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"Moda é uma futilidade deliciosa", diz André Lima

26 jan 2011 - 11h11
(atualizado às 16h17)
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Ale Ougata

André Luis Cardoso Lima nasceu em Belém do Pará e, desde cedo, tem a exuberância como resgate dos tempos passados na região amazônica. A propósito, o exuberante não se restringe a algo escandaloso e megacolorido. Para André Lima, pode estar até na cor preta.

André Lima participa da SPFW desde 2001
André Lima participa da SPFW desde 2001
Foto: Divulgação

A marca de mulheres fortes e personalidades bem traçadas começa nas figuras de sua mãe (que era professora de matemática e português) e sua avó (costureira), responsáveis por despertar o interesse de André pela moda, em especial pela feminina.

Os tecidos, linhas e agulhas que estruturam o trabalho do belenense chamaram a atenção dos jornalistas em 1999, durante a Casa de Criadores, quando ele criou vestidos com tramas e cores diversas, tudo ecoado pela voz de Maria Bethânia. Em 2001, o estilista passaria a integrar definitivamente o line-up do principal evento de moda da América Latina, a SPFW.

Há poucos dias de apresentar sua coleção outono-inverno 2011, André Lima conversou com o Terra e esclareceu, de vez por todas, uma confusão que tem sido feita, "Nunca morei em Paris. Fiz aula com Marie Rucki (uma das mais importantes especialistas em moda contemporânea e diretora do Studio Berçot) aqui no Brasil". E para quem pensa que moda é futilidade, André é ironicamente certeiro. "Moda é uma futilidade deliciosa".

Como se dá o processo de criação? Existe um temfechado?

Não tem um tema específico. São várias ideias que chamaram minha atenção e do Carlos Cardoso (seu fiel escudeiro) na época da pesquisa. Estas ideias se transformam em imagens e, paralelamente, em experimentações em tecidos que viram silhuetas e finalmente peças de roupa.

Começamos repassando o material que pesquisamos, sem a necessidade de uma temática. Tudo tem de ocorrer instintivamente. Muitas vezes, vou reunindo as referências e o Carlos começa a escolher a cartela de cores.

O que é esperado no outono-inverno 2011 de André Lima?

Fluidez, algo que não fazia algum tempo. Estava trabalhando com a arquitetura, com peças estruturadas. Durante a coleção de verão 2008-2009 houve um namoro com a fluidez, mas passou. A estrutura era um desafio no meu trabalho, agora é outra. O que me é posto é a questão das estampas e a do caimento dos tecidos, a linguagem que eles carregam. Então, isso parece se tornar algo cada vez mais natural.

Na verdade, pode-se esperar uma mistura de elementos arquitetônicos com outros fluidos em uma mesma peça.

Qual é a sua mulher ideal?

Não existe. É um mix de mulheres ideais. São milhares, desde Carmen Mayrink Veiga até Madonna ou mesmo a Lady Gaga.

Mulheres bem díspares, não?

O universo feminino é muito curioso e mutante. Então, estas mulheres vão surgindo, porque minha pesquisa não deixa de ser sobre elas. É uma questão muito mais de atitude do que de cabelo ou maquiagem.

E a moda masculina, não te interessa?

Eu fiz durante um tempo, mas foquei no feminino.

Você que vem de Belém - PA tem algo da cultura amazônica que influência sua moda?

Basicamente a exuberância. É o maior traço da minha infância, coisas exuberantes. Preciso fazer algo que seja exuberante. Ao contrário do que muitos pensam, a exuberância não é uma aquarela, um pássaro, uma coisa escandalosa, megacolorida. Às vezes, ela está no preto.

O que falta na moda nacional?

Estrutura de varejo. Sinto que o varejo tem de acompanhar a evolução da moda em design e o que a moda brasileira representa. Acho que a cultura das lojas multimarcas no exterior é mais abrangente, menos focada no indivíduo e mais em uma escolha de apostas de tendências, de como deve se vestir para aquela época.

Tem vontade de fechar parceria com uma loja de departamento, fazer a chamada fast-fashion?

Com certeza. Seria muito interessante, não vejo problemas.

Preferência: verão ou inverno?

Eu tenho facilidade e uma linguagem muito própria de vestidos. Então, no inverno, é preciso reinventar certas peças que não foquem tanto no vestido. Isso torna a coleção desafiadora. Já no verão, quando tenho a atenção voltada aos vestidos, daí é uma delícia, principalmente porque é uma estação longa. Na verdade, são duas: o resort (ou Cruise collection ou pré-verão) e o verão.

Tem algum ritual antes da primeira modelo pisar na passarela?

Não tenho. Olho todas na fila, acompanho tudo. Sou muito perfeccionista. É um dia de muita concentração.

Fale um pouco como é este dia.

É meio réveillon. Rezo de manhã, vou para o atelier, faço provas de roupa, vou para a Bienal entre 15h e 16h. Às vezes, almoço no atelier, caso contrário, na Bienal (onde acontece a SPFW) mesmo. Depois, começo a observar a montagem do cenário, falo com a imprensa, checo a ordem de chegada das roupas.

E o pós?

Recebo as pessoas. Por ser um evento público, acaba misturando quem está ali te parabenizando porque achou a coleção incrível e quem está cumprindo um papel social, de ser simpático. No geral, sempre acredito na palavra das pessoas.

Depois vou para casa comer bem, encontrar os amigos da moda e fora dela e relaxar.

Para quem pensa que moda é futilidade, qual mensagem você deixa?

Que é isso mesmo. Moda é uma futilidade deliciosa. Uma vida sem futilidades deve ser horrível.

Fonte: Redação Terra
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