Ieda Maria Vargas: “Envelhecer é uma honra”
Ela não fez dietas malucas, plásticas nem nunca passou horas na academia e hoje mantém a mesma elegância. Como ela vê os padrões de beleza?
Quando Ieda Maria Vargas foi coroada com o título de Miss Brasil, em 1963, ela escondia por baixo da sua maquiagem um olho roxo. É que antes do desfile a miss se machucou batendo bola com o primo, e precisou de muita base e corretivo para disfarçar o resultado de uma brincadeira.
Isso mostra como ela venceu o concurso de beleza de uma forma até despretensiosa. Por isso, meses depois, quando se tornou a primeira brasileira Miss Universo, mal acreditou. “Eu olhei para o lado, olhei para o outro, e fiz: eu?”, recorda Ieda.
O título de Miss Universo fez o mundo inteiro virar os olhos para a menina de 18 anos nascida em Porto Alegre. “Eu não estava preparada, mas a serenidade me ajudou. Até porque eu nunca pensei que fosse ganhar”, diz. Pois não só venceu, como o fez com maestria: a simpatia, a beleza única e o carisma conquistaram o mundo. Características, aliás, que os anos não apagaram. “Eu ainda sou a mesma Ieda”, afirma.
Uma beleza natural
Diferente das misses da atualidade, Ieda Maria não se preparou para a passarela. Ela foi considerada a mulher mais bonita do mundo sem nenhuma intervenção cirúrgica, nem um procedimento especial no cabelo e tão pouco ficou horas na academia. Ela, simplesmente, exibiu suas curvas naturais e venceu.
“Naquela época, os valores eram diferentes, nós não tínhamos uma beleza construída”, acredita, ressaltando que os padrões de beleza eram muito diferentes há 50 anos. “Quando as mulheres daquela época se despiam, ali estava a sua essência verdadeira”, fala.
Ieda mudou a história
Depois de rodar o mundo, conhecer mais de 20 países, Ieda foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) quando tinha 55 anos. Mais uma vez calma e serenidade a ajudaram a superar qualquer obstáculo. Abandonou Porto Alegre para ter uma vida mais tranquila em Gramado, na serra gaúcha.
Valeria Lerípio, 53 anos, é uma grande amiga de Ieda. “A maior beleza da Ieda é a interior. É uma das poucas misses que são lembradas até hoje. Aliás, ela mostrou para o mundo a beleza da mulher gaúcha, que antes estava na escuridão”, afirma.
Aos 72 anos, Ieda Maria preserva a mesma beleza. Mesmo com o passar do tempo, cirurgias plásticas ou intervenções estéticas nunca foram uma opção. Para ela, envelhecer é uma grande honra, e saber respeitar a passagem do tempo é um dos segredos para ser sempre bela.
“Hoje, parece que temos um padrão a ser seguido. Tanto que vejo muitas misses fazendo dezenas de plásticas para se adequar aos padrões do concurso”, fala, lamentando que a naturalidade tenha se perdido em meio a tantos estereótipos. “Qual dos rostos é completamente natural? Vejo telas pintadas, corpos que passaram por photoshop. A beleza da mulher é algo que ela deve carregar na sua essência, não buscar em uma sala de um cirurgião”, reflete.