SPFW: estilista indígena faz manifesto contra marco temporal
O amazonense Maurício Duarte estreou na semana de moda paulista com desfile em que protestou contra a demarcação de terras indígenas
Na semana em que o Congresso imprime um derrota ao governo Lula para retirar poderes de ministérios como o do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, o estilista amazonense Maurício Duarte, pertencente ao povo Kaixana, localizado no Alto Solimões, fez sua estreia no SPFW, com um desfile que reflete sua origem e com um manifesto contra o PL 490, projeto de lei do marco temporal, para demarcação das terras indígenas.
Thelminha Assis, engajada em causas sociais, e a modelo tupi-guarani Dandara Queiroz cruzaram a passarela vestindo as peças da coleção "Tramas", inspirada nos trançados das cestarias próprias dos povos indígenas. No final da apresentação, Maurício entra de mão dadas com as duas. Modelos que desfilaram, também de origem indígena, levam cartazes contra o projeto de lei.
Peças de formas orgânicas, a maioria de algodão puro, em cores que vão do branco ao terra, com enfeites e acessórios feitos a partir das técnicas de 16 povos indígenas do Amazonas. "Falar sobre 'Trama' é falar sobre aquilo que construímos, como uma teia tecida pelo coletivo que somos. Mesmo sendo de diferentes povos, que carregam os mesmos costumes e compartilham características históricas semelhantes. Estamos lutando pelo reconhecimento e visibilidade, buscando que as pessoas conheçam nossas tradições e culturas, além dos meios midiáticos", disse Maurício Duarte.
Tanto o look de Thelminha quanto de Dandara, que no ano passado foi recordista de desfiles do SPFW, retratam o trabalho ancestral das cestarias. O de Dandara mostra ainda mais os formatos cilíndricos e circulares, originalmente encontrados em tipitis (cestos), luminárias e balaios, que remetem às memórias afetivas da infância do designer.
Entre as fibras utilizadas, que dão um formato mais estruturado a algumas peças, como as faixas que acompanham a chemise e uma saia corset, estão fibras de arumã. O tucum, fibra mais maleável, ganha a aparência de renda e aparece também em fios encerados com breu branco.
Um viagem pelo Brasil profundo e ancestral, que se torna tão necessário nesse momento em que os povos originários precisam ser reconhecidos e respeitados.