Traumas podem trazer mudanças positivas, diz pesquisador
Tragédias naturais, acidentes aéreos, atentados terroristas, assaltos. Estes são alguns exemplos de situações que podem deixar traumas irreparáveis entre os sobreviventes que, muitas vezes, acabam presenciando cenas horríveis e perdendo entes queridos.
Em coluna do jornal britânico Daily Mail, o professor Stephen Joseph discorre sobre o assunto. Ele é co-diretor do Centro de Trauma, Resiliência e Crescimento da Universidade de Nottingham, na Inglaterra, e esteve envolvido em pesquisas ligadas aos sobreviventes de um dos mais impactantes desastres marítimos do século 20. O acidente com a balsa Herald Of Free, na Bélgica, em 1987, deixou 193 mortos. Alguns meses depois, os advogados dos sobreviventes entraram em contato com o Instituto de Psiquiatria de Londres, pedindo ajuda.
O professor observou que, imediatamente após o desastre, os níveis de sofrimento psicológico estavam altos e muitos sobreviventes desenvolveram desordens pós-traumáticas como memórias angustiantes, pesadelos dificuldades para dormir e de concentração. Como já era de se esperar, muitos lutaram para lidar com isso, e viram seu trabalho e suas relações serem impactadas. Três anos depois, a universidade aplicou uma pesquisa de acompanhamento. Os níveis de sofrimento psicológico tinham baixado, embora muitos deles ainda tivessem que se esforçar bastante.
Além disso, durante o estudo, muitas coisas inesperadas aconteceram, segundo relata Joseph. Ele percebeu que muitos sobreviventes falavam sobre mudanças positivas em suas vidas: o trauma ofereceu uma nova perspectiva. Explorando isso, os pesquisadores envolvidos adicionaram uma nova questão ao questionário: "sua visão sobre a vida mudou depois do desastre - e, se sim, mudou de forma positiva ou negativa?"
Os resultados foram surpreendentes, segundo relata o especialista. Embora 46% disseram que a visão sobre a vida tinha mudado pra pior, 43% afirmaram ter mudado para melhor.
O lado positivo do trauma
A partir destes resultados, Joseph começou a olhar para o lado bom do trauma. Quando comentou com os colegas a respeito, alguns retrucavam dizendo que não há nada de positivo em um trauma. Ele concorda que de fato não há. No entanto, o grande esforço feito para que as coisas melhorem pode fazer com que as mudanças positivas aconteçam.
Joseph explica que a maioria das pessoas não vive sabiamente, com a responsabilidade, compaixão e maturidade que poderiam executar. E o trauma serve como uma "chamada" para que elas reflitam sobre isso. Em todo caso, a ideia da mudança pós tragédias pessoais depõe contra os livros de psicologia, que dizem que eventos devastadores podem ser um gatilho para problemas como depressão e ansiedade.
Pesquisadores estimam que 75% das pessoas vivenciam alguma forma de trauma ao longo da vida, como uma perda, o sofrimento de um ente querido, o diagnóstico de uma doença, a dor de um divórcio ou separação, um acidente.
No entanto, traumas são inesperados e estão fora do controle. Muitos sobreviventes são assombrados pelas cenas do ocorrido pelo resto de suas vidas. A nova psicologia do "crescimento pós-traumático" não nega esse fato. Mas também reconhece que há o outro lado da moeda - a dor também pode representar novas perspectivas.
Essas mudanças foram encontradas em pessoas que presenciaram o ataque terrorista de 11 de setembro. Um estudo com 1.382 adultos mostrou que aproximadamente 60% relataram benefícios, muitos deles relacionados aos laços com familiares e amigos, que foram reforçados. Estudos similares foram feitos com pessoas que vivenciaram o ataque em Madri, em março de 2004, quando uma bomba explodiu em um trem. Outra pesquisa mostrou benefícios entre pessoas que sofreram problemas médicos traumáticos como câncer de mama e ataques cardíacos.
Segundo explica o professor, o crescimento pós-traumático é um campo de estudo relativamente novo. Mas as descobertas já existentes são intrigantes. Especialistas da área enxergam o comportamento como o oposto do estresse pós-traumático, mostrando que as pessoas podem crescer por meio da dor. Joseph reforça que, apesar de a indústria farmacêutica estar trabalhando no desenvolvimento de pílulas capazes de diminuir os sintomas de um trauma, é importante que, quando ele chegar, as pessoas tentem confrontar a realidade, estar abertas à mudanças e preparadas para lidar com o sofrimento com sabedoria.