Últimas chinesas com pés amarrados são clicadas para projeto
Jo Farrell passou oito anos registrando vida de idosas que tiveram dedos quebrados e pés amarrados como parte de uma dolorosa técnica chinesa de beleza
Há mais de 100 anos a prática centenária de amarrar os pés das mulheres para evitar que eles cresçam foi banida na China, mas ainda há mulheres vivas que mostram os resultados deste costume.
A dolorosa técnica ainda era submetida em garotas da área rural da China até os anos de 1940. Algumas destas meninas, últimas sobreviventes que passaram por isso, têm hoje entre 80 e 90 anos e foram retratadas no projeto da fotógrafa Jo Farrell.
Símbolo de status e beleza, a regra, conhecida como "pés de lótus", era praticada no país desde o século 10, mas caiu em desuso no século 20 e foi legalmente banida em 1911.
"Apesar de ser considerada uma barbárie, era uma tradição que permitia às mulheres encontrarem parceiros melhores", explica Farrell. Ela comenta ainda que candidatos a maridos e as sogras consideravam que as noivas que tiveram pés atados seriam boas mulheres, uma vez que sobreviveram à dor da técnica por anos e não reclaramaram.
O costume de atar os membros inferiores era aplicado nas garotas entre quatro e nove anos, época em que os pés ainda não estavam totalmente formados e principalmente no inverno, quando estavam dormentes por causa do frio. Os pés eram massageados com uma mistura quente de ervas e sangue de animais para deixá-los macios, tinham as unhas cortadas o máximo possível, os dedos eram enrolados para trás e para baixo e espremidos na sola do pé até quebrarem. Depois, eles eram atados com curativos e fitas mantendo os dedos para baixo. As bandagens eram removidas regularmente para limpeza e recolocadas ainda mais fortes.
Ao longo de quase mil anos, esta tradição deixou muitas mulheres com sérios problemas motores e de locomoção.
Depois que a técnica foi banida, um decreto governamental obrigou as moças que tinham os pés amarrados e tiraram as bandagens. "Todas as culturas têm formas de modificação corporal que surgem com a noção de beleza local, como aplicação de botox, implantes de silicone, tatuagem, remoção de costelas, tatuagens entre várias outras", diz a fotógrafa.
Jo Farrell passou oito anos fazendo visitas regulares às mulheres para sessões de fotos e entrevistas. No último ano, três delas morreram. "Elas são algumas das mulheres mais incríveis, gentis, generosas e compassivas que já conheci", afirma a fotógrafa. Farrell teve patrocínio de fundos arrecadados via internet para fazer o projeto.