MET 2023: Por que look de Viola Davis protesta contra Karl Lagerfeld?
Artista usou vestido rosa pink Valentino no evento de moda em homenagem ao estilista alemão
Geralmente aguardado pelos amantes da moda por conta dos looks, o MET Gala ganhou maior repercussão por sua escolha de tema em 2023. Na edição realizada na segunda-feira (1º), o grande homenageado foi o estilista alemão Karl Lagerfeld (1933-2019), com a exposição "Uma Linha de Beleza".
Para os organizadores, ele foi "uma das forças mais cativantes, prolíficas e reconhecidas na moda e na cultura", segundo as palavras de Marina Kellen, diretora do MET. Mas essa definição ignorou o homem que também marcou seu nome na história por declarações racistas, gordofóbicas e até contra os direitos da comunidade LGBTQIA+, da qual ele próprio fazia parte.
A atriz e modelo britânica Jameela Jamil compilou algumas das declarações condenáveis:
- "Ninguém quer ver mulheres curvilíneas", disse o estilista, em 2009, à revista alemã "Focus".
- "Se não quiser que suas calças sejam puxadas, não se torne uma modelo! Entre para um convento, sempre haverá um lugar para você no convento", declarou, em 2018, à "Numero". Tal declaração foi dita no contexto do movimento #MeToo, contra assédio sexual, e respondia diretamente a denúncias de modelos assediadas por um estilista.
- O próprio #MeToo foi alvo da visão machista de Karl, que disse estar farto do assunto. "O que mais me surpreende são as estrelinhas que levaram 20 anos para lembrar o que aconteceu. Sem mencionar o fato de que não há testemunhas".
- "Eu conheço alguém na Alemanha que abrigou um jovem sírio e depois de quatro dias disse: 'A melhor coisa que a Alemanha inventou foi o Holocausto'".
Por essas e outras declarações, a homenagem foi tão questionada e criticada, mas não deixou de ser feita. Desse modo, o caminho que algumas celebridades convidadas encontraram para se posicionar foi protestando.
Os atos de Viola Davis e Lizzo
Viola Davis usou um vestido rosa pink, da marca Valentino. A cor era detestada por Karl Lagerfeld, que dizia para "pensar rosa", "mas não usar". Como se sabe que a artista, uma das poucas na indústria na posição de EGOT (já premiada pelo Emmy, Grammy, Oscar e Tony, algumas das maiores premiações dos Estados Unidos) é também uma ativista contra o racismo, o protesto ficou logo evidente.
O ato foi repercutido internacionalmente. No Brasil, uma das figuras que comentou foi o jornalista Rener Oliveira, editor-chefe da Nordestesse. Para ele, a atriz mostrou "como ocupar espaços que foram negados durante anos na moda e entretenimento". "É meio que o revenge dress em cima do túmulo", avaliou o que chamou de "deboche com muito estilo" em post feito no Instagram.
Procurado pelo Terra, Oliveira também reconheceu que o legado de Karl na moda "é extenso", mas ponderou que "se tratando de temas e assuntos que hoje são mais urgentes do que nunca, não há espaço para falas preconceituosas, machistas e até mesmo homofóbicas". "A moda é o retrato dos tempos, e que bom que hoje podemos levantar esses debates na busca de moldar a nossa sociedade e deixar para trás o que não é mais aceitável". Ele defende a moda enquanto comunicação e política.
Além de Viola, outras convidadas usaram rosa, como a top model Naomi Campbell. Outro protesto declarado partiu da cantora Lizzo, que costuma se posicionar contra a gordofobia.
"Ninguém quer ver modelos gordas. As mães gordas com seus sacos de batatas fritas ficam em frente à TV dizendo que as modelos são feias", disse o estilista uma vez.
Já vestida para o evento, Lizzo posou para fotos comendo batata-frita na cozinha de um restaurante. Uma nítida afronta ao homenageado da noite.