Mulher bonita sem seguir padrões: 5 maneiras de amar seu corpo como ele é
A busca pela perfeição impõe modelos inatingíveis; veja reflexões para lidar com a pressão estética e se gostar
Cirurgias plásticas, procedimentos estéticos, dietas malucas, insatisfação pessoal e luta contra a imagem no espelho em tempo de redes sociais. Cobiçar outros corpos e ser julgada por não se parecer com famosos que ilustram capa de revistas ou feeds editados pode ser desgastante para a maioria das mulheres.
O processo para se achar bonita e se amar sem tentar se encaixar em padrões pode ser uma longa jornada. Mas você não está sozinha.
Brasil: segundo maior na realização de cirurgias plásticas
Lutar contra a insegurança, aprender a gostar de si mesmo e se valorizar é um desafio. Principalmente no Brasil, o segundo maior na realização de cirurgias plásticas no mundo, perdendo só para os Estados Unidos. Em 2018 e 2019, os brasileiros estavam no topo do ranking e em 2020 caíram para segundo, de acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS, na sigla em inglês). Lipoaspiração; aumento de mama; cirurgia de pálpebra; abdominoplastia; lifting de mama e rinoplastia são as mais procuradas no país.
Em o "Mito da Beleza", lançado nos anos 90, a jornalista Naomi Wolf já discutia como esse culto à beleza e à juventude da mulher, a necessidade de apontar algo errado em nossos corpos era/é uma ferramenta de controle social e econômico, estimulado pelo patriarcado. Ter consciência desse contexto já é um primeiro ponto de mudança.
Símbolo e referência para crianças, principalmente mulheres, que cresceram nos anos 90, Xuxa, que completa 60 anos no próximo dia 27 de março, levantou o debate sobre a invasão dos corpos femininos recentemente. "Só vou fazer plástica quando eu quiser. Eu vou fazer o que eu quiser com o meu corpo a hora que eu quiser. Não precisa você (citando os haters) dizer que eu estou velha, porque eu sei. Eu tenho espelho em casa", disse durante participação no programa "Saia Justa", do GNT.
Com o avanço da emancipação feminina – ainda que de forma tímida – cresceram as buscas pelos termos autoestima e autoconhecimento. E não por acaso, é justamente por meio dessas ferramentas que surge exatamente a autoaceitação, a autoconfiança em ser quem você é, e como pode ser.
Com quase 63 anos, sendo 40 dedicados ao mercado de moda e beleza, Celso Kamura já viu muitas tendências e "regras" ao longo da carreira atendendo artistas e políticos, como a ex-presidente do Brasil, Dilma Rousseff (PT). Atualmente, ele comemora as mudanças que não mais propagam que "cabelo curto é só para magra e mulher 60+ só ficava loira e de cabelo curto".
"Ainda bem que eu estou vivendo para ver todos esses padrões se romperem. As mulheres e homens só devem seguir uma regra, a da felicidade. Se estamos felizes com o que estamos vendo no espelho, é o que importa. A indústria da beleza e da moda mudaram muito", afirma o cabeleireiro, que cita a personalidade como algo muito mais importante do que qualquer padrão.
"Hoje, o estilo e o lifestyle contam muito mais que qualquer tipo de cabelo ou formato de rosto. Ser livre para ser quem você quiser, esse é o lema que a gente tem que seguir. Tem cabelo crespo e quer alisar? Se for sua vontade, alisa. Quer cachear? Faz um permanente. Quer deixar grisalho? Tudo bem! Quer voltar a colorir o cabelo grisalho? Eba! As pessoas mudam, a gente muda com os anos e as experiências que vivemos. Vale ter cabelão longo grisalho, cortar franja em qualquer idade e ter o cabelo que você quiser ter! Liberdade é lindo", diz o embaixador criativo da Wella Professionals.
Estrias à mostra nas redes: beleza perfeita não existe
"Com as redes sociais e a edição mais fácil da própria imagem, as pessoas começaram a ter muito mais contato com imagens e aparências idealizadas, perdendo um pouco a conexão com a beleza real, que vemos", afirma Matheus Manica, médico cirurgião especialista em dermatocosmiatria, que faz um alerta justamente pelo tipo de mensagem que advém das tecnologias.
"As redes sociais acabaram sendo também um lugar de fala, onde as 'referências de beleza' da sociedade se mostram ao mesmo tempo 'gente como a gente', com estrias, celulite, gordurinhas, assimetrias e suas inseguranças. Tirar do altar aquilo que 'endeusamos' é fundamental para desconstruir esse mito da beleza perfeita, que é algo que simplesmente não existe", acrescenta Manica.
Há tempos a cantora Preta Gil levanta a bandeira da autoaceitação, mas conta que até outro dia evitava ir à praia para não ter seu corpo sem retoques alvo de paparazzi.
"Quem me vê hoje pode achar que sempre tive essa relação mais liberta com meu corpo, mas nem sempre foi assim. O processo de autoamor para mim e minha geração não foi fácil, sou de uma época em que não tinha outra alternativa a não ser o padrão. O único corpo possível era magro e sarado. Tentei me enquadrar nesses padrões, mas adoeci meu corpo e minha alma. Foi uma longa jornada até aqui. Passei a me amar, amo meu corpo do jeito que ele é. Sei que a maturidade me ajudou", desabafou a artista nas redes sociais. Atualmente, ela segue em tratamento contra um câncer no intestino.
O que é ser bonita? Autoconhecimento é essencial
O autoconhecimento é um passo fundamental para lembrar que todas nós temos defeitos e qualidades únicas. O mundo é um lugar muito plural: as pessoas definitivamente não são iguais. Então, qual é o sentido de tentar mudar para ser mais parecida com alguém?
Ter mulheres famosas, gordas e magras, pretas e brancas, endossando a bandeira da pluralidade é importantíssimo em uma cultura tão miscigenada como a brasileira. Além de servir como referência para quem está chegando, empodera e traz força.
"O que é ser bonita pra vocês? Eu começo: pra mim é se sentir amada, livre, valorizada e bem-sucedida. A gente aprende o que é bonito e o que não é, então eu acredito também muito numa ideia de beleza que, quando a pessoa se sente reconhecida, amada, prestigiada, quando a pessoa tem dinheiro para pagar as contas, tem uma boa comida."
"Lidem vocês com o desamparo emocional que se tem quando se vê uma mulher bonita, valorizada, prestigiada, bem-sucedida e, olha, ela não segue os padrões de beleza de vocês. É desestabilizador, né? Porque aí vocês têm que rever a vida de vocês", argumentou a atriz Bruna Linzmeyer, alvo de críticas na web por exibir axilas e pernas com pelos, além de namorar uma mulher.
Autoaceitação contra pressão estética
O médico Matheus Manica cita ainda o movimento Body Positive que tem como objetivo fazer mulheres valorizarem seu peso físico ou tamanho independentemente das pressões. "O importante é como elas se sentem com elas mesma", afirma.
Alvo de comentários por conta da sua forma física, do seu estilo e das mudanças naturais que acomete todos os seres humanos, Bruna Linzmeyer desabafou sobre a cobrança externa.
"É uma forma de pressão estética, em que você é julgada de forma agressiva por causa da forma que você está, como está o rosto, corpo, roupas. Minha cara está mais inchada, eu estou diferente. Obviamente você vai mudar, qual o problema? Dói esse tipo de coisa, não estou imune", disse em entrevista ao programa "Fantástico", da TV Globo.
Não precisa mudar seu corpo, mas se quiser pode
O Brasil é referência em números, tanto em qualidade quanto em quantidade de intervenções. Isso é uma característica cultural, países tropicais têm maior exibição de corpo e esse fato pode influenciar na estatística. O que é preciso analisar é o que tem motivado as pessoas a buscarem tratamentos estéticos.
Se algum interessa, você tem a liberdade para seguir o caminho que achar melhor, mas preze pela sua segurança e saúde sempre. Também é importante fazer aquilo que a deixa feliz.
"Qualquer tipo de tratamento jamais deve buscar a perfeição, mas sim melhorar a relação de cada pessoa com o próprio corpo. Nesse sentido, os tratamentos estéticos vão ter um resultado muito além da modificação na aparência, eles vão mexer na autoestima e no bem-estar dessa pessoa", finaliza o médico Manica.