Mulheres contam como é libertador assumir o cabelo branco
Veja por que ele não é mais sinônimo de envelhecimento, mas de atitude e segurança
Quem tem o cabelo branco precisa tingi-lo. Essa frase parece uma regra, certo? Pois não para um grupo de mulheres que, na contramão de quem insiste em afirmar que os fios prateados envelhecem, estão assumindo o tom natural cada vez mais cedo. Donas de personalidades fortes, elas encaram de forma pacífica a passagem de tempo e não querem esconder a idade – mas mostrá-la.
E foi a liberdade por trás da abolição da tinta que motivou a economista Elca Rubstein, 70 anos, a produzir o documentário Branco & Prata, que conta como é ser uma grisalha diante de tantos cabelos tingidos por aí. “Eu me descobri mais bonita e interessante de cabelo branco. Por isso, resolvi sair na rua procurando quem passava de cabeça erguida por quem pinta o cabelo", ressalta.
A produtora conta que adotar este estilo ainda não é uma opção fácil, é preciso assumir e segurar a escolha. “Não somos totalmente aceitas. As pessoas vão nos dizer para não fazer isso, que vamos parecer mais velhas, menos interessantes. Que não vamos mais ficar desejáveis. Por isso precisamos matar no peito os riscos e mostrar que é tudo ao contrário do que se pensa”, pontua. Elca conta que, antes do novo look, chegava a retocar a raiz a cada 10 dias.
Elca afirma também que quando as mulheres mais jovens passarem a adotar os brancos, o tabu será quebrado. “Conheço mulheres interessantíssimas que estão com o cabelo branco aos 40 anos. Elas certamente serão exemplos para as outras mais jovens. Esses dias questionei uma mulher sobre sua opção de abandonar a tinta e ela se limitou a me responder: por vaidade. E prontamente a convidei para participar do meu filme”, contou, ressaltando que o documentário está em fase de pós produção.
Para a socióloga, mestre em ciências sociais aplicadas e consultora em desenvolvimento humano e profissional Alexandra Boeira, 45 anos, o tabu não está em assumir os cabelos brancos; o tabu está em envelhecer. “Contudo este ato é muito nobre. Este, talvez, seja o maior desafio das pessoas na atualidade”, reflete. Para Alexandra, vivemos de forma exagerada o excesso de valores pela beleza exterior.
“Fico feliz quando me deparo com pessoas que se aceitam, e que, afinal das contas, sabem respeitar o conselho dos anos. Saber se dimensionar hoje é extremamente necessário", fala, completando que é bom e vantajoso ser belo, principalmente nesta sociedade de consumo excessivo, mas aceitar-se é libertador. “E a liberdade é um dos grandes valores que todos deveríamos buscar para ser feliz”, conclui.
Liberdade de escolha
Para Elca, as que deixam os fios brancos naturais incomodam tanto, que, de certa forma, denunciam aquelas que ainda pintam, confirmando a teoria do psicanalista Joel Birman, autor do livro O sujeito na contemporaneidade: “a atitude gera agressividade nas mulheres ligadas aos ideais de culto à juventude. As denunciadas se sentem desmascaradas diante do espelho”.
Além disso, a economista e produtora traz uma importante questão: cabelo branco nos homens os tornam mais charmosos e nobres – ou pelo menos é assim que as mulheres os veem. “Mas e quando os fios pratas aparecem na cabeça das mulheres, elas agem rápido para encobri-los, certo? Temos que mudar isso”.