Era um calçado bem semelhante ao Conga, no quesito de design e preço. Bastante confortável, era muito usado por crianças”, conta Isadora. Segundo a consultora de moda Ana Vaz, o Bamba foi um dos primeiros modelos a serem customizados. Combinando com a época em que viraram febre, eram feitos em cores fluorescentes, em um estilo new wave.
Kichute: o Kichute misturava tênis com chuteira e virou mania entre os meninos em meados dos anos 1980. “Servia tanto para ir à escola como para brincar e jogar bola”, justifica Isadora. Além da funcionalidade, porém, existe todo um contexto histórico e cultural por trás da “chuteira mais popular e barata do universo”, como classifica Ana. “O Kichute nasceu na década de 1970, quando o Brasil acabava de vencer a Itália na Copa do Mundo do México, em pleno regime militar. Já na década de 1980, a Seleção Brasileira tinha ninguém menos do que Sócrates e Zico que, inclusive, foi garoto-propaganda do Kichute”, contextualiza Fernanda.
Le Cheval: em 1982, a Nike lançou o seu clássico modelo de cano alto, batizado Nike Air. Três anos depois, o tênis obteve ainda mais popularidade graças ao jogador de basquete Michael Jordan que, em parceria com a marca, lançou o Nike Air Jordan 1. Na mesma década, com Jordan e o basquete em alta, o Brasil ganhou o Le Cheval, sua versão do tênis mais cobiçado do momento. “Era um tênis barato e acessível, mas não tinha muita qualidade”, relembra Ana. No entanto, ao contrário do Nike Air, que até hoje é considerado um clássico da moda, o reino do Le Cheval não durou muito tempo. “Cópia de modelos importados, o Le Cheval logo saiu de cena e passou a ser visto como brega e de mau gosto”, acrescentou Isadora.
M2000: sucesso nas décadas de 1980 e 1990, o M2000 tinha ar futurista e virou febre entre os adolescentes da época. “Parecia ter saído do filme De volta para o futuro. O modelo era de cano alto, com língua enorme e amortecedor verde neon”, relembra Isadora.
New Balance: a New Balance foi fundada em 1906 e, em 1938, fabricou seu primeiro par de tênis para corridas, tornando-se referência no assunto nas décadas de 1950 e 1960. Em 1976, o modelo 320 se tornou o tênis de corrida mais vendido do mercado. Com isso, nas décadas de 1980 e 1990, segundo Ana, os jovens começaram a levar a moda esportiva para as ruas e o modelo se tornou comum também fora das pistas de corrida. “O New Balance era o ‘must have’ dos mauricinhos dos anos 1990”, diz Isadora. “Hoje, o modelo faz a cabeça de fashionistas que, com ele, criam um look retrô”, explica a personal stylist e consultora de moda Valquíria Silva.
Vans: a Vans surgiu em 1966, na Califórnia, fabricando modelos para skatistas. Nos anos 1980, o tênis se tornou um símbolo punk e passou a fazer parte do vestuário do rock alternativo. “Nos anos 1990, os modelos Slip on, Old Skool e SK8 foram reeditados em várias cores e estampas”, relembra Valquíria. Hoje, assim como outros modelos, o Vans passa por um revival e inspira a moda retrô. “Muitas pessoas ligadas em moda têm um par em seu armário como acessório básico”, explicou a consultora.
Ked’s: o Ked’s surgiu em 1916, mas, somente por volta de 1960, é que a marca começou a ganhar notoriedade. “Nessa época, o modelo de tênis foi visto em grandes ícones da moda, como Audrey Hepburn, Marilyn Monroe e Jackie Kennedy”, explica Isadora. Em 1987, o modelo voltou a se destacar depois de aparecer nos pés de Baby, a protagonista de Dirty Dancing. Assim, na década de 1990, o Ked’s se consagrou por ser uma versão mais feminina e delicada do tênis. “É um calçado extremamente confortável e charmoso”, justifica Ana. Em 2013, a marca volta ao Brasil com mais variedade de cores, estampas e texturas. “É retrô e as fashionistas podem misturá-lo com diferentes estilos, criando o efeito hi-lo”, sugere Fernanda.
Nike Shox: em 2001, a Nike inovou, mais uma vez, ao trazer ao mercado um modelo com nova tecnologia de amortecimento e estabilidade, o Nike Shox. Com inúmeras combinações de cores e design moderno, o tênis virou, por volta de 2005, símbolo de status, já que não tinha preço acessível. “Em 2008, o Nike Shox se tornou compatível ao iPod, o que permitia que o usuário monitorasse tempo, distância e ritmo do treino, além da quantidade de calorias queimadas. Essa parceria agregou ainda mais tecnologia ao modelo”, explicou Ana.
Coloridos: os tênis coloridos, de cano alto e com estrutura nada delicada, ganharam popularidade com influência de celebridades, como a banda Restart e o cantor teen Justin Bieber. Apesar de terem feito sucesso entre 2009 e 2010, os modelos fazem referências claras aos anos 1980, principalmente por conta da mistura de cores fortes. “Essa moda não ficou restrita aos pés e trouxe também um estilo de roupas e acessórios, como óculos, igualmente coloridos e descolados”, ressalta Valquíria. A professora de moda Fernanda e a consultora Ana ainda associam os tênis coloridos ao color blocking, tendência da mesma época. “Podemos dizer que esse tipo de calçado foi a versão jovem e despojada do color blocking”, diz Ana.
Sneakers com salto: desde que surgiram, em 2011, em um desfile da estilista francesa Isabel Marant, os sneakers com salto dividiram as opiniões. No entanto, mesmo longe de ser unanimidade, o modelo reinou absoluto em 2012. “É classificado como tênis, mas tem cano alto e salto Anabela embutido. A maior surpresa foi como a indústria brasileira reproduziu rápido esse tênis-sensação”, fala Isadora. Para Valquíria, a grande razão do sucesso dos sneakers é o fato de possuir salto e, mesmo assim, se manter confortável e despojado. “As baixinhas, em particular, adoraram a moda”, ressaltou. “É um modelo muito específico e como muitas marcas fizeram suas versões, ficou cansativo”, contrapõe Ana.
All Star: não é à toa que o All Star é praticamente sinônimo de tênis: a marca foi criada na década de 1910 e o sucesso começou quando, em 1920, a Converse contratou o jogador de basquete Chuck Taylor para promover os calçados. Até 1966, o tênis de cano alto era fabricado apenas em preto ou branco, no entanto, para “democratizar” a marca, foram criadas outras cores, para que outros times de basquete americanos pudessem usar também. Na década de 1970, bandas como os Ramones foram responsáveis por popularizar ainda mais o All Star, tornando-o símbolo de atitude e rebeldia. Vinte anos depois, o modelo voltou aos holofotes com o Grunge, combinado às camisas xadrezes de flanela que ícones do movimento, como Kurt Cobain, do Nirvana, usavam. “O All Star conseguiu estabelecer uma marca, que virou sinônimo de gente descolada. Continua sendo urbano e muito ligado à música, mesmo não tendo tido grandes mudanças em seu design ao longo de tantos anos”, explica Ana. “O All Star alia o estilo despojado a um custo acessível”, complementa Fernanda.