Do 44 ao 62: confira padrões de uma plus size no Brasil
Padrões de plus size dividem opiniões, porém, ter medidas equilibradas é uma exigência unânime
No último mês de julho, a australiana Robyn Lawley gerou polêmica ao postar uma foto sem retoques no Instagram. Os internautas questionavam as medidas da modelo, que nem de longe parecia se enquadrar na categoria plus size – pela qual ficou conhecida.
No Brasil, os padrões que permeiam este nicho do mercado da moda, por vezes, também são questionáveis. Afinal, que medidas definem uma modelo plus size?
Algumas agências ouvidas pelo Terra costumam trabalhar com manequim a partir de 44, como é o caso da Casting Model, de São Paulo. De acordo com a booker Luciane Barão, na agência eles trabalham com numeração até 54. “Na verdade o que verificamos é beleza”, afirma.
Na agência São Paulo Plus Size, os números vão além. O proprietário, Paulo Gibo, conta que o seu casting aceita mulheres que vestem até 62. “Não temos um padrão, mas o corpo tem que ser proporcional, tronco grande com pernas grossas”, afirma.
Já para Adilton Amaral, da empresa Haz Editora, que faz eventos nesta área, a maioria das grifes prefere a modelo de manequim 48. “Ou seja, o meio termo não é a 'falsa magra', mas também não se trata de uma gordinha muito grande, que suscite a apologia à obesidade. As medidas mais solicitadas seriam entre 110 e 116 de busto, entre 90 e 95 de cintura, entre 115 e 121 de quadril.”
Ele explica que o essencial é que a modelo tenha um corpo proporcional. “No caso de editoriais e catálogos, a altura não é um fator relevante. Modelos abaixo de 1,70m de altura são selecionadas sem problema. Já para desfiles e outros eventos de exposição ao público, as grifes preferem modelos mais altas.”
No entanto na Ford Models, que tem apenas cinco modelos no seu casting de plus size, as exigências são um pouco maiores. Patricia Gabriel, booker do departamento comercial da agência, conta que o padrão da casa vai do 44 ao 46. “Não é qualquer mulher que está acima do peso que pode ser considerada plus size, assim como não é qualquer pessoa magra que pode ser modelo”, ressalta.
Ela afirma que enquanto a média das tops regulares é de 90 cm de quadril, manequim 38, 60 de cintura e 88 de busto, as plus size geralmente têm cerca de 110 de quadril, manequim 44, 72 de cintura e 95 de busto. “A plus size é harmônica, é grande inteira. É apenas fora dos padrões, mas também não tem celulite aparente, tem a pele bem cuidada”.
Mercado em ascensão
Fora do País, o mercado mais forte dentro deste segmento ainda são os Estados Unidos, observa a Patrícia. Ela acredita que segmento tem força por conta da cultura alimentar e também por ter pessoas mais consumistas, que acabam impulsionando o surgimento de novos nichos.
Patricia firma que o padrão por lá é um pouco maior, girando em torno do manequim 48. Por esse motivo, ela observa que o caso de Robyn pode ser interpretado justamente pelas variações nas exigências de cada região e mercado. “Às vezes, só pelo fato de uma modelo ter uma das medidas maiores do que o padrão, como o busto, por exemplo, já pode ser considerada plus size”, analisa.
Adilton reforça. “Toda modelo que, visualmente, não é magra, pode ser considerada plus size, já que ela não seria escalada para participar de um desfile convencional. Atualmente as pessoas têm se assustado ao ver mulheres apenas com alguns quilos a mais, as tais 'falsas magras', sendo consideradas plus size. E isso choca, pois a ideia preconcebida é de que a plus size precisa ser uma gordinha com muito volume corporal”, pontua.
Ele afirma que isso acontece porque, diferente das modelos magras, que giram em torno de medidas bem restritas, as modelos plus size não têm um biótipo único. “Essa é a grande dificuldade da indústria da moda, atender a muitos perfis diferentes de mulheres que usam a partir do tamanho G. Há quem tenha mais busto, mais ombros, mais culote. Cada plus size tem suas próprias características”, reforça.
Para além das medidas, conhecer os próprios atributos também é fundamental para atuar na área. “Parece óbvio, mas é comum que a modelo plus size não saiba o que precisa valorizar na sua silhueta, e aquilo que precisa disfarçar. Quando a modelo passa a ter domínio do seu biotipo, ela se apresenta com mais segurança e atitude”, diz Adilton.
Corpo em dia
A modelo Bruna Gonçales, 26, é agenciada pela Ford e trabalha no segmento há cerca de 5 anos. Ela cita Robyn como uma de suas referências. “A Robyn sempre orgulhou o segmento, ela me encanta. Sempre a vi respeitando seu corpo e seus limites. Ela de fato não é gorda, mas é uma mulher grande. Se a moda é segmentada e a ela está nas medidas de uma manequim plus, ela é plus size e ponto”, afirma.
Tara Lynn, americana que faz parte da mesma agência, é outra fonte de inspiração. “Quando conheci o trabalho da Tara e percebi que ela, assim como eu, era curvilínea e vestia manequim 46, eu entendi que não importa muito o número na etiqueta da sua calça”, diz.
No entanto, os cuidados com o corpo seguem a rigidez de uma modelo padrão. Bruna se pesa duas vezes por semana mas, segundo ela, “mais para me observar do que para me arbitrar”. “Não basta só vestir acima do tamanho 44, assim como não basta para ser modelo convencional ser alta e magra”, reforça.
Bruna corre quatro vezes por semana e também pratica pilates. Apesar de gostar de cozinhar e de comer, segue uma dieta. “Mensuro quantidades e observo o que estou comendo. Tento não entrar no automático e comer simplesmente por comer.”
Ela conta ainda que é casada com um atleta medalhista olímpico e, com isso, a atenção com a alimentação é redobrada. Ela acrescenta na dieta frutas e legumes orgânicos, grãos integrais e carnes magras.
A modelo vê o mercado com esperança. “Vejo a consumidora encontrar um produto que ela se identifica e não comprando simplesmente porque ‘tem do seu tamanho’. É um movimento novo, mas com consumidores exigentes, opiniões formadas e vontade de encontrar o produto exatamente como o desejam. Isso é positivo!”, vibra.
Para quem pretende buscar um espaço na área, ela recomenda dedicação, estudo e atitude. “Uma coisa importante é não se colocar como desfavorecido. Representamos sim uma fatia forte do mercado e merecemos nos valorizar”, conclui.