Tatuagem no olho pode causar cegueira, alerta especialista
Segundo oftalmologista, técnica pode trazer vários problemas para a visão; para modificador corporal, os riscos são apenas estéticos
Vale tudo para se destacar na multidão? Para os adeptos da modificação corporal, a resposta é sim, e uma tendência vem chamando a atenção dos especialistas: a eyeball tattoo, ou ainda a tatuagem no globo ocular.
O modificador corporal Rafael Leão, 33, de Jundiaí, aplica o procedimento desde 2011, e já pigmentou os olhos de 42 pessoas. “Meu aprendizado foi autodidata. Não existem cursos para a modificação corporal”, conta.
Para Richard Yudi Hida, chefe do setor de Catarata do Departamento de Oftalmologia da Santa Casa de São Paulo, este tipo de tatuagem não é recomendável. “As complicações podem ser desde uma conjuntivite química, alergia, infecção do globo ocular, perfuração ocular, descolamento da retina e uveíte até a cegueira irreversível”, alerta.
O especialista reitera que qualquer procedimento invasivo nos olhos tende a oferecer riscos, que “são aumentados quando se realiza o procedimento com indivíduos sem treinamento ou quando se usa um produto sem aprovação dos órgãos reguladores locais”.
De acordo com Richard, outro ‘contra’ é a ausência de estudos sobre o uso deste produto em longo prazo e ou sobre a sua toxidade.
Ele afirma ainda que a tinta utilizada não é regulamentada pelos órgãos responsáveis para uso nos olhos. “Se for injetado em camadas mais profundas dos olhos, provavelmente causará cegueira irreversível súbita”, acrescenta.
Os adeptos, no entanto, parecem não estar preocupados com os riscos, e basta uma busca rápida na Internet para achar fotos de pessoas que apostaram na tendência e ostentam olhos nas mais diferentes cores.
Rafael, por sua vez, afirma que desde quando começou a fazer este tipo de tatuagem sabia dos riscos da técnica irreversível. Uma das preocupações do modificador corporal é o nível de maturidade do cliente, para evitar os arrependimentos. “Eu procuro fazer em pessoas com mais idade e com um rumo tomado na vida. Sempre explico os prós e os contras, inclusive que junto aos olhos coloridos vem a repressão e o preconceito da sociedade”, afirma.
Para ele, o único risco do procedimento, que custa em torno de R$ 1500, é estético: o excesso de pigmento pode causar o vazamento e trazer como consequência manchas abaixo dos olhos.
O profissional conta, inclusive, que uma de suas clientes teve este problema e, para resolvê-lo, precisou recorrer à maquiagem definitiva no tom da pele na região manchada.
Procedimento
De acordo com Rafael, o procedimento não é dolorido, mas traz a sensação de incômodo. A pigmentação utilizada é diferente da aplicada em tatuagens comuns e, segundo o profissional, se espalha mais facilmente. “É totalmente diferente da técnica da tatuagem.”
Ele explica que são feitas três aplicações, com uma agulha bem fina, na conjuntiva (membrana que tem a função de proteger o globo ocular). Os pigmentos se espalham em algumas horas.
Os cuidados após o procedimento são feitos com soro fisiológico. Além de lavar de hora em hora, o especialista recomenda que a pessoa evite a luz solar nos próximos dois dias. “Algumas pessoas sentem um pouco de ardência e dor de cabeça nos primeiros dias."
Como oftalmologista, Richard não recomenda a prática. “Este procedimento não é liberado pelos órgãos controladores e reguladores da saúde em nosso País, e também são condenados por órgãos supremos da oftalmologia brasileira, como o CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) e a SOB (Sociedade Brasileira de Oftalmologia), devido a falta de evidência na segurança do procedimento”, finaliza.
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