Veja campanhas polêmicas que debatem ideais de beleza
A ideia foi considerada radical por alguns - usar mulheres "reais" com curvas reais em vez de modelos em propagandas de produtos de beleza.
A Campanha da Real Beleza, da Dove, foi lançada em 2004, e as vendas da marca cresceram, supostamente após as mulheres aparentemente se identificarem com as variações nas formas dos corpos. A campanha havia estabelecido o objetivo de fazer as mulheres se sentirem mais confiantes com seus próprios corpos.
A professora Emma Darwish (à direita na foto acima) apareceu na campanha original após responder a um anúncio na revista britânica Time Out. Apesar de ter se sentido um pouco insegura durante a sessão de fotos, Darwish diz que gostaria de ver mais mulheres reais representadas em campanhas de publicidade e em revistas de moda.
"Somos constantemente bombardeados com imagens da mídia que são simplesmente inalcançáveis para a maioria das mulheres", diz Darwish. "O mais preocupante é o efeito que essas imagens têm sobre nossos jovens", comenta.
Alguns especialistas acusaram a Dove de hipocrisia, por celebrar a beleza diversa ao mesmo tempo em que vendia um creme para combater celulite. Mas muitos consideraram que a campanha serviu a um propósito útil, mesmo após a dona da marca, a Unilever, ter também vendido produtos como o desodorante Axe e outros, com propagandas que usam noções muito mais estereotipadas de beleza.
Josh Sundquist
A imagem do ex-esquiador paraolímpico de 28 anos é um dos melhores exemplos do poder do contraste das fotos de "antes e depois". A divulgação da foto pelo Twitter levou a muitas discussões sobre sua proveniência e até "especialistas" em Photoshop sugeriram que ela podia ser falsa. Isso deixa Sundquist "frustrado".
Diagnosticado com uma forma rara de câncer ósseo aos 9 anos de idade, Sundquist teve sua perna esquerda amputada um ano depois. Quando criança, ele se sentia tão inseguro que tinha medo de ir a piscinas públicas e ser alvo dos olhares alheios.
Após se aposentar dos esquis, Sundquist queria perder alguns quilos e entrou no desafio Body for Life, um concurso que pede aos participantes fotos de antes e depois de um programa de condicionamento físico de 12 semanas. "Talvez o que seja interessante sobre minha foto é que, em termos de condicionamento físico, eu fiquei próximo ao que as pessoas imaginam ser o ideal do físico masculino, mesmo sem um quarto dos membros que eu deveria ter", diz Sundquist.
Apesar de a imagem ter sido feita em 2006, ela teve sua circulação na internet aumentada nos últimos 12 meses, após alguns blogs a redescobrirem. "Os comentários que ouço com mais frequência são de pessoas dizendo: 'Uau, se esse cara consegue fazer isso com uma perna, não tenho desculpas com as duas pernas'", diz Sundquist. "Então, acho que é realmente uma grande inspiração para as pessoas", comenta.
Para Sundquist, que hoje trabalha fazendo palestras motivacionais, aqueles que o acusam de alterar a imagem com Photoshop estão buscando desculpas para o próprio fracasso.
"Honestamente, acho que algumas pessoas olham para a foto e acham tão inacreditável, tão bom para ser verdade, que não querem admitir que é possível uma pessoa conseguir isso", diz. "Porque, se fosse possível, eles teriam a responsabilidade de ficar em boa forma também", afirma.
Lizzie Miller
Uma foto na página 194 de uma edição da revista americana Glamour catapultou a modelo Lizzie Miller, de 24 anos, para a fama. A imagem, que mostrava a barriguinha e estrias de Miller, ganhou fama mundial por mostrar "uma barriga real". "Foi uma loucura a rapidez com que a foto se espalhou, como fogo", diz ela.
Miller havia posado para a foto em 2009 e, apesar de ela aparecer apenas no final da revista, acompanhada de um artigo sobre imagem corporal, as mensagens que ela recebeu do público foram impressionantes.
"A mais doce que eu recebi foi a do namorado de uma garota me agradecendo, dizendo que ele sempre havia dito à ela que ela era bonita, mas que a namorada nunca acreditava nele", diz Miller. "Achei bonito que esse homem enxergasse a beleza de sua namorada, ainda que ela própria não pensasse assim."
Mesmo como modelo tamanho "G", Miller diz que ainda enfrenta dificuldades na indústria da moda e afirma que recentemente perdeu um trabalho após um cliente dizer que suas pernas eram grossas demais.
Miller diz ter escolhido ignorar os comentários negativos de personal trainers sugerindo mais abdominais para ajudá-la a entrar em forma. "Meu corpo nunca vai ser menor que um determinado tamanho. Eu sei que tenho ossatura forte e sou atlética, mas acho que a mídia não mostra os tipos diferentes de corpos", observa.
Isabelle Caro
Com 1,65 m de altura e pesando supostamente apenas 32 quilos, a modelo francesa Isabelle Caro posou nua para uma campanha antianorexia de uma marca italiana em 2007.
A face magra e o corpo macilento, corroído pelo problema alimentar, apareceu em outdoors e em jornais durante a semana de moda de Milão. Na ocasião, havia uma crescente preocupação sobre o uso de modelos excessivamente magras nas passarelas, e Caro queria chamar a atenção para o problema da anorexia.
"Minha anorexia provoca mortes", disse ela em uma entrevista em 2007. "É qualquer coisa menos beleza, o completo oposto. É uma foto sem verniz, sem maquiagem. A mensagem é clara - eu tenho psoríase, peito de pombo, o corpo de uma pessoa idosa".
A imagem, feita pelo fotógrafo italiano Oliviero Toscani para a marca Nolita, foi proibida pela agência de regulamentação da propaganda na Itália, mas provocou um intenso debate na internet.
Susan Ringwood, diretora-executiva da organização não governamental Beat, que lida com pessoas com problemas alimentares, diz que imagens como as de Caro podem fazer mais mal do que bem e que a tática do medo não funciona. "As pessoas com anorexia podem saber que correm o risco de morrer e podem achar isso menos aterrorizante do que ganhar alguns quilos", diz.
"Essas imagens que nós achamos chocantes não chocam alguém com a doença. Elas as estimulam e as motivam a ficar igualmente magras, se não ainda mais do que a pessoa na foto", afirma.
Caro morreu em 2010, com apenas 28 anos, mas a polêmica sobre sua imagem continua.
Demi Moore
A capa da revista Vanity Fair, que trazia a atriz Demi Moore grávida de sete meses, em 1991, mudou percepções ao redor do mundo sobre beleza na gravidez. O "efeito Demi" foi contundente, e, hoje, a pose feita pela atriz se tornou quase lugar-comum para mulheres grávidas.
Poucas décadas antes, as roupas para mulheres grávidas tendiam a ter grandes laços no pescoço para desviar a atenção da barriga, mas a imagem foi considerada uma declaração pública sobre a beleza da forma feminina na gravidez.
Ainda assim, há quem não esteja convencido da mudança. A escritora Antonia Hoyle, grávida de oito meses, afirma que muitas mulheres sentem que a gravidez está longe de ser "um estado esteticamente atraente". "Minhas pernas se parecem com salsichas e minhas mãos estão como luvas de borracha cheias", diz.
Em uma entrevista recente à Vanity Fair, a fotógrafa Annie Leibovitz (na foto acima, à direita), que fez o retrato de Demi Moore, disse que não a considerava "uma boa foto por si só", mas admitiu que a imagem definitivamente "ganhou vida própria".