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Plus size pode chegar a 80; no Brasil marcas populares vendem até 56

Cada vez mais, grifes especializadas e fast fashion apostam em tamanhos maiores e coleções variadas; veja em ensaio exclusivo como combinar peças e montar looks plus size modernos

1 ago 2013 - 08h04
(atualizado em 10/12/2013 às 14h08)
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Deixar para trás o combo preto, legging, bata e peças “saco de batata” há muito tempo era o sonho das mulheres que, hoje, consomem a moda plus size. Sem tradução para o português, a fatia do mercado que fabrica tamanhos 44 ao 54 antes fazia “tamanhos especiais” ou “tamanhos grandes”. O plus size pode começar no manequim 42 e se estender até o manequim 60 ou até o 80. "São raríssimos os casos, mas existem”, diz Renata Vaz, consultora de moda e diretora do Fashion Weekend Plus Size, evento que reúne grandes marcas especializadas duas vezes ao ano em São Paulo.

Apesar de já existir há décadas, a produção das roupas de tamanhos maiores tem se profissionalizado no País nos últimos cinco anos. Ainda é em lojas especializadas que se encontra grande variedade de peças plus size. No entanto, redes de fast fashion como Marisa, C&A, Renner e Pernambucanas já possuem linhas especiais, que costumam aparecer em araras identificadas como plus size. Também existem algumas multimarcas que vendem peças que chegam até tamanhos 48 ou 50, por exemplo, e a melhor maneiras de encontrá-las é procurar pelos manequins plus size nas vitrines.

Modelo dá dicas para usar peças plus size:

Com a dificuldade nas grandes lojas, a melhor opção é comprar nas empresas especializadas que, além de terem maior variedade de produtos, com mais opções de cores e modelos, oferecem também atendimento específico com vendedoras treinadas e se preocupam em garantir provadores mais espaçosos. “A meta em uma loja plus size não é vender, é conquistar a cliente. Uma gordinha satisfeita paga o preço que for para se sentir bonita. Não faz economia", afirma Renata Vaz.

No entanto, é exatamente a especialização em moda tamanho GG que incomoda algumas mulheres. “O preconceito vem de algumas clientes. Já ouvi mulheres dizendo 'eu não vou comprar em loja de gorda'", diz Maria Vi Figueiredo, blogueira e assessora de mídia. Maria procura marcas especializadas, porque sabe que assim encontra peças que lhe servem, mas se orgulha quando vê redes e lojas convencionais com peças acima do tamanho 44. 

O Terra mostra até qual tamanho é encontrado nas araras de marcas populares ou grifes bastante conhecidas no Brasil; confira abaixo.

Marca Tamanho
Pernambucanas até o 58
Malwee Grandes Abraços até o 58
Arthur Caliman  até o 56
Renner até o 54
Riachuelo até o 54
C&A  até o 56
Marisa até o 54
Hering até o 46
Iódice até o 46
Maria Valentina     até o 46
TNG até o 46
Luigi Bertolli até o 46
Forum até o 44
Zara até o 44

Para quem quer evitar o desconforto de entrar em uma loja de tamanhos maiores, comprar pela internet é uma solução possível e disponível. Apesar disso, o maior público das lojas virtuais vem das mulheres que não moram em grandes centros urbanos e têm maior dificuldade em encontrar peças de qualidade em suas cidades. Pensando nisso, em fevereiro de 2013, as sócias Sylvia Sendacz e Cristina Horowicz  criaram a Flaminga, uma loja online que vende diferentes estilos em tamanho plus size. Para incrementar o serviço, a empresa oferece ainda consultoria de estilo pelo telefone e disponibiliza uma sessão chamada provador, na qual é possível identificar o tipo de corpo.

“Sentimos que está cheio de gente mais "cheinha", louca para usar uma roupa bacana, estilosa, mas que enfrentam dificuldades em achar. Por vezes, veste-se aquilo que serve, mas não exatamente o que se deseja”, afirma Sylvia Sendacz, sócia-fundadora e diretora de marketing da empresa.

Muito além do pretinho básico

<p>"As mulheres plus size modernas querem o que as atrizes usam na novela", diz a advogada Vanessa Raya</p>
"As mulheres plus size modernas querem o que as atrizes usam na novela", diz a advogada Vanessa Raya
Foto: Divulgação

“As mulheres plus size modernas querem o que as atrizes usam na novela e para hoje. Elas desejam a última moda das revistas, usufruir tudo o que a moda oferece”, afirma Vanessa Raya, advogada e blogueira.

As empresas têm grandes desafios para realizar os sonhos das mulheres plus size, já que para garantir um peça de qualidade não é possível simplesmente transformar um manequim 38 em um 48. É preciso integrar tendências em peças que tenham caimento apropriado, garantam segurança na hora de vestir, disfarce as imperfeições e, principalmente, valorize as curvas e o corpo.

<p class="text" style="line-height:18.75pt">Marlucia da Silva é  assistente social e Miss Simpatia do Concurso Miss Plus Size Carioca 2011</p>
Marlucia da Silva é assistente social e Miss Simpatia do Concurso Miss Plus Size Carioca 2011
Foto: Divulgação

A maior dificuldade começa na modelagem, já que a diversidade de medidas dificulta a adoção de um padrão de numeração, regra que ainda não existe no Brasil. “Embora tenhamos várias mulheres que vistam manequim 48, os corpos delas são diferentes: algumas têm o quadril mais largo e cintura fina, outras têm mais bumbum, outras têm pernas muito grossas, outras têm mais barriga e menos quadril”, afirma Marlucia da Silva,  assistente social, professora universitária, modelo e Miss Simpatia do Concurso Miss Plus Size Carioca 2011.

Outro obstáculo é garantir que as peças tenham preços mais acessíveis, já que normalmente as confecções plus size são mais caras. Muitas modelistas são especializadas, o que eleva os salários, e gasta-se um valor maior com tecido. “Há mais sobras, não aproveitáveis. O tecido também tem que ser encorpado, para favorecer a silhueta plus size, o que também custa mais”, explica Renata Vaz.

Modelos plus size

A profissionalização que já é vista na indústria da moda plus size ainda está distante da passarela tamanho GG.  "Hoje toda gordinha acha que pode ser modelo", conta a modelo plus size e jornalista Sylvia Barreto, que recebe a maior parte dos convites para trabalho pelo Facebook. "Muitas marcas contratam pelo preço, não pela técnica das profissionais, e isso torna o cachê menor", conta Sylvia.

As modelos plus size em geral têm profissões paralelas, devido ao baixo valor dos cachês no mercado. Os cachês para um desfile de marca especializada em plus size custa, em média, R$ 150, enquanto uma grande rede como Pernambucanas, por exemplo, chega a pagar R$ 600. Já um dia de trabalho fotografando um catálogo de moda plus size custa, em média, R$ 1 mil, enquanto grifes maiores oferecem R$ 3 mil pelo mesmo trabalho.

Números

Segundo a Associação Brasileira do Vestuário, a ABRAVEST, o mercado plus size arrecadou cerca de R$ 4,6 bilhões em 2012, valor estimado de 5% do faturamento integral do setor.

A iniciativa de setorizar o mercado surgiu nos Estados Unidos, onde a população acima do peso cresceu muito nas últimas décadas. Aqui no Brasil, a tendência é parecida, já que segundo o Ministério da Saúde, em 2011, 48,5% da população brasileira estava acima do peso, com um percentual de 15,8% de obesos.

No entanto, não são apenas pessoas fora do peso que consomem esta moda, mas também mulheres mais altas, com bustos maiores ou pernas mais grossas que enfrentam dificuldades em encontrar boas peças em lojas convencionais. “De acordo com pesquisas do IBGE, a altura da população brasileira aumentou. Desta forma, uma mulher com peso normal, com 1,80m, pode usar perfeitamente um manequim 44, 46 ou plus size”, diz Renata Vaz.

Apesar de ter um mercado ávido em consumir e que deve registrar crescimento ao longo dos próximos anos, grandes grifes nacionais ainda não investem neste nicho. “Ainda é difícil para as marcas de moda voltadas para a classe A investirem em tamanhos maiores, pois o grande desafio do plus size é sair do catálogo e ir para a passarela", afirmam as consultoras de moda e imagem Fernanda Junqueira e Tatti Marques. "Isso já vai ser uma nova revolução, na cultura de moda, nos ideais de beleza”, projetam. 

Modelo é contra estereótipo: "sempre fui gorda e não sou simpática com todo mundo"
AFP

“Tenho mais glamour na vida de jornalista de turismo do que de modelo”, disse ao Terra Sylvia Barreto. Há um ano e meio, ela começou também a investir na carreira de modelo plus size, em paralelo à profissão de jornalista. Sylvia garante que a escolha não teve a ver com o suposto glamour que a moda oferece. Segundo ela, na rotina puxada, fotografar e desfilar com sapato apertado e vestido aberto acontece “toda hora”.

A carreira começou “escondido” no final de 2011, quando Sylvia participou do concurso Miss São Paulo Plus Size. “Não contei para ninguém, porque pensei que meus amigos iam me achar ridícula”. Mas, após vê-la na passarela, a família e os amigos se “empolgaram”. Em seguida, Sylvia levou o segundo lugar no Miss Brasil Plus Size e desfilou no Fashion Week Plus Size. Desde então, ela equilibra o site de turismo que mantém com as sessões de fotos e desfiles.

Além de ser garota-propaganda de uma marca especializada, ela afirma que a maioria do trabalho vem dos desfiles, que não dão muito retorno financeiro, mas “são uma vitrine”.

Vaidosa, Sylvia diz que os cuidados com a beleza não são novidade por causa da nova carreira. “Agora me preocupo mais em manter o peso, nem engordar, nem emagrecer por causa dos contratos fixos com as marcas. Não posso também ter muita celulite por causa dos desfiles de lingerie e biquíni”, diz. Para ajudar, faz drenagem linfática, mas não consegue abandonar os doces diários. O segredo? “Autoestima boa”. “Não dá para ser modelo sem ter autoestima em dia. Você leva não toda hora, é tratada como pedaço de carne”, conta.

Aos 29 anos, com manequim 48 e 97 quilos distribuídos em 1,70 m, o peso não é nenhum obstáculo para abalar a autoconfiança da paulistana. “Comecei a ver que as pessoas se preocupavam mais com meu peso do que eu. O homem que gostar de mim vai gostar por mais motivos do que ser magra”. E ser magra não é a intenção. “Não vou emagrecer. Faz tempo que tenho esse corpo e estou feliz”.

Nem sempre sua relação com o corpo foi tão positiva. “Na adolescência eu era paranoica, cheguei a usar 38. Dos 12 aos 18 anos, eu passava fome, tinha dias que tomava só um copo de leite com chocolate", conta Sylvia. "Depois que entrei na faculdade, fui engordando progressivamente, mas não tinha mais a insegurança da adolescência”, completa.

Mesmo 100% confiante com a aparência, os estereótipos de “gorda” incomodam Sylvia. Segundo ela, as marcas exigem que as modelos entrem na passarela sorrindo, para manter a fama de “gordinha é sempre simpática”. “Sempre fui gorda e não sou simpática com todo mundo. Acho isso um preconceito”.

Fonte: Terra
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