Apoena volta ao Fashion Rio com homenagem à Turma da Mônica
Em 2008, a Apoena fez sua estreia no Fashion Rio unindo criações autorais, parcerias com associações de costureiras e bordadeiras e preocupação socioambiental. Tais assuntos já rondavam o mundo da moda, mas ainda não encontravam suporte na cadeira produtiva ou no varejo.
A marca, criada por Kátia Ferreira, nascida em Tocantins, mas criada em Brasília, participou do evento de moda carioca até a edição de verão 2010. Agora, retorna para o lançamento da coleção verão 2013/2014, que homenageia Mônica, personagem criada por Mauricio de Sousa há 50 anos. O Terra conversou com Kátia para saber como está a marca e antecipar um pouco do que será mostrado na passarela.
Terra - Por que ficou um tempo longe das passarelas?
Kátia Ferreira -
Tínhamos muitas questões para melhorar: nossa produção, qualificar mais pessoas e fortalecer nosso lado institucional, afinal a razão de existir da Apoena é ser uma marca coletiva de geração de renda que inclua economicamente mulheres em situação vulnerável.
Terra - Desde que deixou o calendário do evento, houve reformulações de datas a fim de atender melhor às demandas de mercado. Como viu essas mudanças?
Kátia Ferreira - Acho que a preocupação dos organizadores é sempre melhorar o mercado de moda brasileiro e as novas datas nos dão oportunidade de planejar mais o trabalho e melhorar a produção. Sem contar que me lembro bem o que é fazer um desfile em janeiro com fábricas de tecido, estamparias fechadas em dezembro em função de férias coletivas. Tudo realmente mudou para melhor.
Terra - A Apoena nasceu com a ideia de unir moda e sustentabilidade. Como essa relação vem evoluindo para você, na sua marca e no mercado em geral?
Kátia Ferreira - O mercado de moda no Brasil tem espaço para todos, afinal o bom da moda é que ela não é unanimidade. Temos hoje as marcas internacionais, os grandes grupos, os estilistas autorais e muita gente produzindo moda. E para nossa felicidade vem aumentado muito o número de consumidores que acreditam que suas escolhas fazem a diferença. Quando se falava, há alguns anos, em moda orgânica e sustentável, a limitação de produtos era muito grande, inclusive para nós produzirmos. Hoje temos a malha de bambu, tecidos orgânicos como algodão, seda e até mesmo fios para bordar e costurar. E o custo desses materiais também vem melhorando. Hoje as indústrias oferecem linhas orgânicas para fabricantes, pois também perceberam que a demanda cresce por estes artigos. Para nós da Apoena sempre foi o diferencial.
Terra - O que é ser sustentável para você?
Kátia Ferreira - Acredito na sustentabilidade não somente do ponto de vista de materiais, mas também de pessoas, preocupar-se com o outro, acreditar que o que eu tenho acesso e outros têm direito de ter. E que a perspectiva da sustentabilidade é mais ampla e maior. Recentemente, fui ao Recanto das Emas e estava esperando as mulheres e vejo ao longe um menino de uns 16 anos, mesma idade do meu filho, e pensei: por que eu tenho que achar que meus filhos merecem mais, ou melhor, que este menino? Ser sustentável é saber que as pessoas são diferentes, mas que dentro das diferenças possam encontrar as mesmas oportunidades.
Terra - A coleção que será mostrada no Fashion Rio homenageia os 50 anos da Mônica. Por que escolheu esse tema?
Kátia Ferreira - Bem, é uma justa homenagem ao Mauricio de Sousa e à Mônica, afinal quantas empresas comemoram esta idade? Mauricio e seus personagens fizeram parte da história da minha infância e é uma alegria fazer parte da história deles. Agora falando de moda, a tendência aponta para muito fetichismo e nele se encaixam comportamentos infantis, como roupas com referências de cartoons, super-heróis, universo infantil. Isso se traduz em ser divertido, leve, livre, bem-humorado. As modelagens também são inspiradas nos jovens que respiram tecnologia e o universo 3D. Sai a moulage e entra a modelagem plana, lembrando roupinha de bonecas de papel. Então, se é para ser divertido e falar de cartoon, a referência nacional é o Mauricio.
Terra - A moda também é para mulheres baixinhas, gorduchas e dentuças?
Kátia Ferreira - A moda é para todas as mulheres. Altas, baixinhas como eu e a Mônica, e também para quem tem problemas com a balança, afinal moda tem que ser democrática, nos deixar lindas e confiantes. A Apoena faz roupas para você sair por aí e as pessoas dizerem: você está linda! Mas vem novidade: alfaiataria - leve, colorida, divertida.
Terra - Como você traduziu os desenhos na roupa?
Kátia Ferreira - Modelagem simples, plana e estampas divertidas, flores (cara da Apoena), mas usamos as rosas do casamento da Mônica em várias cores, muito vermelho, baratas (a Mônica tem medo de barata, mas a da Apoena é pop, bordada e com aplicações de Swarovski), dentões, corações, beijinhos, pois a Mônica é uma romântica e tem relação tipo tapas e beijos com o Cebolinha. Ela é sexy, segura e abusa das transparências. Pensei na Mônica criança e imaginei como seria a Mônica mulher de hoje.
Terra - Que materiais, tecidos e complementos se destacam nas peças?
Kátia Ferreira - Malhas, gazar de seda, renda de algodão e organdi. Sobre esse último, a Bangu, que era a única fábrica no Brasil, fechou e comprei os estoques que fui encontrando em lojas pelo País. Para finalizar cristais aplicados para dar pontos de luz nas peças.
Terra - A marca sempre contou com o trabalho de associações. Como está essa divisão hoje?
Kátia Ferreira - A Apoena é uma marca coletiva e as associações trabalham conosco. A palavra de ordem aqui é compartilhar.