Desfile Victoria’s Secret Fashion Show voltou, mas por quê?
Marca anunciou uma edição do evento para 2023 após quatro anos de hiato em meio a polêmicas
Quatro anos depois, ele estará de volta! O Victoria's Secret Fashion Show (VSFS), espetáculo que costumava apresentar lingeries nos corpos de grandes modelos com muita música e entretenimento, foi recuperado pela marca.
O CFO da Victoria's Secret, Timothy Johnson, disse ao "Hollywood Reporter " no último sábado (4) que a grife visa "defender as vozes das mulheres e suas perspectivas únicas" com um novo formato para os desfiles.
Por ora, tudo que se sabe é que o evento será realizado no final do ano, portanto muitas questões seguem em aberto. Junto a elas, a polêmica: a sociedade precisava desse retorno? Confira abaixo quatro perguntas que nos levam a entender por que o desfile deixou de ser gravado e agora deve se remodelar.
Por que o show foi cancelado anos atrás?
O que parecia um fim foi anunciado em novembro de 2019. Na época, a L Brands, dona da VS, justificou que estava "descobrindo como avançar com o posicionamento da marca". Porém, o contexto é mais complexo.
Há anos, o desfile perdia relevância e audiência na TV, com números muito aquém dos registrados no início dos anos 2000 — dados do site TV by the Numbers apontam que a transmissão foi vista por 3,27 milhões de espectadores em 2018; em 2001, o pico foi de 12,4 milhões. Assim, o evento já não garantia muito lucro para a marca, o que explica os fatores econômicos.
No âmbito da imagem, outros problemas. Anos antes do cancelamento, o show passou a ser alvo de críticas do público por não acompanhar as discussões sociais. Desde sua primeira edição, em 1995, o Victoria's Secret Fashion Show destaca em seu casting modelos super magras e, em sua maioria, brancas.
Desse modo, no atual contexto social e diverso, o desfile passou a ser visto como ultrapassado e as ações dos gestores pouco ajudaram a reverter isso. Em 2018, Ed Razek era diretor de marketing da VS e sugeriu que modelos transexuais não deviam fazer parte do evento. A reação, claro, foi negativa, e o executivo precisou se desculpar publicamente.
Além disso, o movimento #MeToo, que denunciava assédio sofrido por mulheres na indústria da TV e do cinema, respingou na grife. O investidor americano Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual e pedofilia, foi amigo e funcionário de Leslie Wexner, então chefe da L Brands, o que ajudou a prejudicar a imagem da VS.
Terão novas angels com corpos diversos?
Quando o desfile chegou ao fim, a VS trocou suas angels — título já ocupado por tops que vão de Gisele Bündchen, Alessandra Ambrósio, Adriana Lima, brasileiras renomadas na área, a Kendall Jenner e Gigi Hadid, modelos e influenciadoras digitais da nova geração — por embaixadoras. Saíram os rostos e corpos padrão em asas de anjo, entraram as vozes que vendem estilo de vida e discurso.
Algumas estrelas que compõem a "VS Collective" são a atriz indiana Priyanka Chopra Jones, a modelo estadunidense Hailey Bieber e a tenista japonesa Naomi Osaka. A modelo brasileira Valentina Sampaio, mulher trans, também integra o grupo.
Com o retorno dos desfiles, espera-se que a VS não retorne ao antigo padrão, já tão inadequado, e abra espaço para a diversidade.
O que a VS pode aprender com o Savage X Fenty Show de Rihanna?
Em meio às críticas ao show da Victoria's Secret e à indústria da moda como um todo, Rihanna deu mais um passo em sua carreira como empresária e criou um espetáculo para sua própria marca de lingerie, a Savage x Fenty.
Já no quarto volume, o show disponível no Prime Video mistura música, dança e interpretação para realçar a sensualidade existente nos mais diversos corpos e nas mais diversas etnias. Não tem espaço para padrões.
Nesse e em outros negócios — de maquiagem, por exemplo —, Rihanna e sua equipe ouviram as demandas do mercado e da sociedade, tendo como resultado a ampliação do público-alvo de seus produtos.
Há espaço para o VSFS em pleno 2023?
A repercussão da notícia serviu para levantar a polêmica: alguém precisava desse retorno? Críticos de como a marca ajudou a perpetuar padrões pouco alcançáveis defendem que não, especialmente no cenário em que vigora a moda y2k, com suas referências aos anos 2000, e o culto à magreza extrema (se o leitor tem rolado o feed do Instagram nos últimos dois anos sabe que as celebridades têm ficado mais e mais magras).
Vale lembrar também que, em junho de 2021, o "The New York Times" publicou uma reportagem que confirmava a cultura de misoginia, bullying e assédio praticada por executivos da companhia contra funcionários e modelos. O combo não é bom.
Oficialmente, o que a marca sugere é uma reformulação. Resta esperar para ver se os movimentos já feitos pela grife, que tem explorado outros corpos em suas campanhas, serão um sinal de que, a partir deste ano, o show finalmente começará a ser inclusivo.