Mulheres descobrem o esporte após os 50 e superam limites
Sair da zona de conforto, se exercitar e até mesmo competir estão entre os objetivos destas novas atletas
Quando Lizete Caye se inscreve em uma corrida de rua, os adversários da sua categoria já sabem que ela vai brigar por um lugar no pódio. Desde que ela se apaixonou por desafiar seus limites no asfalto, nunca chegou em casa sem uma medalha nas primeiras colocações.
Essa história seria comum entre milhares de mulheres que praticam esporte se não fosse o fato de Lizete ter começado a suar a camisa depois dos 60 anos, justamente por estar com problemas nos ossos. Hoje, aos 63, comemora o seu melhor tempo: 5 quilômetros em 25 minutos. “Eu só vou parar quando as minhas pernas não aguentarem mais”, garante.
Ela levava uma vida completamente sedentária e, quando foi diagnosticada com osteoporose, precisou iniciar uma rotina de exercícios. Para Lizete, o esporte é a melhor terapia que se pode ter, independentemente da idade.
“A gente descobre que pode se desafiar a vida inteira e é exatamente isso que ele nos propõe”, fala, lembrando que os 60 anos não significam dar a largada em desvantagem. “Inclusive eu sei que tenho mais fôlego que muita menina. Também já perdi o primeiro lugar para uma senhora de 70 anos”, conta, ressaltando que a grande magia de competir é essa: surpreender e ser surpreendida.
Quem também descobriu no esporte uma forma de viver melhor foi a aposentada Ilsa Breitnbach, 71. Ela conta que fazia hidroginástica, muito mais motivada pelas amizades da piscina e pelo carinho que tem pela professora. Mas ainda não estava satisfeita. Os exercícios dentro da piscina a instigaram a enfrentar um medo que carrega desde a juventude: o de mergulhar. Por isso, há duas semanas, está praticando natação e já comemora o fato de pôr a cabeça dentro da água. “Eu gosto muito de ir para a praia. Quando era mais nova, ficava brincando entre as ondas, mas fui perdendo a coragem”, confidencia.
Diferente de Lizete e Ilsa, Miriam Terezinha Ferraz, 68, tem o esporte no sangue. Ela, que chegou a integrar a seleção juvenil brasileira de vôlei, nunca ficou muito tempo longe das quadras. “Uma vida inteira dedicada ao esporte me fez uma pessoa muito mais saudável”, garante. Ela lembra que sempre deu um jeito de colocar a atividade física nos intervalos da agenda de mãe. E como a fruta não cai longe do pé, Miriam acompanhou suas duas filhas em competições de vôlei por todos os lados. “Quando não estava dentro de quadra, estava na arquibancada, torcendo”, fala.
Ao se aposentar, Miriam decidiu descansar, certo? Lógico que não! Ela passou a ir todos os dias de bicicleta até uma academia para fazer ginástica. Não satisfeita, afinal, ela é uma competidora nata, passou a integrar um time de câmbio, espécie de voleibol adaptado. O que começou com uma brincadeira hoje é coisa séria. O time da aposentada disputa (e ganha) competições reconhecidas pela federação gaúcha do esporte. “Minha categoria é a sênior. Na equipe temos uma senhora de 90 anos que entra em campo e arrasa”, conta.
Saindo da zona de conforto
Para a educadora física Cristiane Reichert, especializada em atividades para terceira idade, o esporte permite que as pessoas se redescubram. “Eu acho maravilhoso quando vejo pessoas acima dos 50 anos se apaixonando por alguma atividade. Muitas procuram pela saúde, por apresentarem algum problema, mas sou sempre surpreendida por uma grande maioria que quer mesmo sair da zona de conforto”, afirma.
Conforme ela, as mulheres não querem mais se aposentar e ficar em casa. “Elas querem desafios! Aprender a nadar, por exemplo, ou fazer exercícios aeróbicos para se prepararem para uma grande viagem”. Cristiane explica que a prática esportiva só traz benefícios ao corpo e à mente. “Envelhecer todo mundo vai. A forma que vamos enfrentar o passar dos anos é que faz toda a diferença. Aquelas que se propõem a isso serão surpreendidas por elas mesmas”.