RS: fenômeno Gisele Bündchen alavanca garimpo por modelos
Depois do surgimento de Gisele, Horizontina virou quase uma capital de meninas e rapazes que sonhavam com as passarelas
A região Sul parece ser uma fonte inesgotável de talentos para o mundo da moda. Entretanto não são meninas nascidas em grandes centros urbanos, mas sim em recantos longínquos e isolados. Horizontina, por exemplo é uma encantadora cidadezinha de pouco menos de 20 mil habitantes no noroeste do Rio Grande do Sul que revelou o maior ícone da moda brasileira, Gisele Bündchen. Outras cidades pequenas como Erechim e Panambi revelaram respectivamente Alessandra Ambrósio e Carol Trentini, ambas descobertas pelo mesmo caça-talentos que encontrou Gisele.
“Até hoje é assim, a gente nota que essa região é muito forte. Se tu for em uma escola no interior encontra meninas com 1,80m de altura, magrelas, que tem o perfil para estourar (no mundo da moda). O pessoal quando vem das agências de São Paulo gostam de ir no interior, na colônia (área rural) que é onde estão as meninas com o perfil que eles buscam”, conta Pedro Corrente, que trabalha na agência de Dilson Stein o caça-talentos responsável por descobrir os três nomes que você leu no primeiro parágrafo dessa matéria.
A região de Horizontina e cidades próximas tem forte influência dos colonos vindos da Alemanha e da Itália, e isso se vê nos olhos e cabelos claros, bem como na estatura das meninas. Mas fora isso, não se sabe ao certo porque o Rio Grande do Sul produz mulheres tão bonitas.
Depois do surgimento de Gisele, Horizontina virou quase uma capital de meninas e rapazes que sonhavam com as passarelas. As apostas mais recentes são Marta Bez, que nasceu em Tuparendi (RS) e Laura Pigatto, de Santa Rosa, também no Rio Grande do Sul. Ambas foram descobertas por Dilson Stein.
Marta atualmente mora na Itália, mas já participou de campanhas para a Pernambucanas, H Stern, além de editoriais para revistas brasileiras (Boa Forma, Corpo a Corp) e para edições europeias de revistas como Grazia (espanhola e inglesa), Marie Claire (Espanha) e Elle (croata).
Laura foi aprovada por sete agências depois de um workshop para aspirantes a modelo, ocorrido em São Miguel das Missões no final do ano passado. Há três meses em São Paulo já fez trabalhos com fotógrafos renomados como Lorena Dini, Ronal Luv e Luciana Faria.
Mas o olheiro que encontrou Gisele também ampliou o alcance de suas buscas para fora do Rio Grande do Sul. Isso fez com que encontrasse talentos que hoje já despontam no mercado fashion. É o caso de Thairine Garcia, natural de Barão de Antonina (SP), descoberta em 2010.
Com 18 anos, ela integra o cast da agência Way Model, e desfilou para 12 estilistas na última edição do Madrid Fashion Week. Ela estrelou ainda campanhas de marcas famosas e desfilou para grifes como Giorgio Armani, Pedro Lourenço e Alexandre Herchcovitch. Ela é apontada pela mídia especializada como um uma Neo Top.
Diana Sodré foi descoberta na cidade de Baixa Grande, na Bahia, em 2011. Atualmente mora em Nova York e faz parte do seleto grupo de modelos da Victória´s Secret, conhecidas como Angels, do qual Gisele Bundchen fez parte.
Base familiar vira referência no mercado
Mas após o surgimento do fenômeno Gisele o mercado da moda passou por mudanças se comparado com o que acontecia nas décadas de 80 e 90. Com o boom de modelos brasileiras surgiram muitos caça-talentos que lançaram nomes com potencial no mercado. No entanto, a falta de preparo e base familiar desses meninos e meninas trouxe muitas decepções, fazendo com que as agências se retraíssem diminuindo a fatia brasileira no bolo da moda.
“Muita gente entrou no mercado e tu tens trabalhos muito complicados no meio. Por isso a gente trabalha mais com essa coisa de limpar um pouco a barra e explicar que é um trabalho, que tem que correr atrás... A Gisele, por exemplo, recebeu muitos nãos. Ficou muito tempo em São Paulo sem fazer nada. As pessoas tem uma visão imediatista: ‘vou virar modelo, quanto vou ganhar? quando vou para Paris?’ e a gente explica que não é bem assim. Tem todo um aprendizado....”, explica Corrente, dizendo que as modelos atualmente são estimuladas a terminar os estudos e aprender ao menos o inglês enquanto tentam alavancar a carreira.
“As agências começam a analisar essa questão da base familiar, não que os pais estejam juntos ali, ao lado, mas porque tem que ter uma base senão não vai para frente. Ela sai do Brasil e não dá certo, acaba voltando, até mesmo em São Paulo pode não dar certo”, conta Corrente, citando o exemplo de um jovem de Panambi, que antes de embarcar para Milão voltou para casa e ficou recluso no sítio do pai.