Beth Goulart: "Arte faz sonhar que um mundo diferente é possível"
A atriz e autora conversou com exclusividade sobre seu novo livro e possível retorno à TV
"Para que serve a arte?" A resposta para essa pergunta é complexa e causa discussões de décadas em vários cursos de humanas, já que não há resposta definitiva. Para Beth Goulart, atriz, dramaturga, cantora, membro da Academia Brasileira de Cultura e ganhadora de diversos prêmios por suas performances - que incluem ninguém menos que a da lendária escritora Clarice Lispector -, arte é uma forma de expressão e amor.
E Beth ama de muitas formas, já que, além da carreira de atriz, ela também é escritora. No dia 27 de novembro, ela lançou seu segundo livro, O que transforma a gente? - Breves reflexões para mudanças profundas, com uma sessão de autógrafos em São Paulo que reuniu diversos artistas. Em entrevista, Beth explicou suas motivações para a escrita, fez um balanço de sua trajetória e disse o que pensa sobre voltar a atuar na TV.
Beth, o que podemos esperar do novo livro?
"Espero que tenhamos uma troca interessante de ideias e de compreensões. Todo livro nos leva para esse lugar da escuta interna, um lugar especial para perceber nossos sentimentos e como eles podem ser nossos guias diante da vida e de nossas escolhas. Penso que saber ouvir a si mesmo nos acorda para agir diante das transformações do mundo, nos estimula a melhorar. Transformamos nossa realidade todos os dias pelos acontecimentos e podemos mudar o que está à nossa volta com atitudes diferentes e um novo olhar. A autotransformação começa com cada um de nós. Eu estou muito feliz de poder, mais uma vez, propor esse diálogo silencioso com meus leitores. É uma conexão de almas que se estabelece através das palavras e de algumas reflexões diante da vida. O tempo nos faz acumular histórias e experiências, e acho que a escrita será uma forma de poder compartilhar o que aprendi."
Você já é uma atriz renomada. Quando a escrita chegou na sua vida?
"Ela chegou muito cedo. Eu escrevo para elaborar o que sinto desde minha adolescência, em um processo muito introspectivo, uma necessidade de ouvir a minha alma, na dança poética da percepção do mundo. Como atriz, aprendi logo a valorizar cada palavra como um universo de possibilidades, a conhecer autores que se expressavam e tocavam o coração com a beleza, o horror, a intensidade, a inteligência ou a sutileza da vida. Como sou uma apaixonada por literatura, escrever acabou sendo uma extensão de minha expressão artística. Além dessa escrita mais íntima, comecei a fazer dramaturgia e o contato com grandes autores, como Nelson Rodrigues e Clarice Lispector, foi um grande estímulo para exercitar minha própria fala, para aceitar o desafio da escrita e propor temas para reflexão. Aprendi com muitos mestres e posso compartilhar esses aprendizados, é gratificante e quero seguir fazendo."
Agora com o livro no mundo, quais serão seus próximos projetos?
"Estou com muitas saudades do palco e da TV. Representar é minha vida, retornarei aos palcos sempre que a ocasião se apresentar e projetos não faltam, mas ainda é cedo para divulgar. Tenho um filme para ser lançado, mas já estou avaliando outras possibilidades."
Fazendo um balanço de toda a sua carreira, qual o primeiro sentimento que te vem?
"Amor. Sou uma apaixonada pela arte de representar, pelo teatro que acorda os seres humanos, faz deles criadores capazes de sonhar um novo mundo. Creio no encontro insubstituível de um ser humano diante de outros, para contar suas histórias. Acredito que a arte salva o homem da barbárie, nos ajuda a rirmos de nós mesmos. Quando trazemos personagens de outros tempos para aprender com o que foi vivido, é para não se repetir ou para valorizar o que foi feito e replicar comportamentos.
Acredito numa arte que faz o ser humano buscar novas saídas, com a esperança de que podemos mudar o final de nossa história. Acredito no momento mágico do cinema que nos leva para qualquer universo e nos faz viajar sem sair do lugar. Amo a TV que se comunica com todas as pessoas dentro de suas casas e tem o poder de interagir em seu cotidiano. Sou uma artista, na acepção mais profunda do termo, sou uma vocacionada e aceitei o chamado da arte como um sacerdócio para ser quem sou. Só se faz arte verdadeira quando se ama muito!"