Paris: desfiles de Viktor & Rolf e Cacharel não empolgam
Deve ser de propósito: os organizadores marcam o fim de semana como dias de poucas atrações nos desfiles. Assim pensaria quem não se acostumou com os altos e baixos da criatividade, instabilidades que atingem tanto os grandes artistas plásticos, os compositores como os criadores de moda. Em uma estação, são brilhantes; na próxima, perdem a mão.
O que não podemos perder de vista é a certeza que ninguém chega a ser aceito como participante de um evento importante, se não tiver algum mérito. Há uma suposta crise econômica no mundo, o que complica a vida de quem atua no setor de vestuário. Nota-se que há menos loucura, busca-se mais segurança. O que significa: a alfaiataria, que disfarça defeitos do corpo; o preto, que suja pouco e chama menos a atenção; poucas estampas, porque marcam muito e comprimentos que favoreçam a maioria.
Até agora, o que vi em Paris neste sábado (29) confirma este resumo de estilos. A dupla Viktor & Rolf faz sempre um teatro no desfile, bota cenário rolante, escadas, cantoras. Vendem bem o perfume da marca. Mesmo com tanto marketing, há detalhes interessantes na coleção. O que desta vez ficou no uso de faixas metalizadas em prata, estanho, atravessadas do ombro, passando pela cintura, soltas pela saia. Algo meio Madame Grès, em plissados e também muitos longos bicolores – metade brancos, metade pretos. Este lance de meia roupa é favorito da dupla holandesa. Outra característica é o laço. Fininho, preto em estampas ou na embalagem do perfume. Grande, amarrado nas roupas, no cós das calças pregueadas. E por aí foi: metalizados prata e estanho, laços e bicolores. Como referência, anos 1980, década das calças pregueadas (nada de baggy, heim!)
Na Cacharel, deu saudades, muitas saudades da dupla Clements Ribeiro. O mineiro Inácio Ribeiro e a inglesa Suzanne Clements conseguiam dar um ar fashion para a marca, uma das mais comerciais da França. Não sei quem assumiu o lugar da criação. Seja quem for (é uma dupla, não reconheço) está bem devagar. Estampas localizadas azuis de folhas e galhinhos, que começam concentradas nos ombros dos vestidos ou nos quadris das calças e vão sumindo para baixo. Xadrez largo enviezado em calças e saias – aí entram uns laranjas e rosados. Estes padrões preenchem formas muito simples de vestidos de saias rodadas, algumas cinturas marcadas; cakças estreitas, camisão branco. Bem, toda semana de moda tem que ter seu lado comercial. Só para comparar, no Brasil, o desfile da Stroke, marca super comercial, no evento Alagoas Trend House, foi muito melhor do que este Cacharel.
Pelos comentários, soube que Martin Grant, que foi antes de Viktor & Rolf, também não valeu atravessar a ponte do Sena para assistir. Mas quem quiser ver algo interessante deve procurar as imagens de Junya Watanabe: moderno, esportivo, cheio de recortes e detalhes coloridos. Um dos destaques da semana, até agora.